sexta-feira, 30 de junho de 2017





"Às vezes olhamos tão longe que não vemos nem assimilamos o que está próximo. A harmonia ganha-se a cada momento e deve ser levada até ao pequeno e ao grande, ao corpo e à mente, às palavras e aos actos." - Ramiro Calle

quinta-feira, 29 de junho de 2017






"Trabalhamos muito para que nada falte à nossa família, mas frequentemente falta-lhe aquilo de que mais necessita: um pai, uma mãe ou um cônjuge. Confundimos os meios com os fins: o prazer com a posse, o medo com o respeito, a fama com a glória, a popularidade com a transcendência e a submissão com o amor.

Um poema antigo diz-nos que cada coisa, cada atitude, cada acção constitui um risco que todos corremos. Rir é um risco, chorar é um risco, fazer coisas novas é um risco, amar é um risco, comer aquilo de que mais gostamos é um risco e viajar de avião também é um risco. Mas o poema também refere que o maior de todos os perigos é querer viver a vida sem correr qualquer risco.

O próximo passo do nosso caminho é, portanto, decidirmo-nos a correr alguns riscos. E sobretudo avaliar os riscos que corremos. Não é sensato pensar que aquilo que lhe proponho é que se atire do décimo andar para a rua, nem que o incito a apostar dinheiro num cavalo, a ter relações sexuais sem protecção ou a experimentar drogas.

Disse e repito que temos muito que aprender e muita gente com quem aprender.

Afirmo hoje que podemos certamente aprender sempre alguma coisa com qualquer pessoa.

Afirmo hoje que não devemos pretender aprender tudo com uma determinada pessoa.

Afirmo hoje, mesmo que possa parecer estranho, que há coisas que mais vale não aprender.

Estou a propor-lhe que corra riscos que foram calculados e que ponha de parte atitudes e comportamentos cujas possíveis consequências não justifiquem o risco que correu e cujo benefício máximo não compense o prejuízo ao qual se expõe.

É arriscado atirar-se para a piscina

sem saber se esta tem água,

mas às vezes é necessário fazê-lo.

Porém, é sempre um disparate absurdo atirar-se

sem sequer saber se existe uma piscina." - Jorge Bucay

quarta-feira, 28 de junho de 2017





"A vida é o rondar de um gato. Imagino passos lentos e cuidadosos, a percepção calma de tudo o que se passa em meu redor e um ritmo que satisfaz as minhas necessidades.

A vida é o passeio de um cão. Desloco-me agora com um interesse vivo, com paragens e avanços, encontros com outros cães, árvores e pessoas, sempre pronto a responder a uma manifestação de amizade.

A vida é um fox-trot. Esta é uma forma de dançar através da vida girando e pulando. Encontre um parceiro! Poderá sempre sentar-se para descansar e saltar a melodia seguinte.

A vida é o caminhar de um macaco. A vida é o galope de um cavalo. A vida é um salto de baleia. A vida é o voo de uma andorinha. A vida é o andar de um porco. A vida é o trote de um elefante. A vida é a deambulação de um urso. 

Hoje, encontre um momento de tranquilidade e escolha a sua metáfora para a viagem da vida." - David Kuntz

terça-feira, 27 de junho de 2017





"A vida não é um «vale de lágrimas», nem «dura», nem nada que se pareça. A vida é muito fácil se a cabeça estiver devidamente apetrechada.

Charles Darwin, pai do evolucionismo, um dos quatro cientistas mais importantes de todos os tempos, escreve num dos seus livros: «Depois de todas as viagens que fiz, de todas as espécies que estudei, cheguei à conclusão de que o destino do Homem é ser muito feliz porque todos os animais, em liberdade, o são. Por isso, é lógico que a espécie que encabeça a pirâmide também o deva ser.»

Mas não deixa de ser verdade que, em pleno século XIX, o biólogo inglês se questionava: «E porque não o somos?» A resposta é evidente. E era o próprio Darwin quem a dava: «Porque vivemos de maneira antinatural.» Inventamos necessidades cada vez mais imperiosas e urgentes que, em pouco tempo, se transformam em pesadíssimos fardos.

É que a nossa mente, quando funciona mal, cria necessidades exageradas a toda a velocidade para depois delas padecer como se cada uma fosse um tição ardente que se encosta à pele." - Rafael Santandreu

segunda-feira, 26 de junho de 2017





"Não existe praticamente nenhuma informação geral acerca da natureza da mente, é muito raro escritores ou intelectuais escreverem sobre ela, os filósofos modernos não se referem directamente a ela e a maior parte dos cientistas nega a própria possibilidade da sua existência. Ela não desempenha nenhum papel na cultura popular, ninguém canta sobre ela, ninguém fala dela em peças de teatro, nem aparece na televisão. Na verdade, somos ensinados a acreditar que nada é real para além do que conseguimos captar através dos nossos sentidos habituais.

Apesar desta negação maciça e praticamente generalizada da sua existência, de vez em quando temos vislumbres passageiros da natureza da mente, que podem ser inspirados por uma determinada peça musical particularmente estimulante, pela serena felicidade que esporadicamente sentimos na natureza ou por uma situação quotidiana extremamente comum. Também podem manifestar-se simplesmente quando vemos a neve cair com suavidade, quando observamos o Sol a levantar-se por detrás de uma montanha ou quando admiramos um feixe de luz a penetrar num quarto de uma forma misteriosamente comovente. Tais momentos de iluminação, paz e bênção acontecem-nos a todos e permanecem estranhamente connosco.

