quinta-feira, 30 de novembro de 2017





"Não desperdice tempo a dar conselhos aos outros.

Só pode perder ou ficar na mesma.

Se os conselhos resultarem mal, a pessoa ficará zangada consigo.

Se os conselhos forem bons, a pessoa esquecerá que foi você que lhos deu." - Ernie Zelinski

quarta-feira, 29 de novembro de 2017





"Isto de ser humano é como uma casa de hóspedes

Todas as manhãs uma nova chegada

Uma alegria, uma depressão, uma maldade,

alguma consciência súbita que surge

como uma visita inesperada.

Dêem-lhes as boas-vindas e divirtam-nas!

Mesmo que sejam uma multidão de lamentos,

Que vos varrem subitamente a casa

despojada da sua mobília,

continuem a homenagear cada convidado.

Ele pode estar a prepará-lo para alguma nova maravilha.

Ao pensamento obscuro, à falsidade, à malícia,

recebam-nos à porta com um sorriso,

e convidem-nos a entrar.

Fiquem gratos por quem quer que entre,

porque todos foram enviados 

como um guia do além." - Rumi

terça-feira, 28 de novembro de 2017





"As famílias tradicionais estão à beira da extinção. Hoje, felizmente, os laços familiares e as relações educativas democratizam-se todos os dias. As crianças já tratam os pais por «tu», não lhes beijam a mão (abraçam-nos!), insurgem-se (quando eles protagonizam injustiças, em vez de, mentirosamente, parecerem submissas) e exigem-lhes bons exemplos (muito mais do que bons conselhos). É claro que quem sabe que os seus exemplos não são recomendáveis repete - até à exaustão - que as famílias tradicionais estão, perigosamente, em perigo.

Se famílias tradicionais fossem uma mãe e um pai sempre juntos, por dentro e por fora, então as famílias tradicionais... raramente existiram. Primeiro, porque os pais juntos, por fora, não significava que estivessem juntos por dentro. Em segundo lugar, o pai e mãe juntos nem sempre quis dizer que ambos dessem tempo aos filhos. Tempo para brincar. Tempo para educar. Tempo para contar histórias ou para passear. Em terceiro lugar, pais carcomidos pelo trabalho, sem grandes recursos económicos, sem electrodomésticos (!), sem conseguirem garantir um espaço (em casa) para a criançada, ou sem terem meios de lhes darem uma educação básica que esbatesse as assimetrias sociais, por mais juntos que estivessem, não seriam, só por isso, melhores.

Hoje, felizmente, as famílias tradicionais estão à beira da extinção. Os pais planeiam e  pensam, como nunca o fizeram, a maternidade e a paternidade. Dão mais colo num ano aos seus filhos do que os seus pais lhes deram durante toda a infância. Brincam como nunca terão brincado com eles. E passeiam. E abraçam mais as suas crianças numa semana do que, muitos deles, terão sido tocados e abraçados pelos seus pais, pela vida fora.

Somos, hoje, famílias mais nucleares? Tanto melhor. Se mais responsabilidade parental significar melhores pais. 

Os amigos dos pais são, hoje, mais família do que alguns tios? E depois?... Se isso demonstrar às crianças que gostarmos de alguém não está preso ao sangue, mas ao tamanho e à luminosidade do coração...

Os avós são, hoje, cada vez menos avós e cada vez mais segundos pais? Que privilégio o das crianças! Terem pessoas com colo de profundidades diferentes, exigências (por vezes) tão contraditórias, ternuras tão plurais... como as que sentem entre os avós e os pais!...

Divorciamo-nos mais? E então?... Se isso representar uma forma dos pais dizerem aos seus filhos, como bons exemplos, que estão obrigados a segui-los com seriedade e com sobriedade, na determinação de nunca deixarem de tentar ser felizes.

As famílias tradicionais nunca existiram. Como tradicionais... Embora todos sonhássemos a nossa à imagem da mais tradicional das famílias tradicionais: a do Menino Jesus. Imaginando que, só assim, seríamos felizes. Como dizem os adolescentes: Bora lutar por elas?..." - Eduardo Sá

segunda-feira, 27 de novembro de 2017





"Quantas vezes não  nos escapam as subtilezas da vida? Ouvimos tantas vezes dizer que «o peixe é o último a descobrir o mar». Durante anos a fio, passamos todos os dias de carro pelos nossos vizinhos. Até que, um dia, vamos dar um passeio a pé e vemos uma árvore linda, diante da casa do nosso vizinho. Sempre ali esteve - mas nunca olhámos realmente para ela! Tal como em tantas outras coisas, estivemos demasiado ocupados e apressados com as nossas vidas para repararmos nela.

Sintonizar significa arranjar tempo para entrar em contacto consigo próprio. Quer seja descontrair alguns minutos quer seja incorporando a prática da meditação nas suas rotinas diárias, arranje tempo para prestar atenção ao nível espiritual e emocional em que se encontra.

Por vezes, embrenhamo-nos tanto nos pormenores da vida quotidiana que deixamos escapar os tesouros subtis. Se os deixamos escapar, é porque não lhes prestamos atenção. Aliás, talvez até passemos por eles a correr, todos os dias! Certo é que, se nos permitirmos dedicar algum tempo a reparar nessas coisas e até a contemplá-las, algo mudará em nós. Começamos a reparar nas verdades subtis mas profundas acerca de nós próprios e do mundo à nossa volta. É uma espécie de despertar. Talvez ganhemos consciência de uma ideia crucial, num momento de pausa ou num sonho. Ou de um motivo de inquietação que normalmente tentaríamos rejeitar, por não gostarmos de nos sentir inquietos. Ou de uma crise que nos ameaça o bem-estar e, porventura, a nossa vida. Ou até do comportamento perturbador de alguém que amamos e que já não podemos ignorar.

Por vezes, precisamos de uma crise para vivermos uma mudança. Quando temos problemas de saúde, algo desperta em nós que nos leva a abraçar a vida, como nunca antes. Alturas há em que temos de adoecer para ficarmos melhor. 

Não temos de estar à espera de nos confrontarmos com a morte, ou de nos divorciarmos, ou de perdermos o emprego, para começarmos a viver. Independentemente de o utilizarmos ou não, todos nós temos um software psicológico, espiritual e físico integrado, com a capacidade para nos ajudar a reparar nessas coisas e a processá-las. Infelizmente, só apanhamos uma pequena percentagem daquilo que podemos captar. Sempre a correr, deixamos escapar completamente os momentos e as oportunidades, as intimidades e os pormenores mais subtis, mas, se aprendêssemos a abrandar o passo e a prestar mais atenção, poderíamos sentir-nos muito mais vivos, atentos e eficientes. 

Podemos descobrir dentro de nós e no mundo, as enormes possibilidades que nos aguardam, ao virar de cada esquina. Consiste em abrirmo-nos aos momentos de alegria, beleza e calma que assistem aos milagres da vida. Consiste em abrirmos os braços à enormidade. A decisão de despertar para o subtil é muito pessoal. Começa com o abrandamento e a consciencialização e é pela acção que se concretiza. Podemos reservar tempo para a prática de yoga. Podemos fazer um pedido de desculpas a alguém de quem gostamos, para fazermos as pazes com essa pessoa. Podemos inscrever-nos num curso de que gostemos ou ler um livro novo. Podemos capacitar-nos, fazendo mil e uma coisas - ou nada -, para incorporarmos na nossa vida dias mais cheios de cor e sol. Primeiro, contudo, temos de abrir os olhos, esvaziar a mente e começar a ler a letra miudinha da vida." - Ken Druck 

domingo, 26 de novembro de 2017





"O bodhichitta (é um termo sânscrito que significa "coração nobre ou desperto") está disponível em momentos delicados a cuidar das coisas, quando limpamos os óculos ou penteamos os cabelos. Está disponível em momentos de apreciação, quando reparamos no céu azul ou paramos para ouvir a chuva. Está disponível nos momentos de gratidão, quando recordamos uma ternura ou reconhecemos a coragem de outra pessoa. Está disponível na música e na dança, na arte e na poesia. Sempre que nos desprendemos de nos refugiarmos em nós próprios e olhamos para o mundo à nossa volta, sempre que nos conectamos com a tristeza, sempre que nos conectamos com a alegria, sempre que largamos o nosso ressentimento e as nossas queixas: nesses momentos, o bodhichitta está presente.

