quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017




"- Muita gente imagina um verdadeiro amigo como aquele que nos aceita como somos. Mas essa convicção é um lixo tóxico. - Fez um aceno de mão para afastar a ideia. - O miúdo que trabalha no drive-through no restautante local de fast food aceita-vos pelo que são, porque não se interessa minimamente por vocês. Mas um amigo verdadeiro tem-vos em maior conta. Um amigo verdadeiro faz sobressair o melhor que há em nós. - Jones espetou a cabeça para a frente e inclinou-se sobre a mesa, como se fosse dizer-lhes um segredo. - Um grande amigo dir-vos-á a verdade... e um grande amigo sensato incluirá uma dose saudável de perspectiva - disse em voz baixa.

- E o que é que devemos fazer? - perguntou Barry cautelosamente.

- Apenas responder a umas perguntas e ouvir. Poderá decidir se é verdade ou não - respondeu Jones.

Jan e Barry trocaram olhares, mas antes que algum deles pudesse falar, Jones avançou.

- Bom, então, estão com problemas conjugais.

Jan abriu a boca de espanto. Barry inclinou-se para a frente, chocado e perguntou:

- Como é que pode saber uma coisa dessas?

- Toda a gente sabe - respondeu Jones.

Os Hanson pareciam chocados.

- Toda a gente! - exclamou Barry num soluço. - Como?

Jones sorriu delicadamente.

- Porque são casados. Quando se é casado, esse é o tipo de problemas que surgem.

Jan e Barry estavam sem palavras. O que o velho acabara de dizer era tão verdadeiro que parecia uma tolice. Aliás, Jan não conseguiu evitar retribuir o sorriso a Jones.

- E a sua ideia é...? - inquiriu.

Jones, mal conseguindo conter uma gargalhada, disse: 

- Bom, ainda não é altura de ir ao cerne da questão, mas se tivesse de dar uma opinião agora seria de que entendessem que todas as pessoas, todas as vidas, ou estão em crise, ou a sair de uma crise, ou a encaminhar-se para uma crise; o casamento pode ser uma extensão natural disso. Queria que soubessem que as coisas não são tão más como parecem. Nunca! E nesta questão em particular, vocês não são diferentes de um bilião de outros casais. Mas, como de costume, falta-vos perspectiva.

- Minha jovem - disse Jones, delicadamente, a Jan -, o seu marido ama-a mesmo. Aliás, acredito que a ama muito, mas o dialecto que ele usa para comunicar é de palavras de aprovação. É o único dialecto que ele entende. E só ouvindo palavras de aprovação é que ele se sente amado. - Infelizmente, a forma como nos sentimos amados é, geralmente, a mesma forma como exprimimos o amor. Portanto, o seu marido fez tudo o que podia, repetidamente, por intermédio de palavras, para lhe dizer quanto a amava. Mas você nunca entendeu, porque não aprendeu o «dialecto» com que ele tentou comunicar esse amor. O dialecto que você usa é o dos favores e actos, percebe? - Meu jovem, disse para Barry -, o mais desesperadamente que pode, a sua mulher tem estado a tentar transmitir-lhe o seu amor fazendo coisas por si. Também está desesperada para que lhe diga «amo-te», fazendo coisas por ela! Mas como não entendeu o dialecto dela, esses favores e actos não parecem importantes para si e ela sentiu que não era amada." - Andy Andrews

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