quinta-feira, 31 de agosto de 2017






"Sempre haverá alguém a quem não agradamos e sempre há gente avessa que se transforma no pior inimigo dos outros. As pessoas, para mais, estão sempre prontas a censurar e a criticar, a recriminar e a desqualificar, a fazer pouco do mais fraco e a ridicularizar aquele que não se encaixa nos modelos que tentam impor. Há algum lugar onde não haja pessoas contrárias, malévolas e cruéis? Em certa ocasião, Buda e os seus discípulos foram insultados e acolhidos com muita hostilidade num lugar. Os seus discípulos disseram-lhe: «Vamos embora depressa, senhor.», e Buda disse: «E se lá onde formos também nos insultarem, o que fazemos? Não, vamos ficar aqui até que esta hostilidade amaine e depois partiremos.» Infelizmente, esse animal que é o ser humano, enquanto não se humaniza verdadeiramente, não é cooperante e compassivo e tende a criar inúteis dificuldades aos outros, como se a vida não fosse já suficientemente complicada." - Ramiro Calle

quarta-feira, 30 de agosto de 2017





"O amor que recebemos dos demais é um dos factores mais decisivos para o desenvolvimento e o equilíbrio de uma pessoa. Isto pode ser dito com mais intensidade, mas não com mais clareza. A consciência do eu enquanto sujeito pessoal torna-se perceptível quando somos reconhecidos como tal pelos demais. Descobrimos a nossa dignidade quando somos dignamente tratados, da mesma forma que descobrimos o amor quando somos amados.

O facto de as nossas vidas dependerem do afecto é uma realidade incontestável, tanto pelos benefícios que o afecto comporta como pelos riscos e sofrimentos gerados pela sua perda ou pela sua ausência. O afecto é mais do que um acto de ternura, uma atitude positiva ou uma atracção pelo outro. O afecto humaniza, une, preenche e dá vida, e a falta de afecto pode causar a morte. Esta é uma verdade tão dura quanto profunda.

Para Paul Watzlawick, uma sociedade é humana na medida em que os seus membros se confirmam reciprocamente. Essa confirmação interpessoal passa, sem dúvida, pelas experiências de afecto como os beijos, os abraços e as carícias, quer as mesmas se produzam no plano real ou na esfera virtual, em silêncio ou com verbalizações, e independentemente da distância física. Não há maior reconhecimento de outro ser humano do que o seu afecto sentido na nossa própria pele. A pele é o mais íntimo lugar de encontro entre o «tu» e o «eu»." - Xavier Guix

terça-feira, 29 de agosto de 2017





"Enquanto simples mortal, acredito que a capacidade de sarar as feridas e seguir em frente não depende tanto da capacidade craniana das pessoas, quanto do senso comum quotidiano. Pegue no que precisa e faça-se ao caminho. Ponha a máquina a andar. Tendo em conta que pertencemos todos à espécie superior, não se esqueça que, na verdade, nós descobrimos, aprendemos e adaptamo-nos principalmente através dos nossos próprios defeitos e fracassos, bem como daqueles estúpidos e gigantescos fiascos. Pelo menos, era isso que deveríamos fazer.

Precisa de ajuda? Obtenha-a. Eu sou completamente a favor. Mas, no final do dia, no início do dia, e durante todo o dia, a autoconfiança é o principal. 

Eu sei que pareço um pouco sarcástico, demasiado óbvio e, para algumas pessoas, talvez ligeiramente insensível. Mas ficaria surpreendido com o que eu li, ouvi e experienciei em primeira-mão. Não o consigo inventar. É demasiado estranho para se considerar ficção. Para ser sincero, é triste. Para ser completamente franco, é patético. É mesmo muito lamentável a forma como as pessoas perdem tanto tempo e energia a distorcer ou a conservar a esperança de que uma pessoa, qualquer pessoa, as salvará de si próprias." - Dave Pelzer

segunda-feira, 28 de agosto de 2017





"O riso é a distância mais curta entre duas pessoas."

Victor Borge

"Seja o que for que fizeres, nunca percas o teu sentido de humor." Foram as palavras do meu pai quando, após completar o liceu, me preparava para sair de casa e conhecer o mundo. Recordo-me de duas coisas sobre esse momento: em primeiro lugar, na altura quase que nem me apercebi de que ele as tinha dito, só me lembrei delas passados diversos anos. E de ter pensado por que razão, de todas as palavras que podia ter proferido, teria escolhido precisamente estas.

Sei agora - e desde há muito tempo - a razão por que as disse. Ele sabia que eu precisava de as escutar. A vida, por vezes, obriga-nos a ser excessivamente graves.

Mas o humor está ligado a qualquer aspecto da vida humana. Sempre que se toca no botão do humor, massaja-se simultaneamente a alma. Tal como G.K. Chesterton afirmou: "Sempre que ouvir uma anedota ordinária, pode estar certo de que está na presença de uma ideia subtil e espiritual."

Mas, principalmente, o humor liga-nos uns aos outros. Fazendo eco de Victor Borge, Eva Hoffmann refere-se a uma experiência pela qual já todos passámos quando conhecemos alguém: "Não há nada como uma centelha de humor para nos assegurar de que é outro ser humano que pulsa por trás de uma cara totalmente estranha."

Não existe ninguém mais desagradável do que aquela pessoa que se leva a si própria demasiado a sério. Não existe ninguém mais atraente do que aquele que se ri facilmente, especialmente de si mesmo, assim como das piadas que os outros lhe contam. 

A propósito de anedotas, conhece a dos dois irlandeses que foram para o Céu e descobriram que era muito superior às suas expectativas:

- Mas que sítio fantástico! - disse Pat.