Acredito que, em certas ocasiões, compreendemos parcialmente estes vislumbres, mas a cultura moderna não nos fornece nenhum contexto nem qualquer enquadramento que nos permita entendê-los. Pior ainda, em vez de nos encorajar a explorar esses vislumbres com uma maior profundidade e a descobrir a sua origem, diz-nos, tanto declarada como subtilmente, para os silenciarmos. Sabemos que ninguém nos levará a sério se tentarmos partilhá-los, e como tal ignoramos experiências que, na realidade, poderiam vir a ser as mais reveladoras da nossa vida, se simplesmente as conseguíssemos entender. Talvez este seja o aspecto mais sombrio e perturbador da civilização moderna - a sua ignorância e repressão de quem realmente somos." - Sogyal Rinpoche 

sábado, 24 de junho de 2017






"Sempre que percorremos um longo caminho, mesmo que a recompensa seja agradável, passamos por momentos difíceis em que tudo parece estar contra nós. Como acontece a muitas outras pessoas, em alguns desses momentos tenho a sensação física de que o meu corpo não vai resistir, sobretudo se a nova etapa se apresenta como o início de uma difícil subida. São instantes em que nos passa necessariamente pela cabeça desistir e esquecer o objectivo que tínhamos em mente.

As circunstâncias são diferentes daquelas em que deveríamos permitir-nos descansar e festejar. São momentos em que nos apercebemos de que não conseguimos descansar e em que as forças nos faltam. Momentos em que seria preferível parar, mas desta vez para rever o que trazemos na bagagem.

Pessoalmente, considero esses momentos fundamentais, pois descubro sempre na minha mochila uma dezena de coisas que não preciso de continuar a transportar e que ainda se encontram lá dentro porque já foram úteis, porque alguém me solicitou que as levasse, porque pensei que eram imprescindíveis ou porque o coração não me as deixa abandonar pelo caminho, coisas essas que carrego pelo muito que delas gostei ou simplesmente por acaso.

Se pensar um pouco, aperceber-me-ei de que este peso acabará por impedir o meu percurso. É o lastro daquilo que já não serve, a carga que já não é imprescindível, a embalagem daquilo que não compensa transportar, se comparar o esforço que implica com o benefício colhido.

É assim que funciona a atitude pouco inteligente de carregar com o passado, com aquilo que é velho, com o que está gasto encosta acima.

Os mestres orientais ensinam-nos que somos seres espirituais e que todos os nossos desejos terrenos se resumem à sombra que o nosso corpo físico projecta sobre a terra.

Tendo em conta essa metáfora, interroguei-me um dia se nesse enunciado não residiria a explicação de uma grande parte daquilo que nos acontece, se não mesmo tudo.

Imagine que decido, mantendo-me fiel às regras que a educação da nossa sociedade de consumo me soube inculcar, lutar pelas posses que ambiciono ou que correspondem ao meu estatuto social, segundo as regras que me rodeiam e a época em que vivo.

Se representasse essa atitude à luz da metáfora apresentada, seria equivalente a tomar a decisão de correr atrás da sombra.

Então, se algum de nós optasse por tomar uma decisão tão pouco inteligente, o que é que aconteceria?

Em primeiro lugar, nunca alcançaria o que persegue.

Em segundo, cada vez se encontraria mais distante.

Em terceiro, aquilo que perseguisse tornar-se-ia cada vez maior, cada vez mais distante e redundaria num fracasso garantido.

Há alguma coisa pior do que isto?

Mas o que é que aconteceria se neste preciso momento me apercebesse do que se está a passar e, descrevendo uma volta de cento e oitenta graus, decidisse caminhar em direcção à luz, em vez de correr atrás da sombra?

Sucederiam simbolicamente três coisas.

Aos poucos, a sombra tornar-se-ia mais pequena.

Cada vez estaria mais próxima.

Finalmente, quando me aproximasse muito da luz, a sombra desapareceria por completo.

É nisto que consiste este passo: deixar de correr atrás da sombra do nosso desejo de possuir, acumular, ter; caminhar em direcção à luz e deixar que as coisas que desejamos nos sigam até nos conseguirem alcançar.

Este passo pressupõe que desistamos de todo o tipo de vícios, coisas, pessoas, comportamentos, atitudes, ideologias e que nos desapeguemos de tudo o que nos pertence." - Jorge Bucay

sexta-feira, 23 de junho de 2017





"Construímos colectivamente um mundo fantástico de maravilhas tecnológicas, de prodígios científicos e de uma produtividade ímpar. Mas, neste mundo, o melhor de entre todos os possíveis, aprendemos tanto sobre como fazer que nos esquecemos do que é ser.

É o maior desafio do nosso mundo contemporâneo, a redescoberta da essência do ser, da qual brotam as nossas vidas activas e à qual essas mesmas vidas se interligam. Sem um contacto directo com essa base, o nosso trabalho, as nossas respectivas actividades, as complexidades da vida moderna, passam todas a estar desligadas, a ser simplesmente mecânicas e sem sentido. Sem uma relação com o todo, o indivíduo passa a estar isolado, sem qualquer objectivo ou contexto social. Se não reconhecermos a realidade da existência, vasta, intemporal e unitária, não poderemos compreender esse mundo relativo a que damos expressão nas nossas vidas quotidianas. Cada um de nós sabe, com base na sua própria experiência, que somos capazes de amar, que ansiamos pela manifestação e recepção desse amor em toda a estrutura da nossa vida. Contudo, parecemos estar presos ao aspecto da realização prática, à pressão da sobrevivência e à concretização de objectivos, ao encaminhamento dos nossos relacionamentos, à logística de levar a cabo cada dia, e depois o dia seguinte, e mais outro ainda. Todos nós sabemos que isto não é suficiente, que a aptidão mais profunda do ser humano não é a mera capacidade de ser produtivo, mas sim o reagir face a tudo o que nos rodeia. O ser humano consegue dar expressão à interligação da vida. Somos capazes de agir por amor. Mas, concretamente, de que forma conseguimos descobrir o nosso caminho através da estrutura labiríntica das nossas vidas? Como podemos encontrar o caminho que conduz a esse amor? E que podemos fazer em relação a tudo isto?

