terça-feira, 31 de outubro de 2017





«A maioria dos infortúnios da terra são

os humanos que os causam a si próprios.» - Buda


"Quando estiver à procura de alguém para responsabilizar pela sua infelicidade, não precisa de procurar muito.

Como alguém disse, o maior causador de problemas na sua vida é aquela pessoa no espelho que, todas as manhãs, maquilha o seu rosto ou o barbeia." - Ernie Zelinski

segunda-feira, 30 de outubro de 2017





"Já me aconteceu muitas vezes afastar-me de um amigo ou de um conhecido deixando-o em condições desastrosas, tanto de saúde como económicas ou de carreira. E perguntava a mim mesmo, assustado, como teria feito para resistir, como teria acabado. Pelo contrário, ao reencontrar-me com ele depois de alguns anos, descobri que estava bem, alegre, cheio de vida, com uma nova actividade, por vezes com uma nova esposa (ou um novo marido). E percebi que, na realidade, nunca podemos dizer que uma pessoa está acabada, porque todos possuímos enormes capacidades que não utilizamos e que podemos fazer frutificar num segundo tempo.

Quando somos duramente derrotados ou quando enfrentamos uma doença mortal, afastamo-nos da realidade presente, fechamo-nos em nós mesmos, quase como se tivéssemos morrido; depois, quando recuperamos, quando nos curamos, é como se nos fosse dada uma segunda vida. Por isso, sentimos um desejo febril de agir, de ter novas experiências. Despertam em nós desejos, sonhos, que tínhamos acalentado ou afastado e pomos em acção capacidades não utilizadas.

Por isso, não deveríamos dizer «não vale a pena». Não vale a pena, já não posso ter filhos; não vale a pena, não acabei a licenciatura; não vale a pena, já estou na menopausa; não vale a pena, já estou aposentado. Não faz sentido; é como se disséssemos «não vale a pena, já acabaram os saldos». Sim, os saldos terminaram, mas existem muitas outras possibilidades de fazermos compras. E não é necessário perdermos tempo a lamentar-nos por não termos isto ou aquilo, a remoer sobre os nossos erros ou sobre o mal que os outros nos fizeram. Todos cometemos erros e todos recebemos más acções.

Na minha opinião, a regra de ouro para recuperarmos é a seguinte: sejamos optimistas, actuemos, façamos as coisas que nos agradam, que nos estimulam, e deixemos correr o marfim. Não devemos dirigir a palavra a quem nos é antipático, a quem nos incomoda, não devemos ver filmes que não nos interessam, devemos desligar a televisão quando nos irrita. E, pelo contrário, quando houver alguma coisa que tenha realmente valor para nós, lutemos por ela. Estamos tão vivos aos 80 como aos 20 anos. E lutemos sem medo, com prazer, com gosto de o fazer." - Francesco Alberoni

domingo, 29 de outubro de 2017





"Não acho que as paixões sejam o lado A da vida. Mas gosto delas. Gosto do lado ternurento das paixões. Do olhar que faísca. E da luz que trespassa por todos os gestos. Do «que foi que eu disse?!...» que se repete, num tom de protesto aconchegante. E do jeito de falar onde se comem as sílabas, se morde o lábio e se ri com os olhos. Tudo ao mesmo tempo. E gosto da indiferença, mais ou menos soberba, pelos dias da semana ou pelo tempo que faz. E da maneira, regalada, como (depois de jurarmos que nunca fomos supersticiosos) imaginamos que as coincidências nunca acontecem por acaso. Mas gosto, sobretudo, das mensagens, mais ou menos patetas, que se enviam. Daquelas que espreitamos, clandestinamente, numa reunião. E nos deixam sem jeito.

Gosto da maneira como, vindo lá de dentro, alguém fala d' «o meu amor» (fazendo de todos os seus sentimentos uma só... pessoa). E gosto dos diminutivos de quem se ama: «tatinha» ou «momô» por exemplo (que diminuem a distância entre dois corações ao mínimo daquilo que as sílabas permitem). Mas gosto, sobretudo, das mensagens patetas das paixões. Não sei se são patetas de verdade. Mas são adoráveis. E gosto delas. Mesmo daquelas em que, minutos antes de qualquer coisa mais ou menos insignificante, alguém nos diz: «gosto de ti!» ou «amo-te muito!» (que é uma forma de nos recordar que a sorte, ao pé da protecção duma paixão, é uma brincadeira de crianças)." - Eduardo Sá

sábado, 28 de outubro de 2017





"A ansiedade, os nervos, a tristeza, as dúvidas, a vergonha, a preguiça... são, em grande medida, emoções inevitáveis. Em muitas ocasiões da nossa vida não as conseguiremos deixar de sentir. Mas, atenção; a pessoa madura permite que tais emoções surjam e aproveita para aprender coisas práticas da vida.

Existe uma expressão em japonês, arugamama, que significa «estar em harmonia com a natureza». Tem origem na antiga sabedoria zen. Arugamama é compreender que no inverno faz frio e, no verão, calor. Que os terramotos são forças que nos superam e que mais vale aprender a viver com eles e investir numa arquitectura de casas de papel.