O despertar espiritual é frequentemente descrito como uma viagem até ao topo de uma montanha. Deixamos para trás os nossos apegos e as coisas mundanas e subimos lentamente até ao topo. No cume, já transcendemos toda a dor. O único problema com esta metáfora é que deixamos todos os outros para trás - o nosso irmão bêbedo, a nossa irmã esquizofrénica, os nossos animais e amigos atormentados. O seu sofrimento persiste, não sendo aliviado pela nossa fuga pessoal. 

No processo de descoberta do bodhichitta, a viagem é descendente, e não ascendente. É como se a montanha apontasse para o centro da Terra, em vez de se dirigir rumo ao céu. Em vez de transcendermos o sofrimento de todos os seres, avançamos em direcção à turbulência e à dúvida. Saltamos para dentro dela. Deslizamos para dentro dela. Entramos nela em bicos de pés. Avançamos na direcção dela da maneira que pudermos. Exploramos a realidade e a imprevisibilidade da insegurança e da dor e tentamos não a afastar. Mesmo que demore anos, mesmo que demore várias vidas, deixamos que seja assim. Ao nosso próprio ritmo, sem velocidade nem agressividade, descemos cada vez mais fundo. Connosco avançam milhões de outros, nossos companheiros no despertar do medo. Lá no fundo encontramos água: a água curadoura do bodhichitta. Ali mesmo, na intimidade das coisas, descobrimos o amor que nunca morre." - Pema Chödrön

sábado, 25 de novembro de 2017





"Procure pessoas felizes.

Evite pessoas infelizes.

Apaixone-se por uma pessoa feliz.

Case com essa pessoa feliz." - Ernie Zelinski

sexta-feira, 24 de novembro de 2017





"Como seres humanos, nós agarramo-nos às coisas que nos fazem sentir mais seguros. Passamos do peito das nossas mães para os objectos apaziguadores, de brinquedos pequenos para grandes, de carros a casas e casas de férias. Ao precisarmos de segurança, agarramo-nos ao sexo, à riqueza, à comida, ao poder, às drogas. Sei que sempre foi assim.

Mas prendermo-nos às coisas parece pior do que antes. É mais agressivo e desesperado, menos reflectido, mais egoísta. E estamos a ouvir os líderes e os professores dizerem-nos que a ganância é positiva.

Do que é que estamos realmente muito necessitados? Sim, de segurança e felicidade. Mas o tipo de segurança que referimos é uma sensação de segurança que não pode ser conseguida pela posse. Se podemos comprar grandes casas e carros potentes, podemos conseguir uma ilusão de segurança, mas que não deixa de ser uma ilusão. Se formos muito bem sucedidos na escola ou no trabalho, podemos ter uma sensação de realização, mas vai haver sempre mais alguma coisa para fazer - a felicidade vai estar sempre ao virar da esquina.

A verdadeira segurança só aparece quando nos sentimos confortáveis com quem somos (e essa sensação aumenta quando temos um relacionamento em que há amor e compreensão mútua). A verdadeira felicidade é uma ramificação de uma vida bem vivida." - Daniel Gottlieb

quinta-feira, 23 de novembro de 2017





"Se o essencial é tudo aquilo que sentimos, então não é verdade que o essencial seja «invisível» aos olhos e ao coração. E se me permitem o desaforo, já cansa que acabemos rendidos à ideia de que o invisível seja imaterial e, por isso, mal exista, por mais arrebatador que nos pareça aquilo que sintamos.

Imagino que esta «tentação materialista» se configure na ilusão de que uma realidade de contornos definidos e com qualidades sensoriais seja uma verdade mais compreensível e mais palpável. E que - seja «o material» uma cadeira ou uma moeda, sejam dezoito valores em vez da sabedoria, ou um contrato de casamento no lugar de um grande amor - ao pé de tão presumível objectividade, o essencial não se torne invisível. Mas... atrapalhador, piegas, «jurássico», ou mesmo trôpego. Afinal, o que carece de consistência material merece um olhar de esguelha e uma bruma de dúvidas que desnorteia quem compara o material com o essencial.

É por isso que, sempre que queremos encontrar um motivo irrefutável para a nossa tristeza ou para um sentimento de vazio que nos atravessa de surpresa o coração, «o tempo», «o trabalho» ou quaisquer outros alibis (de preferência, palpáveis ou materiais) sejam causas mais credíveis que todo o resto, que, sendo essencial, parece ser invisível aos olhos dos outros (e também ao nosso coração).

Vivemos num mundo cada vez mais objectivo e normalizado. E, por isso mesmo, em muitos aspectos, melhor, mais justo e mais livre. Mas um mundo que, por vezes, quantifica tão exageradamente que não qualifica. E que tenta tão freneticamente materializar aquilo que se vive que desqualifica quase tudo o que se sente. E que tem oposto o visível ao essencial, como se os sentimentos nos afastassem de tudo o que é objectivo e material.

O que é engraçado é que quanto mais se estimula a materialismo mais há quem se alarme diante de uma gritante «crise de valores». Uma «crise» que vai merecendo a aflição daqueles que a alimentam e a fúria fundamentalista dos que acham que aquilo que, para eles, é invisível... não pode existir para mais ninguém. Afinal, quem nunca sentiu o essencial imagina que o invisível não existe.

Nesta divisão entre aquilo em que se toca e tudo o que se sente - entre o material e o essencial - permanece a ideia de que a sabedoria, aquilo que se é ou um amor que se viva não possam ser invisíveis e materiais. Essenciais e irrefutáveis. «Jurássicos» e credíveis. Mas, afinal, será aquilo em que se toca que dá verdade ao que sentimos ou são os nossos sentimentos que tornam real tudo o que se toca?" - Eduardo Sá

quarta-feira, 22 de novembro de 2017





"Depois de uma perda ou de um revés, tendemos muito a fechar o coração e o espírito. É natural. Defendemo-nos contra mais ferimentos, recolhendo-nos. Endurecemos e/ou entorpecemos os nossos corações. A verdade é que a abertura pode ser a nossa melhor protecção e a nossa melhor garantia de que as coisas hão de mudar. É perfeitamente compreensível que dediquemos tempo a curarmo-nos, mas escondermo-nos atrás de um muro protector não é uma boa estratégia de longo prazo.

Todos temos uma infinidade de possibilidades à nossa espera, ao virar de cada esquina. Podem ser coisas tão simples como a visita-surpresa de um velho amigo, uma oferta inesperada que chega pelo correio, ou uma nova oportunidade de negócio. Ou pode ser algo tão profundo como o nascimento de um filho, ou um transplante de rim que dá nova vida a um querido avô. É a pessoa que perde o amor da sua vida e que, quando menos espera, conhece alguém maravilhoso e tem outra oportunidade no amor.