Somo executantes, realizadores, gente de acção. Estamos aprisionados em vidas em que fazemos demasiado, onde perdemos a perspectiva do que é ser. Queremos saber o que poderemos fazer para as modificar. Queremos reparar as nossas vidas. Queremos construir vidas melhores. Queremos fazer mais. Mas, como é óbvio, fazer nunca nos permitirá ser. Não existe nada que possamos fazer, nem qualquer actividade capaz de nos transportar à tranquilidade de ser. Não há nada a fazer! No decurso deste raciocínio, apercebemo-nos de algo mágico: ser é o que resta quando deixamos de tentar esforçadamente. Quando paramos, descobrimos a vastidão da vida, do amor, da ligação aos outros. Mas pode ocorrer outra introspecção, talvez até mais profunda. É que, do cerne deste vasto amor, da sua base enquanto ser, brota o verdadeiro movimento da vida - da nossa vida. Essa vida que se pode revelar um grande desafio e uma sobrecarga é também a mesma vida que constitui a expressão do infinito. Sob a perspectiva da própria vida, a forma e a ausência de forma não são diferentes; fazer e ser são um só.

Não podemos viver sem agir e não conseguimos ser felizes sem amor. Este vaivém entre o absoluto e o relativo, do todo e da parte é a vida em que nos encontramos. O nosso objectivo não é a ausência de actividade ou a negação do amor, mas sim a descoberta da quietude em movimento, do todo na forma, da plenitude do vazio. O destaque desta exploração é este momento, esta vida. É a própria vida que agarramos, e não uma abstracção, nem um sistema espiritual que deva ser aprendido e praticado, mas sim e sempre, a vida actual, vital, em constante mutação, por vezes avassaladora, que cada um de nós tem de viver. A vida acontece todos os dias. Não tira férias. É o contexto inevitável que nos foi concedido e que proporciona a cada um de nós a maior de todas as oportunidades, a descoberta dos fundamentos de ser a cada momento e a serenidade de todos os dias." - Steven Harrison

quinta-feira, 22 de junho de 2017





"Muitas vezes não nos apercebemos de que a «bastantidade» se refere igualmente a bens imateriais.

No Ocidente somos insaciáveis também no que se refere às virtudes, aos amigos, à saúde, ao amor sentimental, à cultura, à extroversão, à necessidade de respeito, à liberdade, à paixão vital, ao entretenimento... Ou seja, muitas vezes prejudicamo-nos mais pelas exigências imateriais do que propriamente por dinheiro ou poder.

Crer que é preciso «aproveitar a vida» ou «ter filhos», por exemplo, é tão absurdo como acreditar que se precisa de um Ferrari, mas a paixão vital tem a aparência de um propósito mais digno do que um carro desportivo e, assim, reúne maior consenso.

Nunca seremos pessoas psicologicamente sãs enquanto possuirmos outras necessidades que não a de ter alimento e bebida para cada dia. Se entrarmos na dinâmica da insaciabilidade, ao satisfazer uma dessas exigências, seguir-se-á outra e outra e outra, num ciclo sem fim. Nenhuma delas, por muito virtuosa que possa parecer, tem cabimento na mente de uma pessoa forte." - Rafael Santandreu

quarta-feira, 21 de junho de 2017





"Quando dizemos Buda, pensamos naturalmente no príncipe indiano Gautama Siddharta, que no século VI a. C. alcançou a iluminação e deu a conhecer o caminho espiritual seguido por milhões de pessoas em toda a Ásia, hoje conhecido por budismo. Buda, no entanto, tem um significado muito mais profundo. Refere-se a uma pessoa, qualquer pessoa, que despertou completamente da ignorância e se abriu ao seu vasto potencial de sabedoria. Um buda é alguém que pôs um fim definitivo ao sofrimento e à frustração e descobriu uma felicidade e uma paz duradouras e imortais." - Sogyal Rinpoche

terça-feira, 20 de junho de 2017





"Um pai desejava a melhor formação mística para os seus filhos. Por essa razão, enviou-os a um reputado mestre de metafísica para que os treinasse espiritualmente. Passado um ano, os filhos regressaram ao lar paterno. O pai perguntou a um dos filhos sobre o Absoluto e o filho falou demoradamente sobre o tema, fazendo todo o tipo de ilustradas referências às Escrituras, textos filosóficos e ensinamentos metafísicos. Depois, o pai perguntou sobre o Absoluto ao outro filho, e este limitou-se a guardar silêncio. Então, o pai, referindo-se a este último, disse:

- Filho, tu é que sabes realmente o que é o Absoluto.

Não há poder como o silêncio. Buda declarava: «Quando não tiveres nada importante para dizer, guarda um nobre silêncio», ou ainda: «Se não podes melhorar o que foi dito, observa o silêncio.» As palavras não são as coisas nem os factos, e muito menos as experiências. A palavra é um signo convencional, um artifício que muitas vezes engana, limita e falsifica. Como assinalava Lao-Tsé: «Aquele que sabe, não fala.» Querer dizer em palavras o que está para além do conhecimento conceptual é impossível e absurdo. O silêncio é mais revelador do que todas as palavras do mundo, e uma das maneiras mais fecundas de meditação é a do silêncio, ou meditação de esvaziamento, para que brilhe a luz do Ser." - Ramiro Calle

segunda-feira, 19 de junho de 2017





"Imagine que existe um banco que todas as manhãs credita na sua conta a avultada quantia de 86 400 euros. Nem mais, nem menos: 86 400 euros diários para seu usufruto, sem que ninguém lhe peça explicações ou lhe exija que preste contas; 86 400 euros livres de impostos e para seu uso pessoal.