Os monges budistas de todos os tempos aprenderam que as emoções negativas fazem parte da natureza humana. São como o calor no verão e o frio no inverno. Todavia, a ilusão oposta, a fantasia de que podemos erradicar as emoções negativas, é o que provoca uma grande parte das neuroses e do sofrimento humano." - Rafael Santandreu

sexta-feira, 27 de outubro de 2017





"A vida é como um rio. Por vezes as águas ficam crispadas e outras vezes acalmam-se; por vezes configuram uma cascata e outras vezes um lago. Há correntes afortunadas e outras desafortunadas. O rio da vida dá voltas e reviravoltas; as suas águas por vezes são claras e transparentes e outras são turvas e lamacentas. Mas o rio continua a sua marcha desde o nascimento até à morte. Podemos encontrar o ponto de menor resistência e continuar a fluir, ou gerar conflito e mal-estar; podemos aplicar a sabedoria para saber quando há que aceitar ou não, ou deixarmo-nos afogar pela ofuscação e a estupidez. Há que saber respeitar o curso dos acontecimentos e «apressar-se lentamente» (Milarepa). Há momentos para tomar e momentos para largar; instantes para forçar e instantes para abandonar. A mente conflituosa cria rejeição, tensão, confronto e destrói-se a si mesma. A mente serena, desde a sua firmeza, sabe ultrapassar sabiamente e com equanimidade os obstáculos, ou superá-los sem gerar maior tensão e dor." - Ramiro Calle

quinta-feira, 26 de outubro de 2017





"É melhor não desperdiçar tempo e energia a tentar culpar os outros pela sua infelicidade.

Ninguém devia conseguir afectar a qualidade da sua vida.

E... adivinhe?

Ninguém consegue!

A não ser você, claro está, com os seus próprios pensamentos e comportamentos, em resposta ao que os outros fazem." - Ernie Zelinski

quarta-feira, 25 de outubro de 2017





"O mundo antigo, em particular o mundo greco-romano, não acreditava nos ideais abstractos, longínquos e irrealizáveis. Suspeitava dos fanatismos. Desconfiava dos excessos sentimentais. Por isso dava tanta importância à amizade. Porque, na amizade, a distância entre o ideal e o real deve ser curta. Na amizade, não podemos apregoar uma coisa e fazer outra. Na amizade, os pactos são respeitados, a confiança é merecida. A amizade tem de ser leal, sincera, límpida. O amigo tem de querer o bem do amigo, não por palavras mas concretamente. Tem de estar presente no momento da necessidade. Quem é beneficiado não deve nem aproveitar-se nem maçar com agradecimentos. Na amizade não se pode enganar, não se pode fazer mal. Nunca, nem uma única vez. Na amizade, é preciso saber ver as qualidades do outro e valorizá-las. O amigo tem de ser aberto, cheio de vida, alegre. Não deve aborrecer, não deve ser maçador. Um amigo nem sequer deve ser demasiado generoso, não deve cumular o outro de ofertas, porque, se assim fizer, suscita a necessidade de retribuição, cria obrigações de gratidão que são demasiado pesadas. A amizade deve ser sempre fresca, leve, mesmo quando é heroica. A amizade diz sempre «não tem de quê». Esses são os ideais da amizade. Não pede que dê tudo, que se beijem os leprosos, que se minta em tribunal. Não pede sequer para viverdebaixo do mesmo tecto. Mas exige aquilo que quer. E, se não lhe for dado, julga e condena. Depois de condenar, muito dificilmente perdoa. Não castiga, não ameaça, não exerce represálias, não faz chantagem. Simplesmente, desvanece-se. Se as suas regras não são respeitadas, a amizade desaparece. Provavelmente, não há nenhuma outra relação humana em que o real tenha de estar sempre tão perto do ideal. É a relação que menos suporta o exagero e os mexericos. Compreendemos assim por que motivo a amizade parece tão frágil e porque há tanta gente que se diz desiludida com a amizade. Esses confundiram-na com qualquer outra coisa, não quiseram ter em conta as regras do jogo. Também estão errados os que dizem que havia amizade na antiguidade, mas que ela desapareceu no mundo moderno. A amizade existia nos tempos de Confúcio e existe nos dias de hoje. Não há qualquer motivo que nos leve a pensar que vai desaparecer no futuro." - Francesco Alberoni

segunda-feira, 23 de outubro de 2017






"Com um pouco de prática, todos nos podemos tornar mais racionais, fortes e felizes, mas, claro!, haverá sempre momentos de loucura transitória; há sempre porque o ser humano é falível por natureza. Nesses momentos, iremos exagerar os problemas até parecer que estamos a um passo de um abismo que não existe, até parecer que a situação é insustentável: um barco que se afunda!

O importante nestes casos é «evitar evitar». Não pôr marcha-atrás, não recuar. Porque evitar uma determinada situação desencadeia um fenómeno de aumento de mal-estar, de espectacular crescimento das «neuras». 

Cada vez que - por medo ou vergonha, tristeza ou ira - violamos um compromisso pessoal, estamos a juntar lenha à fogueira da nossa neurose, a tornar-nos mais débeis. Mais concretamente, cada vez que decidimos pôr marcha-atrás por causa de emoções negativas:

a) Aumentamos a nossa sensibilidade ao medo, à vergonha e à preguiça (o que pode chegar a extremos insólitos).

b) Somos invadidos por uma profunda confusão: afinal, o que quero? Em que direcção devo ir?

c) Somos tomados pela sensação de que a vida é pouco interessante.

Se nos habituarmos a cumprir os nossos compromissos, sobretudo os pessoais, tornar-nos-emos pessoas maduras, capazes de conseguir facilmente aquilo a que se propõem, e cujas emoções negativas são serenas, razoáveis e de certa utilidade." - Rafael Santandreu


domingo, 22 de outubro de 2017





"O conhecimento é informação, dados, opiniões reunidas; a sabedoria é conhecimento vivo, experiência, compreensão clara, entendimento livre de juízos e preconceitos. O conhecimento é superficial, parcial e condicionado; a sabedoria vê no modo final de ser das coisas e liberta-se dos conhecimentos produzidos por modelos, padrões, esquemas e preconceitos. O conhecimento baseia-se no pensamento e no que está para lá do pensamento. O conhecimento passamo-lo uns aos outros, é de todos e de ninguém; a sabedoria é pessoal e não é transferível; eu posso dar-te conhecimento e tu podes dar-me conhecimento, mas nem eu te posso dar a minha sabedoria nem tu me podes dar a tua. O conhecimento informa, a sabedoria liberta. O conhecimento ilustra, a sabedoria transforma. O conhecimento usa a mente, a sabedoria, a mente e o coração." - Ramiro Calle

sábado, 21 de outubro de 2017





"Compreenda que aquilo que quer não é aquilo de que precisa.