Nalgumas alturas da sua vida, deixará de acreditar em si próprio ou sentir-se-á vencido e com vontade de desistir. Só tem uma leve esperança. Nesses momentos, um amigo meu, dizia-me: «Persistimos em persistir.» Isso implica manter o coração e o espírito abertos, à espera do arco-íris que sempre surge depois do aguaceiro. Da bondade e generosidade que surgem no seguimento de uma tragédia. Do sorriso que surge depois do desespero. Todos podemos passar o resto das nossas vidas a aprender a gerir eficazmente a desilusão e a manter a esperança viva. Para isso, é preciso muita coragem e fé." - Ken Druck

terça-feira, 21 de novembro de 2017





"Na noite em que viria a atingir a iluminação, o Buda sentou-se debaixo de uma árvore. Enquanto ali estava sentado, foi atacado pelas forças de Mara. Reza a história que elas lhe atiraram espadas e lanças e que as suas armas se transformaram em flores.

O que significa esta história? Aquilo que encaramos habitualmente como obstáculos não são verdadeiramente nossos inimigos, mas nossos amigos. Aquilo a que chamamos obstáculos é na verdade a maneira do mundo e de toda a nossa experiência nos ensinar onde ficámos bloqueados. O que pode parecer uma seta ou uma espada pode ser efectivamente experienciado como uma flor. O facto de experienciarmos o que nos acontece como um obstáculo e um inimigo ou como um professor e um amigo depende inteiramente da nossa percepção da realidade. Depende da nossa relação connosco próprios.

Os ensinamentos dizem-nos que os obstáculos surgem ao nível exterior e ao nível interior. Neste contexto, o nível exterior é a noção de que algo ou alguém nos prejudicou, interferindo com a harmonia e a paz que julgávamos pertencer-nos. Algum patife deu cabo disso. Esta noção específica de obstáculo surge nos relacionamentos e em muitas outras situações; sentimo-nos desapontados, prejudicados, confusos e atacados de muitas formas diversas. As pessoas têm sentido isso desde os inícios dos tempos.

Quanto ao nível interior do obstáculo, é possível que não exista nada verdadeiramente a atacar-nos a não ser a nossa própria confusão. Talvez não haja nenhum obstáculo sólido além da nossa própria necessidade de nos protegermos de sermos tocados. Possivelmente, o único inimigo é o facto de não gostarmos do modo como a realidade é agora e, por isso, desejarmos que ela desapareça rapidamente. Contudo, o que descobrimos como praticantes é que nada desaparece antes de nos ensinar o que precisamos de saber. Se corrermos a 160 km/h até ao outro lado do continente para fugirmos do obstáculo, encontramos o mesmo problema à nossa espera à chegada. Ele não pára de voltar com novos nomes, formas e manifestações, até aprendermos o que quer que tenha para nos ensinar acerca do ponto em que nos estamos a separar da realidade, sobre o modo como estamos a recuar em vez de nos abrirmos, a fechar-nos em vez de nos permitirmos experienciar na totalidade aquilo que encontramos, sem hesitações nem recuos para dentro de nós mesmos.

A essência da vida consiste no facto de ela ser um desafio. Umas vezes ela pode ser doce, e outras amarga. Algumas vezes, o nosso corpo fica tenso, outras descontrai ou abre-se. Umas vezes temos uma dor de cabeça, e outras sentimo-nos 100% saudáveis. De uma perspectiva desperta, tentar atar todas as pontas soltas e conseguir perceber tudo equivale à morte, porque implica a rejeição de muita da nossa experiência básica. Há algo de agressivo nessa abordagem da vida, em tentar alisar todos os pontos mais agrestes e todas as imperfeições, de maneira a fazermos uma viagem sem sobressaltos.

Estarmos totalmente vivos, sermos totalmente humanos e estarmos completamente despertos, implica sermos continuamente atirados para fora do ninho. Viver completamente é estar sempre na terra-de-ninguém, experimentar cada momento como algo completamente novo e fresco. Viver é estar disposto a morrer vezes sem conta. Do ponto de vista desperto, isso é vida. A morte é querermos agarrar-nos àquilo que temos e fazer com que cada experiência nos confirme, nos felicite e nos faça sentir completamente unos." - Pema Chödrön 

segunda-feira, 20 de novembro de 2017





"Comece a viver a vida de acordo com a forma como as coisas são e não como deviam ser.

Muita infelicidade é causada pela convicção de que a vida devia ser diferente do que é. 

Aceitar a realidade como ela é libertá-lo-á da prisão daquilo que devia ser.

Como Lenny Bruce disse: «O que é, é, e o que devia ser é apenas uma mentira.»" - Ernie Zelinski

domingo, 19 de novembro de 2017





"A mudança é difícil para todos nós. Quanto mais velhos somos, mais mudanças enfrentamos. Qualquer mudança envolve perda e, sempre que perdemos algo, ansiamos por tê-lo de volta. Tudo o que perdi na minha vida - coisas grandes e pequenas - desejei logo tê-las de volta.

É por isso que as fases de transição são duras. Esses objectos de transição dão-nos a ilusão de segurança. Quando desaparecem, somos deixados com a insegurança que sempre existiu. Quase tudo a que nos afeiçoamos, acabamos por perder: os teus bens, as pessoas que amas e até a tua juventude e saúde. Sim, cada perda é um golpe. Mas também é uma oportunidade. Há um ditado Sufi antigo que diz "Quando o coração chora pelo que perdeu, a alma festeja pelo que ganhou."

Por isso, quando sentires a dor da perda, não te agarres a algo que pareça afastá-la. Limita-te a ter fé de que a dor, tal como tudo o resto, é temporária. Ao enfrentá-la, vais aprender sobre a tua capacidade de lidar com a adversidade. Vais aprender a lidar com o stress. Vais sentir-te orgulhoso. Do outro lado da dor, vais descobrir algo sobre quem és.

Recentemente, uma amiga minha disse-me que tinha tantos problemas na sua vida, que se sentia a viver num pesadelo e não sabia o que fazer. Eu disse-lhe para ela procurar a paragem do autocarro e esperar que ele chegasse! Ela olhou para mim, como se eu tivesse enlouquecido! Eu expliquei-lhe que todas as emoções são temporárias e que podemos esperar que elas passem, como se estivéssemos à espera de um autocarro. Podemos ficar à espera com frustrações, raiva ou armados em vítimas, mas isso não fará com que o autocarro chegue mais depressa! Também podemos esperar com paciência e descontracção, mas nem assim o autocarro é mais rápido! Tal como todos os autocarros, chega quando chega. Só temos de ter esperança de que vem a caminho. 

Tudo é temporário - sensações boas, sensações más, chuchas e desespero. Mas talvez eu não precise de te dizer isso." - Daniel Gottlieb

sábado, 18 de novembro de 2017





"As pessoas só se «armam» em crescidas porque lhes falta alguém junto de quem possam, sem vergonha, continuar pequeninas, à vontade. É por isso que, por fora, continuam a crescer enquanto, por dentro, se portam mal (como não o faziam quando eram crianças). Amuam connosco como se, só agora, «metessem medo» aos irmãos que mais receavam. Ou capricham nas birras que pouparam aos pais e que vivem, finalmente, com um indesmentível requinte, ao pé de nós. Na verdade, fazem por ser grandes porque, dessa maneira, fantasiam que jamais serão pequenas, outra vez. Se a infância delas tivesse sido de algodão doce não precisavam - acreditem - de crescer em bicos de pés para espantarem as suas dores infantis.

É por se sentirem desamparadas diante da vida, que as toma de surpresa, que as pessoas se tornam assustadiças quando a vivem. Sentem que o coração arranha sempre que palpita mais depressa, como se tudo o que comove as desmanche e desarrume. O sentimento de pequenez ora as enternece, quando o percebem que o perderam, ora as assusta, quando o sentem a prendê-las aos seus medos que, de pequeninas, queriam espantar. Será por isso que não se movem para os outros. Como se só conseguissem imaginá-los como personagens que renovam unicamente todos os seus medos infantis (e que, quase nunca, pudessem arejar as suas dores para que, a partir delas, se desse um novo começar).