Imagine que a única restrição da conta bancária que lhe foi atribuída é o facto de, por uma incapacidade do sistema ou por uma decisão do donatário, não manter os saldos de um dia para o outro.

Todas as noites, ao bater a meia-noite, como acontecia com a carruagem da Cinderela, que se transformava de novo numa abóbora, a conta bancária elimina automaticamente a quantia que tinha no seu saldo. Mais grave ainda, também se desvanece cada euro levantado da conta que não tenha sido gasto ao longo do dia.

Se perder uma parte do saldo, fica-lhe o consolo de, no dia seguinte, lhe serem depositados novamente mais 86 400 euros, que poderá gastar como lhe aprouver. No entanto, não pode sentir-se demasiado seguro, porque não se sabe durante quanto tempo se manterá esta dádiva.

Que atitude tomaria?

Certamente gastaria todos os euros e desfrutaria desse dinheiro com quem quisesse, claro.

- Cada um de nós - disse eu - possui essa conta e essa dádiva.

Todas as manhãs, o banco do tempo coloca à nossa disposição 86 400 segundos e todas as noites o banco apaga o saldo e considera-o perdido.

O banco não aceita cheques pré-datados nem permite contas a descoberto.

Se não usarmos o depósito do dia, quem perde somos nós." - Jorge Bucay

domingo, 18 de junho de 2017





"Todos os seres humanos conseguem compreender que «tudo varia em função dos olhos com que se vê», mas esquecemo-nos disso tão depressa! Temos uma cimentada tendência a acreditar, reiteradas vezes, que os factores externos são responsáveis pelo nosso estado de alma. É um defeito de fabrico e a nossa linguagem assim o demonstra. Temos por hábito dizer frases como «Essa tarefa deixa-me frenético», «As críticas do meu filho deixaram-me de rastos», «O João tira-me do sério!»

Ora, tudo isto é falso!

Faríamos bem em trocar estas frases por: «Eu opto por ficar frenético perante essa tarefa», «Eu ponho-me de rastos perante as críticas do meu filho», «Tornei-me uma pessoa tão fraca que até o João me tira do sério».

Porque a verdade é que somos nós que despoletamos as emoções. Basta de atribuir aos demais e ao mundo a responsabilidade por uma infelicidade que é só nossa!

Enquanto não assumirmos a autoria das nossas emoções, não seremos capazes de exercer controlo sobre a mente. Mudando a nossa antiga forma de pensar, despedimo-nos da tensão, dos nervos, da ira, da vergonha e da tristeza excessiva. De que estamos à espera?" - Rafael Santandreu

sábado, 17 de junho de 2017





"Reconhece sempre o carácter ilusório da vida e diminui o apego e a aversão. Pratica a bondade em relação a todos os seres. Ama e sê compassivo, independentemente do que os outros te façam. O que eles fazem ou deixam de fazer não tem grande importância quando o encaras como um sonho. O truque é ter uma intenção positiva durante o sonho. Este é o ponto essencial. Esta é a verdadeira espiritualidade." - Buda

sexta-feira, 16 de junho de 2017





"Um dos obstáculos mais difíceis de ultrapassar no caminho da realização de nós mesmos e até da maturidade emocional é, sem qualquer dúvida, o egocentrismo nas suas diversas formas. O egocentrismo manifesta-se como vaidade, soberba, presunção, desconfiança, susceptibilidade, orgulho desmesurado e narcisismo. Não se trata de eliminar o ego, mas de evitar que se torne exacerbado e desorbitado. Não há disciplina mais louvável do que a da verdadeira humildade, como antídoto perante a soberba e o egoísmo. A pessoa narcisista só se ocupa de si mesma (nem sequer do seu interior) e não presta atenção às necessidades alheias. O egocentrismo excessivo, que nada tem a ver com saudável individualismo, ofusca a mente e acalenta o lado mais feio da personalidade humana." - Ramiro Calle

quinta-feira, 15 de junho de 2017





"Para chegarmos ao nosso destino e não perdermos o rumo, é necessário darmos prioridade ao que é realmente importante em detrimento do que é acessório, assim como sermos pacientes em relação às nossas demandas.

A liberdade e a capacidade de nos deixarmos fluir não são incompatíveis com a necessidade de pormos ordem em algumas coisas. Se queremos ocupar-nos de tudo, é imprescindível darmos a primazia ao que deve surgir em primeiro lugar e só depois ocuparmo-nos do que deve ser feito no final.

É verdade que há sempre coisas que devem ser resolvidas em primeiro lugar, se desejamos encontrar uma maneira de as resolver todas, mas não é menos verdade que, para distinguirmos entre duas situações, já deveremos ter aprendido ao longo do nosso percurso a qualificar as nossas necessidades no seio da nossa realidade pessoal e atribuir às coisas a importância que elas têm.

Só assim poderemos apercebermo-nos de que, em termos gerais, é conveniente começar por aquilo que é maior, mais importante e fundamental, e só em casos muito específicos por aquilo que é premente.

Uma vez que estamos a falar de prioridades e privilégios, não me posso esquecer de dois princípios fundamentais. O primeiro estabelece que nenhuma ordem é definitiva e inalterável e que a minha lista depende sempre de um determinado momento da minha vida; o segundo, que é tão importante como o primeiro, ou ainda mais, institui que a minha própria ordem não tem forçosamente de coincidir com a ordem dos outros. 