Todas as suas necessidades estão satisfeitas hoje.

E têm estado desde que nasceu.

Caso contrário, não estaria vivo. 

Pode passar sem a maior parte das coisas que quer, pelo menos durante uma semana ou duas.

Se prescindir de uma das coisas que quer durante tempo suficiente, é provável que deixe de a querer." - Ernie Zelinski

sexta-feira, 20 de outubro de 2017





"Partilhar os sentimentos com os outros é um acto de coragem, e esses sentimentos, se forem positivos, representam uma considerável contribuição para a balança emocional.

O certo é que nos mostramos renitentes a partilhar os nossos sentimentos com os outros. Morremos de medo da reacção que possam ter, e temos a sensação de que seremos mais vulneráveis se nos despirmos das nossas emoções em frente a outras pessoas.

Nas nossa relações, especialmente nas profissionais ou de trabalho, encerramos sentimentos no nosso interior e desperdiçamos oportunidades, umas atrás das outras, de os partilharmos com os demais. 

Dedicamos significativas quantidades de tempo a falar de todo o tipo de coisas com os outros, quando o que realmente importa numa relação somos nós mesmos e o que sentimos uns pelos outros. As relações que nos tocam profundamente, ao ponto de partilharmos as nossas emoções, perdem em seguida o seu valor, desvanecem-se, desaparecem. Não nos podemos sentir próximos uns dos outros se não dissermos o que sentimos, se os nossos encontros estiverem cheios de lugares-comuns e de conversas vazias, em vez de partilharmos as nossas emoções e os nossos sentimentos. 

Partilhar os sentimentos carrega positivamente a balança emocional, dá valor às relações e, inclusivamente, em algumas ocasiões, pode significar um inequívoco ponto de inflexão..." - Ferran Ramon-Cortés

quinta-feira, 19 de outubro de 2017





"A maioria das pessoas vive infeliz. Cresce, depressa demais, das fantasias da adolescência, em torno da sexualidade, para as experiências de pais. No entretanto, há a formação académica, o deslumbramento do primeiro emprego, as responsabilidades que ele exige, o furor dum carro novo. E a casa, claro. A maioria das pessoas esquece-se - quase sem dar por isso - que, entre todos os compromissos, estão, também, as respectivas famílias (nem que, por vezes, algumas dessas pessoas estejam, apenas, a um sms de distância). E esquece-se de namorar (todos os dias). E de brincar: com as crianças e sem elas. Esquece-se de descansar. E de cultivar a sensibilidade. Quando dá por si, a maioria das pessoas tem a hierarquia das suas prioridades virada do avesso. Muito depressa o trabalho aparece em primeiro lugar, filhos em segundo, família, logo a seguir. A maioria das pessoas vive infeliz porque acaba por não gerir a vida. (Não que ela precise duma gestão sofisticada. Precisa, mais, de ser compreendida. Para que, depois, pareça andar em piloto automático.) Mas, com tanta atribulação de compromissos fora do lugar, é fácil que todos nós nos descuidemos nos pequenos gestos com que se tecem as relações. (Qual foi a última vez, no último mês, que disse a uma pessoa importante para si que gosta dela? Ou que a abraçou, só porque sim? Todos nos refugiamos da mesma forma, não é? «Mas ela sabe!...» Saberá?...) Descuidos acumulados geram desamparos. E os desamparos acumulados são os melhores amigos da depressão. Por outras palavras, todos nos deprimimos por falta de mimo. Ou por falta de colo, simplesmente. Em resumo: por mau uso do nosso coração. E deprimir, veja bem, não supõe que andemos a chorar, continuadamente. Mas, pelo contrário, que hoje deixemos de tomar o pequeno-almoço numa esplanada, com o jornal esparramado (se isso nos dá prazer). Amanhã, que facilitemos no modo como nos abonecamos. E que, depois, embrulhemos aquilo que sentimos em silêncio. Quando passamos a ter uma relação deprimida com a vida, pergunta você? Quando, em vez de sentirmos que o melhor do mundo é o futuro, temos saudades daquilo que já fomos. A depressão é amiga duma imensíssima maioria silenciosa de pessoas... Mas como se pode amar e sentirmo-nos deprimidos, ao mesmo tempo?

Como se só isso não fosse, só por si, uma factura que chegasse, todos somos, profundamente, atentos e por demais sensíveis. (Não sei quem inventou esta epidemia atípica de défice de atenção que, pelos vistos, parece assolar todas as crianças. Receio que tenha sido dos poucos distraídos que talvez existam por aí.) Registamos tudo sobre quase tudo. E, registamos mais, ainda, quando isso nos chega pela mão de quem é precioso ou, simplesmente, importante (por pouco que seja) para nós. Pensamos sem querer e sem dar por isso. E como falamos de uma forma complicada, passamos a vida a «varrer» o que sentimos para debaixo do tapete. Sempre que desistimos de falar acerca do que sentimos desistimos mais um bocadinho dessa pessoa. E afastamo-nos dela mais 10 centímetros. Pelo menos. E cresce em nós a despensa dos pensamentos por pensar. (A ela podemos, com todo o rigor, chamar angústia. Ou sofrimento mental. Se preferir.)

