domingo, 5 de março de 2017




"(...) - Estou aqui para lhe dar más notícias - respondeu. A seguir inclinou-se para a frente e disse: - Vai morrer, em breve. 

Henry estava já num tal estado que a sua reacção física foi mínima, embora as suas entranhas gritassem e se debatessem para deixar aquele homem e aquele lugar. Porém, murmurou:

- Não percebo.

- A vida é um sopro, uma brisa passageira, uma erva verde e vibrante durante um tempo, que acaba por mirrar, morrer e desaparecer. Em breve estará morto. E depois do funeral, os amigos de Henry Warren e a família irão reunir-se para comer frango frito e pudim de banana. Dirão sobre ele o mesmo que dizem sobre qualquer outra pessoa com quem não se importam. Porquê? Porque a vida é como um jogo de Monopólio. Pode ser dono de hotéis em Broadwalk ou pode alugar casas em Baltic Avenue, mas no fim, tudo acaba na caixa. A geração seguinte vai tirar de lá toda a tralha e jogar com ela ou discutir por causa dela. 

»Meu filho, ouvi-o falar muitas vezes em «ter olhinhos», mas tem de ouvir o que lhe digo e que é o seguinte: ter olhinhos, que é aquilo que tem em mente, está a levá-lo a uma vida desesperada de sofrimento e trevas.

À medida que ia ouvindo, o nevoeiro que Henry tinha na mente ia-se dissipando. Embora parecesse incapaz de desviar o olhar dos olhos do velho, ouvia e entendia cada palavra que Jones dizia.

- Disse que em breve eu estaria morto... - começou cuidadosamente.

- Foi apenas um isco para captar a sua atenção - retorquiu Jones. - Mas, é uma perspectiva interessante sobre a vida, não acha? E não é menos um facto absoluto no seu caso do que no caso de quantos o rodeiam. - Jones fez um gesto com a mão, abrangendo toda a gente que estava à vista. - Também eles estarão mortos, em breve. Aliás, pelos anos de vida de um cão, a maior parte destas pessoas estão mortas! - acrescentou com uma piscadela de olho.

Henry abanou a cabeça como que para aclarar as ideias.

- De que é que estamos aqui a falar? Ainda não entendi.

- Já sei que não - disse Jones com um sorriso amável. - Vamos ver se conseguimos esclarecer algumas coisas. - Fez uma pausa e depois perguntou: - Já ouviu dizer: «Não te rales com pequenas coisas»?

- Já - respondeu Henry.

- Bom, estou aqui para lhe dizer que é melhor ralar-se. Sabe, são as «pequenas coisas» que dão maior dimensão à nossa vida. Muita gente é como você, meu jovem, mas a sua perspectiva está distorcida. Ignoram as «pequenas coisas», afirmando ter olhinhos para as coisas grandes, sem entenderem que as coisas grandes não são constituídas por outra coisa senão (está preparado?) pelas pequenas coisas.

»Já alguma vez foi mordido por um elefante? - continuou o velho. Henry abanou a cabeça. - E por um mosquito? - sugeriu Jones.

- Claro que sim - respondeu o jovem.

- Está a perceber o que quero dizer? - perguntou Jones estendendo o braço para lhe dar uma palmadinha no ombro. - São as pequenas coisas que o vão atingir!

Henry sorriu sem querer.

- O que é que lhe vem à mente quando eu digo «vida de sucesso»? - lançou Jones antes que o jovem pudesse ir mais longe.

Henry não respondeu de imediato, mas, por fim, com uma expressão abalada respondeu:

- A minha mulher, o meu filho que vai nascer... é um rapaz, sabe?

Jones confirmou com um aceno de cabeça:

- Eu sei. Continue.

- Tempo para passar com a minha família. Bons amigos. Pessoas em cuja vida eu fiz a diferença...

- Uma diferença positiva? - Ao interrompê-lo, Jones observou o rosto do seu interlocutor a ficar cada vez mais pálido. - Tenho a sensação de que já fez a diferença em algumas vidas...

- Provavelmente é verdade - reconheceu Henry com vergonha.

- Não há problema, meu jovem. É o que se passa com muita gente - comentou Jones. - Está a um passo do abismo que podia evitar se, ao menos, tirasse a venda dos olhos. Financeiramente, fisicamente, emocionalmente... em quase todas as áreas da sua vida persegue o êxito, contudo os seus actos encaminham-no para a catástrofe. Até ao momento, sou uma das únicas pessoas que se importam o suficiente para lho dizer. A outra, nesta altura, é a sua mulher, mas o meu amigo não lhe dá ouvidos. Nem sequer atende os telefonemas dela.

- A minha vida é uma confusão - disse Henry em voz baixa. 

- Pois é - concordou Jones -, mas apenas até este momento.

O homem mais novo levantou os olhos.

- O que é que quer dizer com isso?
- Quero dizer que pode mudar. Bom, pode mudar a forma como faz negócio, como trata a sua família e como trata as pessoas cujas vidas de trabalho lhe foram entregues. Pode mudar, imediatamente, a forma como as trata.

Jones olhava atentamente nos olhos o homem mais jovem, enquanto prosseguia:

- A maior parte das pessoas pensa que mudar leva muito tempo. Não leva. A mudança é imediata! Instantânea! Pode levar muito tempo a decidir mudar... mas a mudança acontece num ápice! 

- Então vou mudar - disse Henry. - Ou melhor... estou mudado.

- Penso que compreende que pode demorar ainda um pouco até a sua reputação acompanhar a mudança que já operou - preveniu-o Jones. Henry acenou afirmativamente. - A opinião sobre si de muita gente ficará ainda, durante algum tempo, naquele registo do «estar a decidir mudar», mas a mudança que fez dará provas de um homem diferente e, mais cedo ou mais tarde, irão também mudar o que sentem em relação a si.

»Uma pergunta rápida - disse o velho com uma disposição obviamnte mais descontraída -, e para completar a mudança em todas as áreas da sua vida, tem de entender a resposta. Está pronto?

- Certo... - respondeu Henry num tom cansado.

- Cinco gaivotas estão pousadas num cais. Uma decide levantar voo. Quantas gaivotas ficaram?

- Bom... quatro.

- Não - respondeu Jones. - Ainda lá ficaram cinco. Decidir levantar voo e levantar voo, de facto, são duas coisas muito diferentes.

»Oiça atentamente. Apesar da crença popular no contrário, não existe qualquer poder na intenção. A gaivota pode tencionar levantar voo, decidir fazê-lo, pode falar com as outras gaivotas sobre como é maravilhoso voar, mas até ao momento em que bata as asas e se erga no ar, ainda está no cais. Não há diferença entre essa gaivota e as outras. Do mesmo modo, não há diferença entre a pessoa que tenciona fazer coisas de forma diferente e aquela que nunca pensou sequer nisso. Já pensou quantas vezes nos julgamos pelas nossas intenções, enquanto julgamos os outros pelas suas acções? Contudo, a intenção sem acção é um insulto àqueles que esperam o melhor de si. «Tencionava trazer-lhe flores, mas não trouxe.», «Queria terminar este trabalho a tempo», «Era para ter ido lá no teu aniversário»...

Henry sentia-se esmagado, mas decidido.

- Acho que percebi. Então o que faço primeiro?

- Se mudou, dê provas disso. - Apontou para o telemóvel que Henry tinha no cinto e sorriu. - Primeiro telefone à sua mulher. O resto vai descobrir." - Andy Andrews

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