Quantas vezes, quando nos sentimos desesperados, exigimos ao nosso cônjuge, aos nossos pais, amigos, vizinhos, à nossa empregada que nos resolvam um certo assunto «imediatamente», ou seja, que se ocupem primeiro do nosso problema, porque para nós é prioritário, urgente, imprescindível e inadiável?

Quantas vezes nos queixamos sem ter em consideração que talvez a nossa «pedra», que para nós é a mais importante, não passe de um grão de areia no meio daquilo que está pendente para os outros?

Aprendi a não me esquecer de que, para o interesse de todos, talvez a consecução dos meus desejos deva neste momento aguardar por uma ocasião mais adequada; e, sobretudo, aprendi que há coisas que devem ser feitas e que, apesar de parecerem menos importantes, não o são, sendo, portanto, necessário deixar sempre algum espaço para a realização das mesmas." - Jorge Bucay

quarta-feira, 14 de junho de 2017






"Existem milhões de maneiras de expressar a felicidade, mas existe apenas uma maneira de ser realmente feliz e essa é amar. Não existe outra maneira. Você não pode ser feliz se não se amar. Isso é um facto. Se não se amar a si próprio, não terá nenhuma oportunidade de ser feliz. Não pode partilhar aquilo que não tem. Se você não se amar a si próprio, também não poderá amar mais ninguém. Mas pode ter uma necessidade de amor e, se houver alguém que precise de si, é a isso que os humanos chamam amor. Isso não é amor. Isso é possessividade, isso é egoísmo, isso é controlo sem respeito. Não minta a si mesmo; isso não é amor.

O amor saindo de si é a única maneira de ser feliz. Amor incondicional para si próprio. Rendição completa a esse amor por si. Nunca mais resistirá à vida. Nunca mais se rejeitará. Nunca mais carregará toda essa censura e essa culpa. Apenas aceitará quem é e aceitará cada pessoa do modo como ela é. Você tem o direito de amar, de sorrir, de ser feliz, de partilhar o seu amor e de não ter medo de também o receber." - Don Miguel Ruiz 

terça-feira, 13 de junho de 2017





"Uma mente tranquila é uma das virtudes de sabedoria mais preciosas. É o resultado de um longo e paciente esforço de autocontrolo. Quando ela está presente no homem, é uma indicação de experiência amadurecida e de um conhecimento fora do comum no que toca às leis e aos processos do pensamento.

O homem  torna-se sereno à medida que se entende melhor a si próprio e se vê como um ser que provém do pensamento. Para obter esse conhecimento necessita de entender que os outros são também resultado do pensamento e, ao desenvolver essa compreensão, vê cada vez com mais clareza a relação entre as coisas - pela acção de causa e efeito - e deixa de se aborrecer, irritar, preocupar e lamentar, e permanece equilibrado, constante, sereno.

O homem tranquilo, ao aprender como deve dirigir a sua vida, sabe como se adaptar aos outros. E estes, por sua vez, apreciam a sua força e sentem que podem aprender com ele e confiar nele. Quanto mais tranquilo o homem é, maiores são o seu sucesso, a sua influência e a sua aptidão para fazer bem.

O homem forte e tranquilo é sempre amado e respeitado. É como a sombra de uma árvore numa região deserta ou um porto seguro onde se abrigar no meio de uma tempestade.

Quem não gosta de uma pessoa de coração tranquilo, de temperamento doce e que leva uma vida equilibrada? Não importa se chove ou se faz sol ou que qualquer mudança ocorra ao possuidor destes bens, pois ele é sempre doce, sereno e calmo.

Esse raro equilíbrio de carácter ao qual chamamos serenidade é a derradeira lição da cultura humana, o florescer da vida, o fruto da alma.

É notável perceber que a sabedoria é mais desejável do que o ouro - sim, mais desejável do que o mais fino ouro. Quão insignificante é a mera busca por dinheiro em comparação com uma vida serena - uma vida que habita no oceano da verdade, mas por baixo das ondas, fora do alcance das tempestades, em eterna calma.

Quantas pessoas conhecemos que amarguram as suas vidas, que arruínam tudo o que é doce e belo com um temperamento explosivo, que destroem o seu equilíbrio de carácter, e envenenam o próprio sangue?

Perguntamo-nos se a maioria das pessoas não arruína a sua vida e não estraga a sua felicidade pela falta de autocontrolo. São tão escassas as pessoas que encontramos na vida e que são equilibradas, que têm aquele raro equilíbrio característico do carácter bem formado.

Sim, a Humanidade ergue-se com paixão incontrolável, turbulenta, e com uma tristeza incontrolável, é sacudida pela ansiedade e pela dúvida.

Almas agitadas pela tempestade, onde quer que estejam, sejam quais forem as condições em que vivam, sabei disto: no oceano da vida, as ilhas afortunadas sorriem-vos e as costas soalheiras do vosso ideal esperam pela vossa chegada.

Mantenham a mão firme sobre o leme do pensamento. No barco da vossa alma repousa o comandante e mestre - apenas está adormecido. Acordai-o.

Autocontrolo é força. Pensamento recto é domínio. Calma é poder." - James Allen

segunda-feira, 12 de junho de 2017





"Saiba que todas as coisas são assim:

Uma miragem, um castelo de nuvens,

Um sonho, uma aparição,

Sem essência, mas com qualidades que podem ser vistas.

Saiba que todas as coisas são assim:

Como a Lua num céu brilhante,

Em algum lago límpido reflectida,

Ainda que para esse lago a Lua jamais se tenha movido.

Saiba que todas as coisas são assim:

Como um eco proveniente

Da música, sons e pranto,

Embora nesse eco não haja nenhuma melodia.