O silêncio é o melhor amigo da angústia. (Se quiser chamar à angústia ressentimentos, pode fazê-lo, porque é disso que se trata. São sentimentos que foram atropelados pela falta de palavras e ficaram na tal despensa dos pensamentos por pensar. Mas como dos ressentimentos ao rancor há um único degrau a separá-los, amealhamos pequenas iras que jogamos, a pretexto de um motivo ridículo, dois anos depois. E, quando é assim, divorciamo-nos, em suaves prestações. Nunca nos divorciamos sozinhos, como vê. Mas divorciamo-nos por falta de namoro e de colo. E - sempre! - por mútuo consentimento.)

São muito raras as relações que começam por ser um grande amor. Relações onde alguém saiba sempre um pouco mais de nós do que nós próprios. Mas, mesmo que comecem assim, os descuidos e os desamparos fazem com que a maioria das relações amorosas se vá fraternizando. E, pior, faz com que (muitas vezes) deixem de ser relações fraternas e se transformem em relações parentificadas. Vou-me repetir: qual foi a última vez, no último ano, que dissemos a quem nos ama, «Gosto de ti!», só porque sim? E a última em que abraçámos, com força, essa pessoa, num dia com tudo o que um dia tem para ser banal? Sempre que poupamos nos gestos divorciamo-nos devagarinho. (Era mais isto que eu queria dizer.)

Na verdade, a maioria das pessoas sente, muito depressa, que fica encurralada em compromissos. Vive como se fosse morrendo, para a vida, todos os dias. E, pior, sente (em inúmeras circunstâncias) que dorme com o «inimigo». A maioria das pessoas sente que passou, cedo demais, das fantasias em torno da sexualidade, da adolescência, para a pré-reforma com a vida. Sem nunca namorar com ela. Como se muito cedo se tivesse tornado, para sempre, tarde demais.

Somos todos um bocadinho assim, acredite. Até à altura em que um rasgo de sabedoria, uma nova pessoa na nossa vida, ou uma perda, por exemplo, façam de «supercalifragilisticexpialidocious»! E se inicie, com isso, a nossa redenção.

É por tudo isto que eu acho que devia ser proibido casar com o primeiro namorado. E, já agora, casar para sempre. Se errar é aprender, porque é que há quem queira que acertemos nas relações amorosas à primeira? Como em tudo o que nos torna sábios, precisamos de errar para aprender. E precisamos de namorar para descobrir, em função do que vivemos, o perfil da pessoa que queremos para nós. As qualidades descobrem-se com a experiência! Não, não tenho, como suponho que imagina, nada contra as relações para sempre. Mas tenho tudo contra as relações onde, depois de alguém dizer: «Amo-te!» (duma forma que nem sempre o outro consegue entender) está autorizado a desmazelar-se para os mimos. Porque é que depois de uma pessoa aceitar um namoro a outra está autorizada a poupar nos galanteios? E porque é que se distrai e desampara? E porque é que deixa de ser gentil e se descuida?

Todas as relações morrem. Todas. Sobretudo as mais preciosas. Porque só a essas pessoas exigimos que nos dêem, para sempre, os gestos e as palavras ao nível de tudo o que já deram. Ora, quando alguém nos decepciona, morre um bocadinho dentro de nós. (A forma habitual dessa morte silenciosa é: «Apetecia-me dizer-lhe duas coisas... Mas não vale a pena. Sei que não vai entender...») Quando alguém morre um bocadinho dentro de nós morremos para a vida nesse morrer. Assim serão as relações amorosas: ou nos dão vida ou tiram vida. Nunca têm como nos fazer «desfelizes», simplesmente.

Somos sempre tão pequeninos diante do amor! Não que ele seja uma tarefa desmedida. Pelo contrário. O amor é, entre todas as relações, seguramente, a mais simples. Mas atropelam-se tantas páginas em branco nos nossos gestos! Fomos tão ensinados a ser tão pouco transparentes, tão pouco espontâneos e tão pouco autênticos que são as palavras que não dizemos, quando sentimos, que nos azedam para o amor e nos trazem muitos «nunca mais». Todos nós nos desencontramos para o amor. Porque toda a verdade num gesto só é muito difícil! E porque somos mais vezes sabichões que sábios. Sobretudo, diante do amor. E porque pedimos desculpa poucas vezes. É difícil termos uma experiência riquíssima e complexa, e sermos claros e expeditos, sempre que a confiamos aos outros! É difícil sermos sábios e sermos simples. E será por isso que, à medida que crescemos, estamos mais habilitados para amar e mais distanciáveis do amor.

A mim parece-me que, sempre que nos sentimos amados, nos tornamos um bocadinho egocêntricos. Quando nos sentimos o melhor do mundo para alguém compreende-se que seja assim. Mas, mais tarde ou mais cedo, as pessoas que nos amam desencontram-se do nosso crescimento e, no lugar do seu amor, deixam, sobretudo, descuido e desamparo. Sempre que queremos ser os melhores do mundo deixámos de nos sentir o melhor do mundo para alguém. E ninguém nos avisa. E, porque fomos mimados, logo imaginamos que a vida está apinhada de fadas-madrinhas. E que, sem que seja preciso criarmos oportunidades para o amor, ele virá, acidental, ao nosso encontro. Mas, histórias à parte, dar oportunidades ao amor é não permanecer barricado nos mesmos grupos de amigos que vêm da escola, nem nas relações de trabalho, de todos os dias. As universidades casam as pessoas e um colega de trabalho encarrega-se, muitas vezes, de as divorciar, porque as pessoas dão poucas oportunidades ao amor. Porque se aventuram pouco por grupos diferentes: sejam uma escola de dança, um grupo de voluntariado ou uma pós-graduação qualquer.