Porque muitos capítulos essenciais da sua infância permanecem mais ou menos por consertar, há pessoas que guardam para mais tarde (para quando forem crescidas, acho eu) tudo aquilo que acham essencial. Nomeadamente, virem a esclarecer se serão o melhor do mundo para alguém que, ao mesmo tempo, seja o melhor de si. 

É por isso que há quem cresça dorido e assim permaneça, mesmo quando passa de uma relação para outra ou para mais alguma. E, preso por dentro, insista em crescer dominado pela ambição de que todos gostem de si, como se à «sorte grande» se chegasse jogando só com triplas (que é meio-caminho - como sabemos - para se acabar empatando... e empatado).

Muitas pessoas transformam a vida num espantalho. De cada vez que espantam os medos ficam mais presas a eles. É por isso que, sendo grandes, se sentem (por dentro) desamparadas. Mais ainda, porque já perceberam que amar é sermos pequeninos... e o melhor do mundo, ao mesmo tempo. (Aliás, amar é podermos ser mais do que pequeninos. É sermos de colo, outra vez.) E, em vez de espantarmos as dores, encontrar quem espante em nós essa ambição tola de crescer por fora, sempre que o coração arranha (logo, que palpita mais depressa) como se tudo o que comove nos desmanchasse." - Eduardo Sá

sexta-feira, 17 de novembro de 2017





"Não há como negá-lo: a vida não é justa. Mas, paradoxalmente, se pensarmos bem nisso, a vida é mais do que justa. É até um milagre conseguirmos aguentar assim a vida. É também nos nossos piores momentos de perda e desgosto que mais sentimos esperança, fé e plenitude.

É nosso desconhecimento, contemplando o abismo, que muitas vezes descobrimos as verdades mais profundas da vida. Gratidão. Perspectiva. Fé. É nesses momentos puros e transformadores que melhor compreendemos e reverenciamos a vida, tal como ela é. Do vazio total, passamos à plenitude. O silêncio impregna-se de significado. A dúvida resulta numa compreensão mais profunda. Os elos que mantemos com as pessoas tornam-se preciosos. Encontramos na quietude um conforto que não conhecíamos. Descobrimos na irreverência bom humor e ligeireza. Percebemos que fazemos parte do mistério da vida e a entrega a esse conhecimento ajuda-nos a sair do nosso desespero.

A vida não é justa... mas, ao mesmo tempo, é mais do que justa.

Por vezes, são os momentos mais difíceis da nossa vida que nos fazem sentir verdadeira esperança - uma fénix que renasce das cinzas da nossa perda. Tal como escreveu o poeta do século XII Rumi: «A dor pode ser um jardim de compaixão.»

Vivemos numa sociedade que prescreve um comprimido para tirar todas as dores. Uma diversão para preencher cada vazio. Um remédio para cada problema. As pessoas não têm muito espaço para se deixarem estar uns momentos mergulhadas em incerteza e para enfrentarem o vazio que sucede a uma perda. Mas se conseguirmos ter esse espaço e se pudermos ficar nele o tempo suficiente, encontramos a plenitude que se esconde atrás do vazio. A benção por detrás do sofrimento. A certeza por detrás da dúvida. Pode ser tão simples como deixarmos de tentar manter tudo sob controlo e permitirmo-nos respirar.

Não estou a falar de uma esperança ou fé sintética e fabricada. Estou a falar em ter uma verdadeira esperança, como a que advém da humildade. São essas coisas que nos tornam mais profundos e que nos desenvolvem o carácter, transformando-nos em versões de nós próprios com mais força, resiliência e qualidade. São essas coisas também que nos tornam recursos inestimáveis para as outras pessoas, porque passamos a transmitir segurança, a demonstrar sensatez e deixamos de julgar os outros - somos testemunhas imparciais e esclarecidas ao lado de quem viu os seus sonhos desfeitos. E reservamos um espaço de esperança para essas pessoas. 

Ironicamente, quanto mais nos mentalizamos de que a vida não é justa, mais ela nos dá a capacidade para reconhecermos todos os aspectos em que é mais do que justa. Para darmos valor a esses aspectos. Para os saborearmos. Para vivermos com gratidão." - Ken Druck

quinta-feira, 16 de novembro de 2017





"A maneira de dissolver a nossa resistência à vida é encará-la de frente. Quando sentimos ressentimento por o quarto estar demasiado quente, podemos enfrentar o calor e sentir a sua fogosidade e o seu peso. Quando sentimos ressentimento por o quarto estar demasiado frio, podemos enfrentar o frio e sentir o seu gelo e a sua mordedura. Quando temos vontade de nos queixar da chuva, em vez disso podemos sentir a sua humidade. Quando nos preocupamos por o vento estar a agitar as nossas janelas, podemos enfrentar o vento e ouvir o seu som. Interceptar e curar as nossas expectativas é uma prenda que podemos oferecer a nós próprios. Não há cura para o calor e o frio. Eles persistem para sempre. Depois da nossa morte, o fluxo e o refluxo da maré perdurarão. Tal como as marés, tal como o dia e a noite - é esta a natureza das coisas. Ser capaz de apreciar, ser capaz de observar atentamente, ser capaz de abrir a mente - é este o cerne da maitri.

Quando os rios e o ar estão poluídos, quando as famílias e as nações se encontram em guerra, quando os vagabundos sem-abrigo enchem as estradas, esses são os sinais tradicionais de uma era de trevas. Outros, consistem no facto de as pessoas estarem envenenadas pela dúvida pessoal e tornarem-se cobardes.

Praticar o amor compassivo em relação a nós próprios parece ser uma maneira tão boa como qualquer outra de começar a iluminar a escuridão dos tempos difíceis.

Estarmos preocupados com a nossa auto-imagem é o mesmo que sermos cegos e surdos. É como estar parado no meio de um grande campo de flores silvestres com um capuz preto na cabeça. É como aproximarmo-nos com tampões nos ouvidos de uma árvore cheia de pássaros a cantar.

Há imenso ressentimento e imensa resistência à vida. Em todas as nações, é como uma praga que escapou ao nosso controlo e está a envenenar a atmosfera do mundo. Neste ponto, talvez seja mais sensato reflectir nessas coisas e começar a adquirir o treino do amor compassivo." - Pema Chödrön

quarta-feira, 15 de novembro de 2017





"Antes de saltar a cerca para o lado onde a relva lhe parece mais verde, experimente regar primeiro o seu lado!" - Ernie Zelinski

terça-feira, 14 de novembro de 2017





"Sei que haverá momentos em que te vais sentir magoado. Mesmo agora, quando as coisas não correm como queres, sentes uma terrível dor emocional. Mas espero que não te culpes a ti, nem a ninguém, por causa dessa dor. E, por estranho que pareça, também espero que não dês ouvidos às pessoas que te tentam distrair do que sentes ou que te mostram formas de resolver a situação. Porque, se te esforçares em demasia para te livrares da dor, vais apenas demorar mais tempo a recuperar!

É inevitável que a dor esteja relacionada com o suspirar pelo dia de ontem - o que tínhamos antes, como costumava ser. Mas, quando a dor não desaparece rapidamente, nós criticamo-nos por não a ultrapassarmos, por não sermos suficientemente fortes ou até por termos sido vulneráveis, logo à partida. 

Não é assim que curamos as feridas. Elas não obedecem aos nossos desejos. A cura acontece de uma forma e no momento próprio.

A maneira como uma ferida cicatriza é um milagre. Curam-se a si mesmas, inevitavelmente. Tudo o que temos a fazer é não permitir que os nossos egos famintos exijam que a dor se vá embora em determinado dia e hora. Temos de ter fé de que a dor vai passar. Afinal de contas, a dor é uma emoção e nenhuma emoção se mantém para sempre.