Saiba que todas as coisas são assim:

Tal como um mágico cria ilusões

De cavalos, bois, carroças e outras coisas, 

Nada é como parece." - Buda

domingo, 11 de junho de 2017





"Era um homem que nunca tivera ocasião de contemplar o mar.Vivia numa aldeia do interior da Índia. Uma ideia instalara-se com firmeza na sua mente: não podia morrer sem ver o mar. Para poupar algum dinheiro e poder viajar até à costa, arranjou outro trabalho além do seu emprego habitual. Poupava tudo o que podia e suspirava pelo dia em que ia poder estar perante o oceano. Foram anos difíceis mas, finalmente, poupara o suficiente para fazer a viagem. Apanhou um comboio que o levou até perto do mar. Sentia-se entusiasmado e pleno. Chegou à praia e observou o maravilhoso espectáculo. Que ondas tão bonitas! Que espuma tão branca e tão formosa! Que água tão azulada e tão bela! Aproximou-se da água, apanhou um pouco na concavidade da sua mão e levou aos lábios para degustá-la. Então, desencantado e abatido, disse para si próprio: «Que pena que saiba tão mal, sendo tão bonita!»

Quando as ideias usurpam o lugar à experiência, a pessoa não sabe adaptar-se sabiamente ao que é, e cria conflitos e tensões, além de se desencantar e até se deprimir quando as suas expectativas se vêem frustradas. É preciso assumir as coisas tal e qual elas são e temos de pegar em ambos os lados da existência e tentar conciliá-los, já que a vida não é como uma esfera que se pode partir para ficarmos só com uma parte da mesma." - Ramiro Calle

sábado, 10 de junho de 2017






"É fácil sermos amáveis com aqueles que nos tratam com amabilidade e respeito, mas talvez não seja tão fácil responder com amabilidade a quem é antipático connosco. Devemos sempre reservar dez minutos do nosso tempo para atravessar a rua e cumprimentar afectuosamente o vizinho que não nos viu, pois ia imerso nos seus problemas. Temos igualmente de aprender a sorrir pacificamente àquelas pessoas que se encontram num «daqueles dias insuportáveis»!

Estes comportamentos corresponderiam a um grande passo dado em frente na nossa vida, não acha?

Quem não der atenção a este assunto pode pensar que esta questão tem muito pouca importância, que é uma simples sugestão diplomática, uma atitude cínica ou a expressão de um servilismo idiota. Não acredito nisso. Posso assegurar que este passo é imprescindível, se tomarmos consciência de que é difícil percorrermos o caminho da realização pessoal em absoluta solidão, sem companheiros de estrada, sem o olhar dos outros e sem o afecto de alguns.

Ninguém progride sem afecto. Ninguém vê o horizonte se não conseguir relacionar-se afectivamente com aqueles que o rodeiam.

Ninguém, absolutamente ninguém, triunfa sem ser amado." - Jorge Bucay

sexta-feira, 9 de junho de 2017





"Se disser a uma pessoa que a ama e essa pessoa disser: "Bom, eu não te amo", isso é razão para você sofrer? Apenas porque alguém o rejeita, não significa que tenha que se rejeitar a si próprio. Se uma pessoa não o ama, alguém mais o há-de amar. Há sempre mais alguém. E é melhor estar com alguém que queira estar consigo do que estar com alguém que tenha de estar consigo.

Tem de se concentrar no mais belo relacionamento que possa ter: o relacionamento consigo. Não se trata de ser egoísta; trata-se de amor-próprio. Não é a mesma coisa. Você é egoísta consigo, porque não há aí amor. Tem de amar-se a si próprio e o amor crescerá cada vez mais. Então, quando iniciar um relacionamento, não entra nele por precisar de ser amado. Ele torna-se uma escolha. Pode escolher alguém se quiser e consegue ver quem ele realmente é. Quando não precisar do seu amor, não precisa de mentir a si próprio.

Você é completo. Quando o amor sai de si, você não procura o amor por ter medo de estar só. Quando tem todo esse amor para si, pode estar sozinho sem que haja problemas. Sente-se feliz por estar sozinho e partilhar também é divertido. 

Se eu gostar de si e sairmos juntos, será porque queremos ser ciumentos, porque tenho necessidade de o controlar ou porque você tem necessidade de me controlar? Se é para ser assim, não tem graça. Se for para ser criticado ou julgado, se for para me sentir mal, então, não muito obrigado. Se for para sofrer, talvez seja melhor estar só. Será que as pessoas se juntam para fazer um drama, para se possuírem umas às outras, para se castigarem umas às outras, para serem salvas? Será realmente por isso que se juntam? Claro que temos todas essas hipóteses. Mas o que é que realmente procuramos?

Quando somos crianças - com cinco, seis ou sete anos de idade - somos atraídos para outras crianças, porque queremos brincar, queremos divertir-nos. Não passamos tempo com outra criança porque queremos lutar ou fazer um grande drama. Isso pode acontecer, mas é de pouca duração. Apenas continuamos a brincar, a brincar. Quando nos saturamos, mudamos o jogo, mudamos as regras, mas exploramos o tempo todo.

Se entrar num relacionamento para fazer drama, porque quer ser ciumento, porque quer ser possessivo, porque quer controlar a vida da sua companheira, não está a procurar divertir-se, está à procura de sofrimento e é isso que vai encontrar. Se entrar num relacionamento com egoísmo, esperando que a sua companheira o vá fazer feliz, isso não acontecerá. E não é por culpa dessa pessoa; é por sua própria culpa.