Eu acho que, à medida que nos tornamos mais velhos, aumentam as probabilidades de encontrarmos «a pessoa» da nossa vida e as probabilidade de ficarmos sozinhos. A mim preocupa-me que, quando se fala do amor, se fale quase sempre do passado e quase nunca do futuro. Crescer, para muitas pessoas, é uma espécie de promoção pelas escadas abaixo. E é por isso que o amor, para a maioria delas, é um amor triste. Não fossem os filhos, de quem se vão desencontrando tantas vezes, e o amor transformava-se num lugar perdido lá para trás. Ora, como se pode amar querendo que o tempo volte para trás?

Receio que, à parte do amor dos pais, as pessoas sintam que morreram para o amor cedo demais. Por mau uso da sabedoria, certamente. Às vezes, falam dessas experiências, ainda assim, duma maneira ternurenta. Sobretudo as mulheres. Mesmo aquelas que são amigas da estatística. Sempre que têm uma relação que correu mal, e outra relação que correu mal e outra relação que correu mal afirmam - com a propriedade que só uma amostra representativa (!) de três pessoas lhe traz - que «os homens são todos iguais»! Porque vivem carcomidas pela culpa, jogam-na toda sobre os outros. Mas somos todos um bocadinho assim! Muitas pessoas que não acreditam no amor vivem casos de fim de semana. E isso é mau. Sobretudo quando, de relação em relação, se certificam de tudo o que supunham saber sobre o amor e procuram, sem dar por isso, mais quem confirme as suas falhas do que quem interpele os seus sonhos.

Eu acho que a maioria das pessoas se sente infeliz porque, no fundo, sofre de tanto cultivar um amor sem objecto. Um amor à procura de um amante. Acho, mesmo, que a maior parte das pessoas não é amável, todos os dias, porque vive - com uma culpa secreta - esses falhanços. Só não somos amáveis para os outros quando nos sentimos mal amados por quem amámos. Não sendo amáveis nunca seremos amantes. Amáveis, no sentido de nos abrirmos, sem reservas, para o amor. Amantes como forma de darmos, sem reservas, amor. E é por tudo isto que sempre que chegamos a casa e sentimos que não temos ninguém à nossa espera, somos infelizes. Somos infelizes quando descobrimos, de surpresa, que não há ninguém que nos faça voltar para casa um pouco mais depressa." - Eduardo Sá

quarta-feira, 18 de outubro de 2017





"Será realmente um problema o vazio que subsiste quando pomos de parte uma obsessão? Será possível sentir-se bem sem trabalhar todos os fins de semana, sem fugir constantemente das calorias?

A resposta é «sim» porque o ser humano pode ser imensamente feliz sem fazer absolutamente nada.

Não há nada mais belo e valioso do que saber não fazer nada, desfrutar de contemplar as árvores, as cores, de deixar passar o tempo e sentir «o conforto da existência».

Será possível estarmos bem sem fazer nada? Claro que sim! Não é preciso andar a correr ou ocupar desesperadamente o tempo, nem ter projectos ou metas: basta desfrutar de estar vivo." - Rafael Santandreu

terça-feira, 17 de outubro de 2017





"O medo é um aliado, um amigo na aventura da sobrevivência. É um código muito enraizado e profundo. O nosso medo é o medo do anfíbio, do réptil, do mamífero. O medo faz-nos reagir perante uma situação ameaçadora. Mas na mente mais sofisticada do ser humano, o medo assume características muito especiais. Estamos cheios de medos aprendidos, de medos que não são nada além da lembrança da dor; de medos que procedem de conflitos internos por resolver ou de uma mente descontrolada. Medos que são resultado da nossa imaginação ou da nossa percepção distorcida, ou de uma interpretação incorrecta. E também há os medos do medo e todos esses outros medos que nascem do nosso ego quando se sente rejeitado ou posto em causa. A mente velada provoca muitos medos que não são razoáveis. A mente velada distorce a percepção, turva a cognição e falseia a interpretação. Podemos acreditar que há uma serpente no nosso copo, ou que um amigo mais fiel nos está a trair, ou que estamos doentes mesmo estando pletoricamente saudáveis. O medo como código de sobrevivência defende; o medo que está enraizado na imaginação limita e perturba." - Ramiro Calle

segunda-feira, 16 de outubro de 2017





"Tão importante como decidir o que quer da vida é decidir o que não quer.

Permita a si próprio prescindir das coisas que não o fazem feliz.

Estranhamente, nem sempre são essas as coisas mais fáceis de se prescindir." - Ernie Zelinski

domingo, 15 de outubro de 2017





"Na sociedade, nas empresas, nos grupos e também nas famílias, há pessoas invisíveis, que não existem aos olhos dos demais. Empregados que nunca ninguém saúda de manhã, vigilantes de estabelecimentos que vêm passar as pessoas ao seu lado sem que estas tenham sequer um gesto de cordialidade, amigos dos quais ninguém se lembra na altura de organizar um jantar... Resumindo: pessoas que parece que não existem. E ser invisível aos olhos dos outros é uma das experiências mais duras que alguém pode viver. 

Reconhecer a presença das pessoas invisíveis é uma considerável contribuição positiva para a balança emocional, uma vez que significa, nem mais nem menos, fazer delas pessoas. Pessoas valiosas e dignas da nossa atenção e do nosso apreço.

Todos temos pessoas à nossa volta que, sem querer, tornamos invisíveis, e basta uma pequena conversa, algumas palavras ou um simples gesto para que elas deixem de o ser. Basta fazê-las ver que existem, que não passam despercebidas aos nossos olhos e que nós nos apercebemos de que, naquela manhã, estão com boa cara ou má cara ou de que, naquela noite, tudo está bem ou algo se passa com elas.