Tu vais encontrar muitas pessoas bem intencionadas que julgam conhecer formas de tu sarares mais depressa e sentires menos sofrimento. Elas poderão fazer questão de te apresentar essas soluções e até insistir em coisas que 'tens de fazer'. Na verdade, elas querem o teu bem e, a maioria, irá fazê-lo por altruísmo. Mas, antes de acatares os conselhos delas, lembra-te de que o corpo já tem tudo o que uma ferida precisa para cicratizar. O oxigénio, o sangue, os nutrientes estão todos lá, preparados para começar a trabalhar. E, no momento em que és ferido, começa a cicratização. 

Com as feridas emocionais passa-se o mesmo. Por vezes, estas feridas não cicratizam porque a mente se envolve demasiado e diz coisas como "Se eu fizesse isto, ia sentir-me melhor!" ou "Talvez eu pudesse fazer aquilo para reparar os estragos" ou "Eu estou a sofrer por causa do que outra pessoa fez e, quando tratarem disso, vou sentir-me melhor".

Toda esta conversa da mente apenas interfere com o processo natural de cura. Quando te sentes magoado, tens dentro de ti próprio tudo aquilo de que precisas para reparar os estragos. Queres compaixão, compreensão e carinho para cicatrizares. Mas, acima de tudo, precisas de tempo.

Quando estou num túnel escuro, quero estar com as pessoas que me amam o suficiente para se sentarem ao meu lado na escuridão, e não que elas fiquem lá fora, a gritar para eu sair. Creio que é isso que todos queremos. 

Quando estiveres magoado, aproxima-te das pessoas que te amam e que aceitam o teu sofrimento, sem fazerem juízos de valor ou darem conselhos. À medida que o tempo passa, vais olhar menos para o que tinhas ontem e desfrutar mais do que tens hoje." - Daniel Gottlieb

segunda-feira, 13 de novembro de 2017





"Em razão talvez de todos os desencontros com que nos brinda, desconfiamos (em segredo) que o amor seja um adereço, paleolítico, que se desnorteou do desenvolvimento. Teimosamente, não se apresenta sob um formato normalizado. E, sem que se perceba porquê, chega-nos mal embalado, sem código de barras e - pior - sem as datas de produção e de validade (o que, como compreendem, é uma ameaça intolerável para a saúde).

Para mais, há pessoas que se lamentam - com razão!... - que o amor lhes chega mal acondicionado. Ou porque são premiados com a versão despojada do «amor e uma cabana» (que, presumo, lhes permitirá ver estrelas mas que, decerto, será responsável por resfriados e incriminantes rouquidões). Ou porque a versão rodeo as premiou com o banco de trás de um automóvel de baixa cilindrada (que desconcerta pelo cheiro a gasóleo ou pela companhia de uma folha de jornal injuriando a arbitragem). Ou porque na versão cool, o amor (... nas dunas) - não que saibamos por nós mas pelo que se ouve - é acompanhado por uma areia incontornável que nos sugere que o Paraíso é áspero, afinal.

Ainda sugere - a alguns resistentes - cartas de amor quando «o que está a dar» são as sms.

E faz-se de olhos nos olhos, quando a maioria das pessoas se insinua, diante do amor, pelo canto do olho.

E vive-se sem horas, lânguido e longamente. O que parece uma patetice, num tempo todo ele muito... fast-food. Salvo seja!...

Mas, meus amigos, o amor parece ser a encruzilhada de sentimentos que nos separa da morte e da vida. E há, realmente, pessoas que nos viram do avesso, nos tiram as nuvens do olhar, e banham de sol o nosso coração. Acerca delas falamos do amor, como se ele fosse um sentimento... Mas não é. É uma consensualidade de sentimentos. É por isso que a tranquilidade do amor nos rebuliça e, com ela, as estrelas se insinuam onde, antes, dominava a indiferença (que nos levava a guardar o melhor do mundo... sempre para mais tarde).

Talvez só aí, ao descobrirmos tudo o que o amor não é, percebamos que o amor não se reconhece como uma forma de ver o mundo pelos olhos do outro. É mais! A redenção com que o amor se dá passa pela anunciação de encontrar, nos olhos do outro, uma forma de ver para além dos nossos olhos e dos dele.

O amor não é bem um encontro de verdades. É melhor! É confiarmo-nos a alguém e entregar, pela mão dos olhos dele, o nosso olhar ao desconhecido, guiados pela esperança de vir até nós «um infinito de nós dois»." - Eduardo Sá

domingo, 12 de novembro de 2017





" Todos nós passamos por momentos de humildade. Talvez nos cheguem nas alturas mais calmas, a altas horas da noite, ao passarmos a linha da meta, depois de corrermos 42 km, ou após a perda de um emprego, da nossa carreira, de milhares de euros, de um cônjuge ou um amigo chegado. Seja como for, esses momentos decisivos revelam-nos os valores nucleares da vida. O carácter. E a nossa fé. Por vezes, queremos ser tudo menos humildes - preferimos ficar loucos de raiva. «Fiz tudo o que me pediram!», clamamos. «Faço tudo como deve ser. Que raio fiz eu para merecer isto?»

Em momentos como este, «aguentar firme» ou a teoria do «copo está meio cheio» pura e simplesmente não ajudam em nada. Se não for essa a resposta, então qual é? Como é que lidamos com os reveses da vida? Como é que aceitamos o facto de que, por vezes, a vida vai doer a sério?

A resposta é: com muita humildade. Há momentos de adversidade na vida em que o melhor que podemos fazer é rendermo-nos e sermos humildes. A vida põe-nos todos de joelhos. Vivemos à mercê de uma realidade muito superior à nossa capacidade de a compreender. Todos nos podemos sentir ínfimos, insignificantes e impotentes. 

Demonstrar humildade vai muito além de tentar «aguentar firme» ou invocar qualquer outro cliché de trazer por casa. Na verdade, por mais que vasculhemos os livros em busca de clichés que nos possam dar apoio e proporcionar um alívio momentâneo, só encontraremos páginas em branco. Alguns clichés talvez funcionem. E talvez durem tempo suficiente para nos ajudar a sobreviver mais uma noite. Mas, a dada altura, poderão ser inúteis ou até nocivos. E é nesses momentos que a humildade nos pode ajudar.

Ser obrigado a ajoelhar-se é diferente de estar deitado a apanhar. Na verdade, aconselho-o, uma vez mais, a não rejeitar os sentimentos de desilusão e desespero que possam surgir. Dedique algum tempo a tentar sentir mesmo a injustiça e a afronta da situação. Reconhecer esses sentimentos e rumar a um estado de verdadeiro optimismo poderá exigir que se permita sentir-se derrotado. Não se automedique com clichés banais, um monte de ocupações ou uns quantos copos. Pelo contrário: dê tempo a si próprio para se sentir triste, impotente, revoltado, assoberbado ou assustado, pois é assim que realmente se sente. Não pediu nada disso. Mas cá está. A única solução é deixar-se sentir realmente revoltado e desiludido.

Render-se não significa que desista ou se acobarde. Trata-se apenas de permitir a existência dos sentimentos, sem os julgar, nem se julgar a si próprio.

E parta daí. 

Digamos que acabou de ser despedido do seu emprego. Diga: «Merda!» Aliás, seja generoso consigo próprio. Diga dez vezes «merda»! Dê voz aos seus protestos! Dê a si próprio a hipótese de dizer: «Isto é mesmo mau.» E deixe fluir esses sentimentos. Depois de os ter expulsado a todos, respire fundo. Sinta o alívio resultante da libertação das raivas e frustrações que se têm vindo a acumular. Arranje espaço para novos sentimentos. Afinal, não pode saber o que lhe espera ao virar da esquina. Talvez arranje o melhor emprego de sempre, por ter deixado o que tinha. Você pura e simplesmente não sabe. Será esta forma de pensar «negativa»? Serão os queixumes e as lamúrias contraproducentes? Sinceramente, essa abordagem do que se «deve sentir» em nada nos ajuda a lidar com a vida real. O melhor é sermos autênticos.