Quando entramos num relacionamento de qualquer natureza, é porque queremos partilhar, queremos desfrutar, queremos divertir-nos, não queremos entristecer. Se procuramos uma companheira, é porque queremos brincar, queremos ser felizes e gozar o que somos. Não escolhemos uma companheira apenas para dar todo o nosso lixo a essa pessoa que dizemos amar, para lançar sobre ela todo o nosso ciúme, toda a nossa raiva, todo o nosso egoísmo. Como é que alguém poderá dizer-lhe: "Eu amo-te", e depois maltratá-lo e abusar de si, humilhá-lo e desrespeitá-lo? Essa pessoa pode dizer que o ama, mas será isso realmente amor? Quando amamos, queremos o melhor para aqueles que amamos. Porquê lançar o nosso lixo sobre os nossos próprio filhos? Porquê abusar deles por estarmos cheios de medo e veneno emocional? Porquê culpar os nossos pais pelo nosso próprio lixo?

As pessoas aprendem a tornar-se egoístas e a apertar muito os seus corações. Estão carentes de amor, sem saber que o coração é uma cozinha mágica. O seu coração é uma cozinha mágica. Abra o seu coração. Abra a sua cozinha mágica e recuse-se a deambular mendigando amor. No seu coração está todo o amor de que necessita. O seu coração pode criar qualquer quantidade de amor, não só para si próprio, mas para todo o mundo. Você pode dar o seu amor sem condições; pode ser generoso com o seu amor, porque possui uma cozinha mágica no seu coração. Então, todas aquelas pessoas esfomeadas que acreditam que o coração está fechado, irão querer estar sempre perto de si por causa do seu amor.

O que o faz feliz é o amor saindo de si. E se for generoso com o seu amor, todos o irão amar. Nunca estará só, se for generoso. Se for ciumento, estará sempre sozinho e não haverá ninguém para culpar a não ser você. A sua generosidade abrirá todas as portas, não o seu egoísmo.

O egoísmo vem da pobreza no coração, da crença de que o amor não é abundante. Tornamo-nos egoístas, quando acreditamos que talvez amanhã não tenhamos comida. Mas, quando sabemos que o nosso coração é uma cozinha mágica, somos sempre generosos e o nosso amor é completamente incondicional." - Don Miguel Ruiz

quinta-feira, 8 de junho de 2017





"O descuidado, o ignorante e o indolente, vendo somente o aspecto superficial das coisas e não as coisas em si, falam da sorte, do destino e do acaso.

Ao verem um homem tornar-se rico, dizem: «Que sorte que ele tem!» Ao observarem outro a tornar-se um intelectual conceituado, exclamam: «Ele é tão favorecido!» E ao notarem a pureza de carácter e a ampla influência de um outro, comentam: «Tem tido sempre ajuda em cada passo!»

Eles não vêem as provações, as lutas e os fracassos que estes homens voluntariamente enfrentaram para ganhar experiência. Desconhecem os sacrifícios que eles fizeram, os bravos esforços que assumiram, a fé que desenvolveram, tudo para que pudessem superar aquilo que na altura era aparentemente insuperável e realizar a visão do seu coração.

Eles nada sabem da escuridão e da aflição que eles viveram. Só vêem a luz e a alegria, e por isso chamam-lhe sorte. Não vêem a longa e árdua jornada, apenas contemplam o agradável sucesso e por isso chamam-lhe destino. Não vislumbram o processo, apenas entendem o resultado, e por isso chamam-lhe acaso.

Em todos os assuntos humanos existem esforços e existem resultados. O tamanho do esforço é a medida do resultado. Não a sorte. Dons, poderes, posses materiais, intelectuais e espirituais, são fruto do esforço. São pensamentos que se concretizaram, objectivos que se atingiram e visões que se realizaram." - James Allen

quarta-feira, 7 de junho de 2017






"É muito comum que só quando as pessoas sentem subitamente que estão a perder o seu companheiro é que se apercebem de que o amam. Então agarram-se ainda mais a ele. Mas quanto mais se apegam, mais a outra pessoa lhes escapa e mais frágil a relação se torna. 

Tantas vezes queremos felicidade, mas a própria forma como a procuramos é tão desajeitada e inapropriada que apenas nos causa mais transtorno. Normalmente, presumimos que temos de agarrar para conseguir algo que garanta a nossa felicidade. Perguntamo-nos: Como é possível desfrutar de algo se não pode ser nosso? Quantas vezes se confunde apego por amor! Mesmo quando a relação é boa, o amor é corrompido pelo apego, com a sua insegurança, possessividade e orgulho; e de seguida, quando o amor acaba, tudo o que resta são as «recordações» do amor, as cicatrizes do apego.

Como podemos então vencer o apego? Apenas compreendendo a sua natureza impermanente; este entendimento liberta-nos lentamente do seu domínio. Acabamos por vislumbrar o que os mestres dizem a propósito da verdadeira atitude em relação à mudança: como se fôssemos o céu a olhar para as nuvens que passam ou tão livres como mercúrio. Quando deixamos cair mercúrio no chão, a sua própria natureza é a de permanecer intacto; nunca se mistura com o pó. À medida que tentamos seguir o conselho dos mestres e somos lentamente libertados do apego, surge em nós uma imensa compaixão. As nuvens do apego separam-se e dispersam-se, e o sol do nosso verdadeiro coração compassivo resplandece. É nessa altura que começamos a experimentar, no âmago do nosso ser, a verdade jubilante destas palavras de William Blake:

Aquele que ata a si próprio uma alegria,

Destrói as asas da vida;

Aquele que beija a alegria enquanto ela voa,

Vive na aurora da Eternidade." - Sogyal Rinpoche

terça-feira, 6 de junho de 2017






"Um discípulo esteve a reflectir sobre a insubstancialidade e transitoriedade de tudo o que existe e tomou consciência de como, na existência terrena, há encontro e separação, alegria e pesar, prazer e dor. Apercebia-se de que não era feliz e de que os anos passavam e a felicidade lhe estava vedada. Dirigiu-se ao seu mestre e disse:

- Mestre, os anos fluem tão incessantemente como as águas de um rio. Quanto mais vivo mais consciente sou de que no mundo exterior não posso encontrar a felicidade plena, nem a alegria permanente, nem a felicidade estável. Porquê?

