segunda-feira, 13 de novembro de 2017





"Em razão talvez de todos os desencontros com que nos brinda, desconfiamos (em segredo) que o amor seja um adereço, paleolítico, que se desnorteou do desenvolvimento. Teimosamente, não se apresenta sob um formato normalizado. E, sem que se perceba porquê, chega-nos mal embalado, sem código de barras e - pior - sem as datas de produção e de validade (o que, como compreendem, é uma ameaça intolerável para a saúde).

Para mais, há pessoas que se lamentam - com razão!... - que o amor lhes chega mal acondicionado. Ou porque são premiados com a versão despojada do «amor e uma cabana» (que, presumo, lhes permitirá ver estrelas mas que, decerto, será responsável por resfriados e incriminantes rouquidões). Ou porque a versão rodeo as premiou com o banco de trás de um automóvel de baixa cilindrada (que desconcerta pelo cheiro a gasóleo ou pela companhia de uma folha de jornal injuriando a arbitragem). Ou porque na versão cool, o amor (... nas dunas) - não que saibamos por nós mas pelo que se ouve - é acompanhado por uma areia incontornável que nos sugere que o Paraíso é áspero, afinal.

Ainda sugere - a alguns resistentes - cartas de amor quando «o que está a dar» são as sms.

E faz-se de olhos nos olhos, quando a maioria das pessoas se insinua, diante do amor, pelo canto do olho.

E vive-se sem horas, lânguido e longamente. O que parece uma patetice, num tempo todo ele muito... fast-food. Salvo seja!...

Mas, meus amigos, o amor parece ser a encruzilhada de sentimentos que nos separa da morte e da vida. E há, realmente, pessoas que nos viram do avesso, nos tiram as nuvens do olhar, e banham de sol o nosso coração. Acerca delas falamos do amor, como se ele fosse um sentimento... Mas não é. É uma consensualidade de sentimentos. É por isso que a tranquilidade do amor nos rebuliça e, com ela, as estrelas se insinuam onde, antes, dominava a indiferença (que nos levava a guardar o melhor do mundo... sempre para mais tarde).

Talvez só aí, ao descobrirmos tudo o que o amor não é, percebamos que o amor não se reconhece como uma forma de ver o mundo pelos olhos do outro. É mais! A redenção com que o amor se dá passa pela anunciação de encontrar, nos olhos do outro, uma forma de ver para além dos nossos olhos e dos dele.

O amor não é bem um encontro de verdades. É melhor! É confiarmo-nos a alguém e entregar, pela mão dos olhos dele, o nosso olhar ao desconhecido, guiados pela esperança de vir até nós «um infinito de nós dois»." - Eduardo Sá

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