Não digo que tenha de invetivar contra Deus. Cada um é como é - todos temos respostas diferentes à perda. E à adversidade. O que digo é que tem de permitir a si próprio sentir na pele as suas experiências. Ser autêntico! É o processamento dessas emoções que nos dá profundidade, nos fortalece o coração e nos ensina a lidar com a vida «real». E acabará por nos conferir a capacidade para rastejarmos para longe das cinzas da adversidade. E as pessoas - quem quer que sejam - que tentarem tirar-lhe isso e dar uma «tonalidade positiva» à situação, para o endireitarem ou salvarem de si próprio, estão a contornar um processo de aprofundamento, crescimento, aceitação e cura." - Ken Druck

sábado, 11 de novembro de 2017





"Quando pensamos que uma coisa nos vai proporcionar prazer, desconhecemos o que nos acontecerá verdadeiramente. Quando pensamos que uma coisa nos vai trazer infelicidade, não o sabemos. Deixar espaço para não saber é o mais importante de tudo. Tentamos fazer aquilo que julgamos poder ajudar. No entanto, não sabemos. Nunca sabemos se vamos cair redondos no chão ou sentar-nos numa posição sobranceira. Quando passamos por uma grande decepção, desconhecemos se as coisas ficam por aí. Pode tratar-se apenas do início de uma grande aventura.

A vida é assim. Não sabemos nada. Dizemos que uma coisa é má; dizemos que ela é boa. Porém, a verdade é que não sabemos.

Quando as coisas se desfazem e estamos à beira não sabemos de quê, o teste para cada um de nós consiste em permanecer nesse limiar e não concretizar.A viagem espiritual não tem a ver com o céu e com chegarmos enfim a um lugar que é verdadeiramente fenomenal. Com efeito, é essa maneira de encararmos as coisas que nos faz permanecer infelizes. Pensarmos que podemos encontrar algum prazer duradouro e evitar o sofrimento é aquilo a que no budismo chamamos samsara, um ciclo irremediável que se prolonga infindavelmente, provocando-nos um imenso sofrimento. A primeira nobre verdade do Buda salienta que o sofrimento é inevitável para os seres humanos enquanto acreditarmos que as coisas perduram - que elas não se desintegram, que podemos contar com elas para satisfazermos a nossa fome de segurança. A partir deste ponto de vista, nunca sabemos o que está verdadeiramente a acontecer quando nos puxam o tapete e deixamos de conseguir encontrar qualquer ponto de apoio. Podemos tirar partido dessas situações para despertarmos ou para adormecermos. Este preciso momento - o próprio instante em que sentimos a falta desse ponto de apoio - é a semente para cuidarmos daqueles que precisam dos nossos cuidados e para descobrirmos a nossa bondade.

A vida é uma boa professora e uma boa amiga. As coisas encontram-se sempre em transição, se conseguirmos tomar consciência disso. Nada se resume àquilo com que gostamos de sonhar. O estado intermédio e descentrado constitui uma situação ideal, uma situação em que não nos deixamos apanhar e podemos abrir os nossos corações e as nossas mentes para além de todos os limites. Trata-se de uma situação muito terna, não agressiva e em aberto.

Permanecer com essa insegurança - permanecer de coração despedaçado, com o estômago às voltas, com uma sensação de ausência de expectativas e com vontade de vingança - é o caminho do verdadeiro despertar. Atermo-nos a essa incerteza, adquirir a capacidade de descontrair no meio do caos, aprender a não entrar em pânico - é o caminho espiritual.  Adquirir o treino da contenção, de nos contermos de um modo suave e compassivo, é o caminho do guerreiro. Recuperarmos um zilião de vezes na altura em que, mais uma vez, quer queiramos quer não, experienciamos o ressentimento, a amargura, a indignação justa - endurecemos seja de que modo for, mesmo através de uma sensação de alívio, uma sensação de inspiração.

Todos os dias podemos pensar na agressividade existente no mundo, em Nova Iorque, Los Angeles, Halifax, Taiwan, Beirute, Koweit, Somália, Iraque, em todo o lado. Por todo o mundo, toda a gente agride constantemente o inimigo e o sofrimento entra numa escalada sem fim. Podemos reflectir nisso diariamente e perguntar a nós mesmos: "Vou contribuir para a agressividade no mundo?" Diariamente, no momento em que a irritação entra em escalada, podemos limitar-nos a indagar: "Escolho pôr em prática a paz, ou a guerra?" - Pema Chödrön

sexta-feira, 10 de novembro de 2017





«Já não olho para a frente ou para trás em busca de esperança ou medo;

Mas, grato, aceito o bem que encontro,

O melhor do aqui e do agora.» - John Greenleaf Whittier


"Tenha em mente que a vida vivida em antecipação do dia de amanhã, ou a lamentar o dia de ontem, é sempre uma vida carente de felicidade." - Ernie Zelinski

quinta-feira, 9 de novembro de 2017





"Todas as pessoas lidam com a frustração, diariamente. Para ti, não teres o pijama da cor certa, na altura certa, é extremamente frustrante. Para mim, a frustração surge quando deixo cair uma folha de papel ao chão e não existe nenhuma maneira de a apanhar, ou quando chego a um restaurante e descubro dois degraus junto à porta. 

A raiz da frustração é o desejo. Como és uma criança, tu esperas teres os teus desejos satisfeitos de imediato. Em muitos aspectos, mesmo quando já depois de adultos, ainda desejamos recompensas instantâneas. Eu quero o que quero naquele instante. Quero aquela folha de papel que deixei cair ao chão e já! Quero a amante perfeita e quero que a minha bexiga funcione e quero o meu cabelo de volta!

A questão não é se temos ou não desejos, porque todos os temos. Nós temos desejos em relação à comida, ao amor, à segurança e à felicidade. Também desejamos que tomem conta de nós.

A grande questão é: como é que gerimos o desejo? Como agimos em relação às nossas vontades? Como lidamos com a frustração quando os nossos desejos não são satisfeitos?

Quando a tua mãe e a irmã eram pequenas, costumavam gozar com uma das minhas maiores frustrações. Enquanto me deslocava pela casa na cadeira de rodas, às vezes fazia as curvas muito apertadas e batia contra a parede. Quando isso acontecia, eu dava um murro na parede e praguejava.

Quando a frustração não é trabalhada, transforma-se em raiva e a raiva despoleta a acção. Eu batia com a mão na parede e gritava. Tu tens ataques de fúria e choras. Esta é a nossa resposta às emoções que sentimos diariamente e que, por vezes, achamos serem intoleráveis. O problema não é como é que tu ou eu nos sentimos quando estas coisas acontecem. O problema surge quando não conseguimos tolerar esses sentimentos.

Eu aprendi com as minhas filhas. Sempre que esmurrava a parede e demonstrava a minha raiva, elas riam-se. Eu ouvia-as dizer:

- O papá deu outra vez um murro na parede!

Passado algum tempo, sempre que eu batia contra a parede, dava um murro, praguejava e, a seguir, ria-me e brincava com elas:

- Iupppiii! O papá bateu na parede!

Talvez não fosse muito mau bater na parede. Talvez a parede ali estivesse para me ensinar algo.

Há vários anos, num agradável dia de Primavera, eu estava no relvado em frente à minha casa. Não estava mais ninguém. Infelizmente, a roda da minha cadeira ficou presa no buraco de uma toupeira. Acelerei o motor, para andar para a frente e para trás, mas não aconteceu nada. A cadeira não se mexia.

Isto aconteceu a meio do dia, quando não havia vizinhos por perto e não estava em casa nenhuma enfermeira que me ouvisse.