Vivemos numa sociedade com pressa, com hiperactividade, com muito para fazer e pouco tempo para o fazer. Mas não nos devemos esquecer da pequena comunicação diária que reconhece e dá valor à presença dos outros. É extremamente valioso em termos de balança emocional (além de também ser um sinal de boa educação) saudar todas as pessoas ao entrar no escritório e despedir-se delas ao ir embora.

Há sempre uma palavra que podemos dizer e que faz com que nos agradeçam profundamente por isso. Uma palavra que reconhece o outro e o valor daquilo que faz. Uma palavra ou, por vezes, um gesto. Porque há gestos que descrevem melhor do que as palavras os sentimentos que queremos expressar." - Ferran Ramon-Cortés

sábado, 14 de outubro de 2017





"(...) como o milho durante a noite."

Henry David Thoreau


"É extremamente gratificante para mim observar alguém que descobre a realidade destas palavras: não tem de fazer nada para que aconteça algo de muito importante. 

Nesta feliz descoberta, há alegria, liberdade, a sensação de não existir qualquer pressão, nem ansiedade em relação ao desempenho, nem um teste no final, e de não ser necessário prestar contas a uma autoridade sobre uma utilização proveitosa do tempo, nem qualquer preocupação sobre o que virá a seguir, não existem lições importantes a tirar nem pensamentos profundos a ponderar.

Quando reservamos alguns momentos dos nossos dias agitados para Parar e recordar, existe apenas o agora. E agora. E agora...

Então, como funciona o Parar? Empregando as palavras de Thoreau, crescemos "como o milho durante a noite". Acontece por si só.

Tal como o milho, também você foi plantado, regado e nutrido. Agora, deixe que tudo se conjugue, e o que tiver de acontecer, acontecerá. Tentar fazer seja o que for durante o Parar só vai estragar tudo.

O que podemos então fazer para ajudar o milho a crescer durante a noite?

Deixá-lo em paz." - David Kundtz

sexta-feira, 13 de outubro de 2017





"A vida é feita de constante mudança. O universo vive em perpétua transformação como as ondas ou as marés do mar. Esse movimento é uma das maravilhas da vida. E, nós, filhos da natureza, estamos preparados para desfrutar dessa dinâmica.

Primeiro somos crianças efervescentes e brincalhonas; depois, jovens plenos de energia e fascinados pela descoberta. Mais tarde, a maturidade permite-nos empreender projectos à nossa medida. Na velhice, a paz e equanimidade dão-nos a capacidade de desfrutar das pequenas coisas... Cada etapa fecha uma porta para logo abrir outra. A vida é feita de constante renovação.

Contudo, por vezes o ser humano imagina que seria melhor se as coisas fossem estáticas: ser menino para sempre, ser jovem para sempre... É uma ilusão: a ordem natural das coisas é a melhor das ordens possíveis. Foi concebida por uma força que desconhecemos, enorme e sábia, quer lhe chamemos Deus, universo ou natureza. Não a devemos contradizer levianamente." - Rafael Santandreu

quinta-feira, 12 de outubro de 2017






"Para ser bem-sucedido neste jogo chamado vida, muitas vezes é preciso não se esforçar tanto.

Arranje tempo para parar e pensar naquilo que realmente quer.

As respostas podem surpreendê-lo." - Ernie Zelinski


«Infelicidade é não sabermos o que 


queremos, e matarmo-nos para o conseguir.» - Don Herold

quarta-feira, 11 de outubro de 2017





"Todos já sentimos em alguma ocasião a dor causada pelos «ataques de sinceridade» daqueles que nos rodeiam. Uma sinceridade directa, implacável, praticada por alguém que sente a imperiosa necessidade de nos dizer algo e, apoiando-se na virtude da sinceridade, solta tudo sem estribeiras e sem pensar no efeito que as suas palavras podem produzir em nós. Uma sinceridade seguramente exercida com boas intenções (aqueles que, num dado momento, nos dizem o que «nos têm de dizer» fazem-no frequentemente convictos de que é para o nosso bem), mas que cai em cima, como puro chumbo, do prato malévolo da balança emocional, deixando-a num grave desequilíbrio.

Os momentos de vulnerabilidade emocional do outro não são para reflexões racionais nem para juízos críticos ou para repreensões. São momentos para muita empatia, muita escuta e, seguramente, poucas palavras e grandes silêncios. Chegará a oportunidade, quando as águas serenarem e o outro se sentir mais forte, de o brindar com a nossa sinceridade - se ainda o considerarmos oportuno.

Acredito na ideia de que a sinceridade não é uma virtude pessoal, que só preocupa um, mas sim uma virtude interpessoal, que necessariamente tem de ter em conta o outro na hora de ser posta em prática. Não é nenhuma virtude dizer aos outros, sempre e em toda a parte, aquilo em que estamos a pensar, usando o nobre álibi «sou muito sincero». É, pelo contrário, uma grande virtude dizer-lhes tudo aquilo que os pode ajudar e que achamos que estão preparados para ouvir.

São muitos os que, sem nenhuma prevenção, nos querem obsequiar com a sua aparentemente bem-intencionada sinceridade: todos aqueles que nos dizem sempre, sem necessidade, tudo aquilo que pensam, sem terem em conta as consequências. Eu, perante uma situação assim, utilizo uma resposta do meu apreciado e falecido professor. «Quando me dizem: "Desculpa, mas tenho de to dizer", a minha resposta é automática: "Tens de mo dizer? Pois então sinto muito, mas não o quero ouvir".»