- Quero que prepares um copo de leite doce e o dês a provar a um doente grave - disse o mentor. - Depois vem reunir-te de novo comigo.

Assim fez o discípulo. Era, sem dúvida, um verdadeiro seguidor do Inefável, mas não encontrava a paz nesta existência. Preparou um copo de leite doce e indagou onde haveria um doente grave. Foi visitar o doente e, rodeando-lhe os ombros com o seu braço, ajudou-o a sentar-se e deu-lhe o leite a beber. O doente fez uma careta e queixou-se:

- Tão amargo que isto está!

O discípulo acudiu ao seu mestre e relatou-lhe o sucedido. O mestre explicou:

- Meu caro, quando estamos doentes, até o doce sabe amargo. Enquanto a mente não tiver encontrado a sua liberdade total, perde tempo com o prazenteiro e o desagradável, e fica amargurada, porque a todo o contentamento acaba por se seguir o descontentamento. Persevera na tua busca, não desfaleças. Na raiz da tua mente, onde o mundo exterior se desvanece, encontrarás a paz que até agora te foi negada.

No exterior tudo é contingente e não se pode encontrar uma alegria permanente. O mundo exterior submete-se a inumeráveis e incognoscíveis condições, eventos, situações e circunstâncias, e tudo isso, por sua vez, está submetido à lei da mutabilidade. Há prazer e há dor, mas o estado de felicidade permanente só pode ser encontrado dentro de nós mesmos e conflui nessa serenidade interior que não pode ser dada apenas pela bonança exterior." - Ramiro Calle

segunda-feira, 5 de junho de 2017





"A realização pessoal não existe se não formos capazes de nos sentir amados e se não amarmos alguém intensa, comprometida e desinteressadamente.

A palavra «amor» é, provavelmente, uma das mais utilizadas nos últimos duzentos anos. Por causa do amor foram justificadas as atrocidades mais incríveis e explicadas as atitudes mais solidárias. Os santos, os ditadores, os bondosos, os assassinos, os sacerdotes, os feiticeiros, os eruditos, os analfabetos, os apaixonados, os que não estão apaixonados, todos falam de amor; mesmo que a maior parte não saiba do que está a falar.

É verdade que definir sentimentos constitui um grande desafio e que é impossível agradar a todas as pessoas, contudo podemos tentar fazer uma aproximação, partilhando alguns conceitos sobre os mesmos.

Para começar, vale a pena esclarecer que o amor verdadeiro e transcendente do qual falamos não é o amor «incomensurável» dos romances românticos, supostamente eterno e, por conseguinte, exclusivo.

Tão-pouco é, necessariamente, o amor das tragédias gregas, dramático e irresistível. 

Não é um sentimento sublime, reservado a poucos, nem algo que se sente exclusivamente num momento da vida junto a uma única pessoa.

O amor ao qual nos devemos abrir é o amor do nosso dia-a-dia, o sentimento possível e diário a que nos referimos quando sentimos que «gostamos muito de alguém».

Se partirmos do conceito de gostar, cujo significado é o mais puro interesse pelo bem-estar da outra pessoa, torna-se fácil compreender a capacidade de sentirmos com honestidade um verdadeiro interesse pelo que possa acontecer aos outros, seja ao nosso filho, à nossa mãe, ao nosso cônjuge, ao nosso vizinho ou a um indivíduo anónimo e desconhecido.

Estou convencido de que, para atingirmos a nossa meta, é imprescindível mantermos pelo menos uma relação com alguém que não só seja importante para nós, como, acima de tudo, que consiga fazer-nos perceber que somos importantes.

Alguém que festeje com sinceridade cada um dos nossos êxitos.

Alguém que nos queira acompanhar tanto nos momentos fáceis como nos difíceis.

Alguém que seja capaz de respeitar os nossos timings e as nossas escolhas.

Alguém que desfrute da nossa companhia sem desejar colocar-nos na lista das suas possessões.

Alguém que nos demonstre que nos ama mesmo em situações de desencontro e após momentos de discussão ou de aborrecimento.

Uma pessoa, em resumo, cujo bem-estar continue a ser determinante para nós, ainda que em determinados momentos, em que se encontra furiosa por alguma razão ou cega pelo seu aborrecimento, nos assegure que já não gosta de nós, ou quando se sente magoada e ferida, teime em afirmar que nunca nos perdoará.

Todos os filósofos, pensadores, religiosos e terapeutas que ficaram para a História criaram provavelmente a sua própria definição sobre o amor. Entre aquelas a que tive acesso, escolho a do colega Joseph Zinker, que propõe a seguinte definição no seu livro O Processo Criativo:

O amor é regozijo pela mera existência 

da pessoa amada.

Talvez esta definição não o satisfaça.

Talvez preferisse apoiar-se na sua própria definição.

Para mim, o amor é a decisão sincera de criar para a pessoa amada um espaço de liberdade tão amplo, tão amplo, tão amplo que esta possa escolher fazer da sua vida, dos seus sentimentos e do seu corpo aquilo que deseja, ainda que a sua decisão não me agrade, ainda que a sua escolha não me inclua." - Jorge Bucay