Por isso, gritei por socorro, não apareceu ninguém. Gritei ainda mais alto, o mais que pude. Mesmo assim, não apareceu ninguém. Por pura frustração, comecei a bater com a mão no braço da cadeira de rodas. Bati com tanta força que a minha mão começou a sangrar. E, quando vi isto, gritei outra vez, só que mais baixinho. E, de seguida, comecei a chorar, face à minha incapacidade.

Após ter chorado durante algum tempo, simplesmente desisti. Não gritei mais. Já não voltei a bater com a mão na cadeira. Não tentei acelerar o motor. Fiquei, simplesmente, sentado.

Tinha batido contra a parede.

E foi então, apenas nesse momento, que ouvi os pássaros a cantar. É claro que eles tinham estado sempre a cantar, mas eu estava tão obcecado com o meu desejo de tirar a cadeira do buraco e a lutar tanto contra os meus sentimentos de frustração e a fazer tanto barulho, no meio de tudo isto, que fora incapaz de os ouvir. Era perfeitamente razoável querer ser salvo, mas o meu desejo não ia ser satisfeito de imediato. Foi só quando aceitei este facto, só quando parei de lutar, é que tive alguma paz.

Eu vejo este processo acontecer-te vezes sem conta. Quando as coisas não acontecem como tu queres, ficas furioso e choras. E, depois, avanças. Será que a tua frustração vai ser sempre assim tão forte, ao longo da tua vida?

Desejo que, à medida que cresces, o processo se desenvolva com maior rapidez e consigas encontrar paz, sem tanto sofrimento.

Lembra-te apenas de que, quando conseguires encontrar a paz de alguma maneira, podes refugiar-te nela quando esbarrares contra a parede." - Daniel Gottlieb

quarta-feira, 8 de novembro de 2017





"A vida levanta pó que se farta. É o trabalho, os amigos, os amores insatisfeitos, a rotina que nos engole. São as crianças e o casamento, os pais e os irmãos, os sonhos (e as acrobacias com que os iludimos), e mais até. Fica no ar, cola-se a nós, respiramo-lo com parcimónia, e entranha-se (bem fundo) como uma sereia que encanta e nos adormece de sossego.

O pó dos dias não nos irrita as mucosas: inflama o nosso olhar e aloja-se, como um vírus que aí encontra um hospedeiro, no modo como deixamos de escutar com o coração e nos contentamos em ouvir. Resignadamente, em ouvir. Mesmo que, para fugirmos dele, como uma melga que insinua nos ouvidos, levantemos mais pó, e mais pó, evitando que ele assente, devagar, e nos puxe - enfim - para pensar.

O pó dos dias leva a que imaginemos que a vida corre por si. Sem que precise de um mestre de costa ou de um homem ao leme. Conduz-nos para veredas íngremes e para couraças escorregadias. Faz das pessoas vultos, e parece tornar opaco o nosso querer. Ah!, e obriga-nos a lamentar, quase para sempre, o quanto desejávamos transformar o pó dos dias numa manhã de sol. Se pudéssemos... é claro.

Nem sempre querer é poder. Muitas vezes, quer-se e não se pode. A diferença está entre querer... e acreditar que se pode.

Sempre que acreditamos, os milagres acontecem. E aquilo que falta a quem quer (e não pode) é um «vai, que eu olho por ti». Alguém que, algures na nossa vida, nos tenha dado a suprema bondade de acreditar naquilo em que acreditamos, e de querer o que nós queremos, que transforma o querer em poder.

Em verdade, o truque esconde-se neste pequeno pormenor: quando se quer, ninguém consegue ir - mesmo que vá pelos seus sonhos - contra todos os que, afirmando que gostam de nós, jamais nos dizem: «vai, que eu serei a tua âncora». Ou «vai, que eu olho por ti». (Por vezes, dizem mesmo, embrulhado num silêncio cobarde: «se fores, deixo de olhar para ti»).

Todos nós precisamos de uma âncora para que os milagres aconteçam e, assim, se vença o pó dos dias. E talvez seja isso o que a vida tem de mais desconcertante: não são os ventos nem as marés, só as âncoras... nos permitem navegar." - Eduardo Sá

terça-feira, 7 de novembro de 2017





"A vida tem regras.

A questão é que elas talvez não sejam as que tu pensas.

Começa logo no recreio da escola, ou à mesa da cozinha, na infância. «Quem cedo madruga, Deus ajuda», dizem-nos. «Devagar se vai ao longe.» «Sê justo para com os outros e os outros serão justos contigo.» «O bem atrai o bem.» «Só com fé poderás concretizar os teus sonhos.»

São estas as regras que nos ensinam, desde o dia em que chegamos ao mundo. Ouvimo-las dos nosso pais, dos nossos professores e da nossa cultura em geral. Ao crescermos, elas tornam-se as fundações das nossas esperanças, expectativas e crenças. Teoricamente, é um excelente sistema. Basta-nos tratar as pessoas de forma justa, fixar objectivos positivos e trabalhar arduamente para os alcançar. Como a vida é justa, tudo acaba por funcionar bem.

É provável que já tenha percebido que as regras que julgava verdadeiras, afinal, não são. No fim de contas, o que tanto nos diziam não é verdade. A vida não é justa. O bem nem sempre atrai o bem. Não é por ser uma pessoa de bem que deixará de sofrer desgostos, de ser traído por pessoas da sua confiança e, por vezes, de perder quem ama. Por mais que se esforce, por mais diligentes que sejam as suas orações ou por mais respeito que demonstre pelas outras pessoas, a verdade persiste: a vida é que decide.

Não são aquelas regras de que já ouviu falar cem vezes e nem todas são como esperava. Umas serão para si um alívio e uma revelação bem-vinda, consolidando o que sempre sentiu no seu coração. Outras talvez lhe pareçam terrivelmente incómodas e dolorosamente familiares. Em conjunto, compõem as verdades subtis e simples da vida, tal como ela realmente é. Nesse conceito, incluem-se os muitos mistérios, bençãos e incertezas da vida, bem como a imensidão do terreno desconhecido que nos pedem para desbravar, dia após dia. Por vezes, essas verdades podem parecer avassaladoras. Podem fazer-nos sentir tão vazios que nem sequer temos forças para as enfrentar. Compreender e ter a ousadia de enfrentar a vida, tal como ela realmente é, sem protelar, dá-nos condições para vivermos o resto das nossas vidas perfeitamente despertos. Fazer as pazes com aquilo que temos evitado ou de que andamos a fugir, porventura, desde a  infância, permite-nos amadurecer como seres humanos.

Lutamos no nosso interior, na tentativa desesperada de não encarar essas verdades. Mas só reconhecendo a sua existência, uma a uma, é que poderemos começar a fazer as pazes com a vida. Pensemos no facto de envelhecermos, por exemplo. Fazer as pazes com a nossa própria mortalidade, aceitar as mudanças operadas nos nossos organismos, que abrandam o passo e acabam por ceder, é um duro desafio. Mas agindo assim, permite-nos fazer os ajustamentos necessários para termos uma vida mais aprazível e satisfatória, no tempo que ainda nos resta. O ícone e fundador da Apple, Steve Jobs, sabia isso. «A noção de que em breve estarei morto», declarou num discurso que dirigiu aos graduados de Stanford, «é a ferramenta mais importante que alguma vez encontrei para me ajudar a tomar as grandes decisões da minha vida. Isto porque quase tudo - todas as expectativas externas, todo o orgulho, todos os receios do embaraço ou do fracasso - se dissipa perante a morte. Só fica o que é realmente importante.»