Porém, impor limites à sinceridade não há de significar nem há de ter como consequência esconder as coisas. Numa boa relação, mais tarde ou mais cedo tudo se tem de dizer. Esconder a verdade aos outros não é algo que ajude a longo prazo, bem pelo contrário. Mas, para se dizer as coisas de uma forma que contribua positivamente para a balança emocional, tem de se encontrar o momento oportuno, o tom oportuno e o ritmo oportuno.

Porque há coisas que, ditas como por vezes se dizem, soam absolutamente inoportunas." - Ferran Ramon-Cortés

terça-feira, 10 de outubro de 2017





"O centro do mundo é em qualquer lugar."

Black Elk


"Em qualquer lugar. Especialmente aqui e agora. O sítio onde você se encontra agora é o centro do mundo. Não porque você seja a pessoa mais importante do mundo, não porque o mundo gire à sua volta, mas sim porque você é tão importante como qualquer outra pessoa e o mundo que você apreende gira à sua volta.

A forma como cada um de nós geralmente vê o mundo é um centro ou um ponto a partir do qual tudo passa para o consciente.

A dificuldade consiste em ver todo o círculo do mundo do ponto em que nos encontramos no momento. Frequentemente o que vemos é uma imitação deplorável, porque somos cegados por expectativas limitadas, esperanças insignificantes e anseios prosaicos.

O conjunto dos círculos do mundo incluirá o nosso círculo único, como um dos muitos que se enquadram no plano do mundo. Quando o conseguirmos ver, alcançaremos a paz que advém de estar no sítio certo, na hora certa." - David Kundtz

segunda-feira, 9 de outubro de 2017





"Nós, seres humanos, só ficamos deprimidos perante um abandono porque não pensamos como deveríamos, porque nos apoiamos num sistema de valores inadequado. Ninguém se deveria entristecer tanto por um motivo desses! Fazê-lo é trair a maravilha que é a vida.

O amor romântico é bonito, mas a vida é ainda mais. Muito mais!

Quando nos inscrevemos na ficção de que precisamos de alguém para sermos felizes, estamos a diminuir a nossa capacidade de gozar o mundo. Pomos todos os ovos num cesto e comprometemo-nos a sobreviver para sempre à base de tortilhas. Mas a vida é muito mais do que isso: é pão, massa, chocolate, café e uma infinidade de alimentos! É amor fraternal, diversão, aprendizagem, descoberta, contemplação, admiração... Para uma pessoa sã, a vida é deslumbrante como nunca o será para um apaixonado neurótico!

A sociedade actual sobrevaloriza o amor romântico. Há muitos indícios que o comprovam:

a) A maior parte das pessoas vivem em casal e, contudo, isso não as faz vibrar de felicidade. Se o amor sentimental fosse assim tão importante, essas pessoas estariam constantemente a cantar de alegria.

b) Grandes grupos de pessoas felizes - monges e freiras de todas as religiões - ignoram este aspecto por completo.

Com isto não pretendo dizer que o amor romântico é irrelevante. Nada é irrelevante - e ainda menos algo que se traduz no carinho entre pessoas -, mas muita coisa é prescindível. Fazer dele uma exigência vital torna-nos menos capazes de gozar tudo aquilo que nos rodeia." - Rafael Santandreu

domingo, 8 de outubro de 2017





"Entre os enganos e os erros básicos da mente, um dos mais habituais é a tendência para culpar, para fazer acusações ou exprobrações aos outros a até recriminá-los, quando o que realmente precisam, naquele momento, é de toda a nossa ajuda. Há que despertar a sensibilidade para nos sabermos identificar com as aflições e dificuldades alheias e pôr os meios que tivermos para as aliviar." - Ramiro Calle

sábado, 7 de outubro de 2017





"Para criar mais tempo para apreciar esse fenómeno misterioso e imprevisível chamado vida, minimize o tempo que passa à procura do seu segredo.

Pessoas mais sábias do que você e eu já o tentaram, sem grande sucesso.

Além disso, não precisa de compreender completamente a vida para a apreciar." - Ernie Zelinski

sexta-feira, 6 de outubro de 2017





"Confiar no próximo é um dos reforços emocionais mais valiosos numa relação. Pôr em dúvida a sua palavra é um dos maiores danos emocionais.

Costumamos duvidar dos outros quando aquilo que nos colocam difere daquilo que é a nossa opinião já formada ou dos nossos valores. E isso não deixa de ser, de certa forma, um acto de vaidade. Actuamos - sem darmos conta disso - sob a premissa de que «se não é aquilo que penso, é porque está errado».

Também pomos frequentemente em cheque a palavra daqueles que já se enganaram antes, acreditando no refrão «quem faz uma faz duas».

E há um terceiro motivo que nos leva a não aceitar a palavra do outro: o medo. O medo de que essa pessoa tenha razão e das consequências disso.

Em todo o caso, no acto de colocar em dúvida a palavra do outro há uma manifesta falta de atenção, de valorização e de consideração da sua opinião, de ouvir a verdade sem prejuízos. E tudo isso não é emocionalmente neutro para a relação.

Duvidar da palavra do outro abre uma importante brecha na confiança e deixa a balança emocional perigosamente inclinada para o lado mau. Uma relação sólida assenta em ser-se sincero e, ao mesmo tempo, em não se duvidar da sinceridade do outro. Ainda que a sinceridade, numa relação, também tenha os seus limites. Uma sinceridade mal interpretada também pode ser sinónimo de chumbo na balança..." - Ferran Ramon-Cortés

quinta-feira, 5 de outubro de 2017





"Se libertares o que está dentro de ti, aquilo que libertaste salvar-te-á. Se não libertares o que está dentro de ti, aquilo que não libertaste destruir-te-á."

Jesus


"Estas palavras abordam de uma forma tão franca, directa e sucinta as necessidades da nossa era actual, que é tentador afirmar que existiu um factor providencial na ocasião da sua descoberta.