Também podemos reconhecer que o mais provável é virmos a sofrer enormes perdas e desilusões, ao longo da nossa vida. Que vivemos tempos de perigo, risco, insegurança e incerteza, em que pouco depende de nós. E, talvez o mais importante, que as muitas dádivas e bençãos da vida nos passarão todas ao lado, se não lhes começarmos a dar o devido valor.

Então as perguntas passam a ser: Como podemos lidar com a realidade das nossas vidas, enfrentar corajosamente os nossos receios e despertar? Como podemos deixar de desperdiçar toda a nossa energia, para passarmos os nosso dias escondidos, em negação, reprimidos, a fingir, a evitar a vida e a correr? Como poderemos libertar-nos para sermos capazes de abrir os braços às profundas e ricas alegrias da vida, por um lado, e resistir às tristezas, por outro? Como podemos adquirir uma consciência mais humilde da vida, tal como ela é, e aceitá-la nesses termos - vivendo com mais ousadia do que nunca e como se cada dia fosse uma dádiva preciosa?

Todos trilhamos caminhos diferentes na vida. Uns, somos nós que escolhemos. Outros, escolhem-nos a nós." - Ken Druck

segunda-feira, 6 de novembro de 2017





"Não é potenciando as nossas tendências ao status quo e à acumulação que vamos obter a quietude interior, mas sim libertando-nos do exacerbado sentimento de posse e praticando uma atitude de maior desprendimento. Tudo o que é adquirido pode perder-se, mas o que nos é inerente ninguém o pode roubar. A generosidade, o desprendimento e o desapego são qualidades nada fáceis de cultivar e fomentar, porque o ego sempre quer reter e incrementar. Temos de nos servir do que possuímos desprendidamente e não ser possuídos pelos objectos; celebrar com agradecimento o que nos dá prazer, mas sem nos agarrarmos e, sobretudo, não virar as costas ao nosso ser e tentar cultivar a nossa inclinação para a quietude, para a liberdade interior e para o equilíbrio mental." - Ramiro Calle

domingo, 5 de novembro de 2017

Os sonhos escolhem pessoas - Legendado (PT-BR) - Sessão Motivação











"Pode ser difícil encontrarmos a felicidade dentro de nós próprios; mas é praticamente impossível encontrá-la noutro lado.



Uma vez que a maior parte da felicidade emana da mente e da alma, onde tenciona ir à procura dela?" - Ernie Zelinski

sábado, 4 de novembro de 2017





"No enamoramento, há uma primeira fase em que os dois enamorados vivem uma extraordinária experiência de transfiguração do mundo e da pessoa amada. É o estado nascente. Muitos, porém, pensam que se trata apenas de uma violenta tempestade emocional e acham que a construção do casal estável acontece depois, graças à razão e à vontade. Não é assim. A paixão do enamoramento não é apenas um furacão de sentimentos, é também uma intensíssima actividade intelectual em que os dois enamorados se estudam, debatem as próprias vidas, descobrem as suas tendências mais profundas, fazem projectos e lançam as bases do seu relacionamento futuro.

Cada um deles quer saber tudo sobre o seu amado, quer ver o mundo como o viu quando era adolescente, jovem, quer participar nas suas alegrias e nos seus sofrimentos. Ao mesmo tempo, quer contar-lhe tudo sobre si mesmo, sobre a sua vida, contar-lhe as suas esperanças, as suas desilusões, os seus sonhos. Muitos escutam tão avidamente a história de vida do seu amado, participam tão intensamente, que têm a impressão de terem estado sempre a seu lado, de o terem observado (não visto) com ansiedade, com emoção, porque já então o amavam.

E o grande amor apaixonado que dura abraça tudo: o presente, o passado e o futuro. Mistura o tempo e o espaço, de forma que temos a impressão de termos amado o nosso dileto mesmo quando ainda não o conhecíamos, até mesmo quando estava com outro. E parece-nos que fomos feitos um para o outro, que estávamos destinados a apaixonar-nos, que tínhamos inconscientemente esperado um pelo outro. Muitos enamorados chegam a perguntar-se: «Porque não te encontrei antes, meu amor? Porque apareceste tão tarde?» É graças a esta correspondência, a este entrelaçamento temporal, que o amor se torna duradouro, porque nenhum dos dois consegue pensar em si mesmo sem o outro, nem hoje nem ontem nem amanhã." - Francesco Alberoni

sexta-feira, 3 de novembro de 2017





"No amor não há sentimentos maus.

O ciúme é um sentimento bom. Porque, sem ele, não ficaríamos divididos entre termos o nosso amor unicamente para nós, por mais que isso o deixasse triste, e reparti-lo com outras pessoas com quem se relaciona, por mais que isso lhe traga vida. A inveja é um sentimento bom. Porque sem sentirmos inveja nunca a converteríamos em ambição, em rivalidade e crescimento.

Os únicos sentimentos maus são aqueles que, depois de sentidos, não encontram em ninguém um espaço para se manifestarem. (Por mais que o amor não seja um sentimento, ele pode ser mau. Basta que fique guardado só para nós.)" - Eduardo Sá

quinta-feira, 2 de novembro de 2017





"É uma evidência que, se perseverarmos ternamente, com paciência mas sem remissão, a nossa vida pode mudar por completo. Que fantástico é sair à rua e poder gozar o sol, as cores encantadoras da natureza, o milagre da brisa que agita as copas das árvores! Que maravilha é sentir-se esplêndido e transmitir paz e alegria ao mundo que nos rodeia!

E, uma vez alcançado esse nível de bem-estar, que melhor do que devolver ao mundo parte da beleza que ele nos oferece? Todas as cidades do mundo poderiam ter mais ruas pedonais, mais edifícios bonitos... Todas as pessoas poderiam exibir mais sorrisos mais rasgados e brindar os demais com palavras agradáveis... Todos os ofícios se poderiam levar a cabo com mais amor e ternura...

Todos os que tiveram a sorte de descobrir essa faceta bela da vida sentem vontade de produzir bem-estar e de transmitir essa cadeia de «felicismo» ao nosso meio. Que sejamos cada vez mais. Podemos transformar o mundo devolvendo-lhe a serenidade e formosura que se exige.

Persevere, faça do trabalho racional uma prioridade, proíba-se a si próprio de entrar em conflito com situações e pessoas, retire a palavra «queixa» do seu dicionário, elimine todos os seus medos e complexos: junte-se ao clube das pessoas fortes. Estamos à sua espera de braços abertos." - Rafael Santandreu

quarta-feira, 1 de novembro de 2017





"A felicidade interior pertence-nos, é propriedade nossa, mas é preciso pôr os meios, fazer os exercícios e cultivar as atitudes para que ecluda. Num bloco de mármore está potencialmente a escultura... mas é preciso esculpir. O esforço é energia, vigor, disciplina e perseverança. Se é esforço consciente e equilibrado e se for sabiamente aplicado, tanto melhor. Outra pessoa pode dar-nos de comer, ajudar-nos a vestir, procurar-nos alojamento ou mesmo lavar o nosso corpo se estivermos impedidos de o fazer, mas ninguém pode encontrar a felicidade interior por nós, assim como ninguém pode saciar a sede por outrem. Requer-se um esforço sem desfalecimento e sem desmaio, aplicado com tenacidade e paciência, para irmos reorganizando a nossa mente e recuperando a paz interior. Nada é tão poderoso como o esforço aplicado adequadamente e apoiado na correcta motivação e na intenção pura. O esforço permite-nos desalojar da mente e da psique os estados mentais perniciosos e as emoções insanas, e ir suscitando e ampliando os estados mentais harmoniosos e as emoções saudáveis. A felicidade interior não é para os preguiçosos, para os apáticos, para os indolentes nem para os negligentes. O tesouro interior é para aqueles que o procuram e, inclusive, a «graça» não se manifesta senão após um prolongado exercício sustentado no esforço correcto." - Ramiro Calle