Se o que libertarmos de dentro de nós nos pode salvar, então é porque são coisas maravilhosas e fantásticas para a nossa contemplação. Deve significar que é dentro de nós que devemos procurar a nossa verdade, e não noutro sítio qualquer.

Foi a força destas palavras que prendeu de imediato a minha atenção. São incisivas e claras: não dão lugar a equívocos. Ou você deita cá para fora o que está dentro de si, ou isso acabará por o destruir.

Jesus refere-se por meio destas palavras à componente fundamental do circuito da vida: o que está dentro de si deve ser anunciado (ou seja, literalmente, a forma como você vive a sua vida) e os outros recebem-no (quer seja com aplausos quer com desdém), e volta então novamente para si. Você recebe-o, agora modificado, analisa-o de novo, e volta a manifestá-lo, formando esse círculo infinito de vida, de comunicação - e, na verdade, de amor.

Para que o processo funcione, precisa de aplicar o primeiro passo indispensável: tempo, serenidade e paz para observar e apreciar o que existe dentro de si." - David Kundtz

quarta-feira, 4 de outubro de 2017





"Qualquer mudança, para ser profunda e duradoura, deve ser voluntária, porque, sendo forçada, não a tornamos nossa, não a retemos.

Em muitos lares de todo o mundo têm lugar cenas pedagógicas como esta:

A nossa mãe entra em casa e vê que deixámos as sapatilhas no meio da sala. Aborrece-se e diz-nos:

- Já te disse mil vezes que tens de deixar as tuas coisas arrumadas! Vai guardar imediatamente as sapatilhas na sapateira.

A pergunta é a seguinte: se obedecermos e as guardarmos no seu devido sítio, a nossa acção tem algum mérito? Não, o estrito cumprimento de uma ordem nunca o tem. Porque nenhuma acção forçada produz sensação de bem-estar, de domínio, de realização.

O máximo que uma criança pode fazer em semelhantes circunstâncias é obedecer; nunca transformar-se. O que significa que nunca reterá essa aprendizagem.

Eu recomendo sempre um modo diferente de educar:

- Filho, ouve o que te digo: guardar sempre as sapatilhas na sapateira tem as suas vantagens: a casa fica mais bonita e sabes sempre onde estão; assim não perdes tempo a procurá-las. É muito fácil uma pessoa habituar-se à arrumação! Tu és capaz de o fazer mas, se não o fizeres, não faz mal, porque eu o farei por ti. Seria fantástico que ganhasses esse hábito, mas não acontecerá nada de mal se assim não for.

Quando sugerimos a mudança desta maneira, isto é, de forma voluntária, pode suceder que a criança passe a pôr, ou não, as sapatilhas no devido lugar, mas, se o fizer, será para sempre, sem necessidade de repetir o conselho.

O ser humano interioriza facilmente hábitos que lhe proporcionam bem-estar, que o fazem sentir-se bem. Mas é preciso que esses hábitos decorram de acções voluntárias, dotadas de mérito, e que proporcionem um certo orgulho pessoal.

Nunca conheci um miúdo que resistisse à tentação de tentar fazer algo excepcionalmente bem. No dia em que arrumar - voluntariamente - as sapatilhas no sítio, a criança sentir-se-á esplêndida: mais madura, mais capaz, mais forte.

Se ensinarmos os mais novos desta maneira, seremos testemunhas de cenas tão divertidas como esta; chegará o dia em que a criança dirá ao seu irmão mais novo:

- Não sabes pôr as sapatilhas no sítio? Eu ensino-te: guardam-se na sapateira: assim a casa fica bonita e arrumada e, sempre que precisares delas, sabes onde as encontrar!

Esta criança terá incorporado a mudança no seu repertório de atributos e costumes para o resto da sua vida. Isto, sim, é um rico negócio!

Qualquer aquisição duradoura e valiosa tem de ser fruto do interesse, da curiosidade, da diversão e do mérito. Tudo o resto é um enorme desperdício de tempo e de energia: é má educação." - Rafael Santandreu

terça-feira, 3 de outubro de 2017





"Simplesmente estar; maravilhosamente ser. Sem perseguir nada, sem esperar nada. Ser. Quando começamos a ser, também começamos a ser nós próprios e descobrimos uma dimensão profunda de nós mesmos. Sem ir, sem vir; sem recordar, nem projectar, ser. É um magnífico exercício e esta arte da detenção equilibra-nos e acalma-nos. É harmonia." - Ramiro Calle

segunda-feira, 2 de outubro de 2017





"Cada gesto, cada olhar, cada dádiva e cada recebimento, cada pequena cintilação de ternura e compaixão, cada abraço e cada beijo são actos de beleza que nos permitem aceder à grandeza desse amor uno, desse amor divino, primordial e integrador que dá sentido às nossas vidas.

O amor só pode ser comprometido. Não pode existir de uma forma parcial ou esporádica. Talvez devido à sua força e beleza, se o amor não for excessivo, não é suficiente." - Xavier Guix

domingo, 1 de outubro de 2017





"A energia não se cria nem se destrói, só se transforma. As relações, pelo contrário, criam-se, destroem-se e, inevitavelmente, transformam-nos. Criam-se se estivermos determinados a criá-las e se fizermos tudo aquilo que é necessário para que isso aconteça.

Destroem-se se não cuidarmos delas, se não as mantivermos vivas, e se os nossos comportamentos as puserem em perigo. E inevitavelmente transformam-nos, pois crescemos como profissionais e como pessoas na relação com os outros. 

Construir relações é uma arte, e tudo aquilo que fazemos pelos outros tem efeito nas relações que mantemos ou que estamos a criar com eles." - Ferran Ramon-Cortés