- Pois é, - respondeu Mike - e pensar que, se não tivéssemos feito tanto desporto e comido só alimentos saudáveis, já podíamos estar aqui há que tempos! 

Afirma Nicholas Chamfort, intelectual e escritor francês: "O dia em que não se solta uma gargalhada é certamente um dia perdido." - David Kundtz

domingo, 27 de agosto de 2017







"Sabemos que as pessoas realmente fortes e felizes são aquelas que apreciam tanto a vida que nem a dor consegue abalar a sua fruição vital. Indivíduos que sabem apreciar as diferentes oportunidades que a vida lhes proporciona e que não têm qualquer receio do padecimento físico. Se estimularmos essa capacidade que todos temos de nos divertir, acontece magia: a dor torna-se muito mais amena!

Dito de outra maneira: ter medo da dor amplifica a percepção da dor. As pessoas que não sentem medo experimentam a dor de uma forma muito menos intensa. Portanto, digamos a nós próprios: «Eu consigo suportar a dor perfeitamente. A dor não me assusta. Meto-a no bolso e prossigo com a minha estupenda vida.»" - Rafael Santandreu

sábado, 26 de agosto de 2017





"O desapego é uma atitude que se reflecte na não posse e essa é a verdadeira renúncia. O desprendimento emocional que nos torna insensíveis ou impassíveis e disseca o coração não é desapego. Dessa forma só assassinamos a vida e a nós mesmos. O desapego e o amor incondicional sabem conviver perfeitamente, e quando há amor incondicional, há ternura. A equanimidade não é repressão, mas firmeza da mente; e a sabedoria não é rejeição, mas saber assumir e transmutar. A via da insensibilidade e a evasão não são filhos do conhecimento correcto, mas da ofuscação." - Ramiro Calle

sexta-feira, 25 de agosto de 2017





"«A vida é um mistério a ser vivido, e não um problema para resolver.»

"Não há dúvida de que o amor é em simultâneo um mistério e um problema. Ainda que o amor seja parte integrante da natureza essencial do ser humano, aprender a amar é um processo que se desenrola ao longo de toda a existência terrena. A palavra amor não ama. É o verbo que ama, assim como o acto de amar. Enquanto conceito, o amor é uma abstracção, um elemento literário, uma ambiguidade, enquanto o amar expande, expressa, confere realidade e verdade ao amor.

Assim, amar e querer não é a mesma coisa. São movimentos diferentes - um para o exterior, outro para o interior. O querer concentra, enquanto o amor expande. O querer é egocêntrico, enquanto o amar é abrangente e generoso. O querer acumula, enquanto o amor esvazia. Curiosamente, fomos ensinados a pensar que o querer alguém traz a essa pessoa alguma forma de benefício, que o querer alguém traz a essa pessoa o melhor para si. Por outras palavras, fomos ensinados a pensar que o facto de querermos uma pessoa é o suficiente.

No entanto, a própria realidade encarrega-se, continuamente, de demonstrar o contrário. O querer parece algo de mensurável (é possível falarmos no quanto e no como queremos alguém), enquanto o amar não tem medida. Ama-se, simplesmente. Pois, no querer, somos insaciáveis, enquanto no amar não é exactamente assim.

Queremos ter centenas de amigos no Facebook, mas quantas dessas pessoas amamos realmente? O amor não é quantificável, mas teimamos em quantificá-lo. Necessitamos de nos sentir cheios, repletos e saciados de amor, mas não dizemos «Quanto te amo!». O amor não é quantificável porque é ilimitado." - Xavier Guix

quinta-feira, 24 de agosto de 2017





"Todo esse material desnecessário do seu passado, que nada na sua cabeça e sobre o qual não possui nenhum controlo - a culpa, a vergonha, o remorso, a raiva, a frustração, a perda - é porcaria. Se alguma coisa negativa o domina, então isso é porcaria. Se não funciona para si, é porcaria. Se é uma pessoa infeliz, frustrada, e se se sente mal ou abatido de uma forma geral, tudo isso se deve a ter a cabeça cheia de porcaria. Porcaria. Porcaria. Porcaria. Porcaria. Porcaria!

Pense nisso da seguinte forma: as pessoas que parecem estar de bom humor e ter uma base sólida de auto-estima - seja o que for que lhes aconteça, incluindo coisas negativas, sabem como lidar com o entulho da vida." - Dave Pelzer

quarta-feira, 23 de agosto de 2017





"Muitas pessoas morrem com a sua própria música ainda dentro delas..."

Oliver Wendell Holmes

"Que coisa tão triste para se dizer sobre alguém: a sua música encarcerada foi enterrada com ele, sem nunca se ter expressado; as suas maravilhosas sonatas nunca trarão alegria e intimidade ao coração humano. Nunca saberemos como poderia ter sido.

Um dos objectivos da serenidade todos os dias é ajudar-nos a dar expressão - uma expressão a plenos pulmões, bem alto e vibrante - a qualquer música que resida na nossa alma; quer se trate da música do contabilista, da harmonia do ensino, das notas da reparação, das sinfonias da poesia, das melodias do marketing, da música da programação, das rapsódias das vendas, e assim sucessivamente através de toda a escala de estados humanos, actividades e dons.

Oliver Wendell Holmes prossegue o seu raciocínio fazendo uma pergunta sobre a sua declaração: "E porquê?" À qual dá também a resposta: as pessoas morrem com a música ainda dentro de si "com demasiada frequência (...) porque estão sempre a preparar-se para viver. E, antes de se darem conta, o tempo já acabou".

Será que você - tal como eu - se consegue recordar de ocasiões em que os seus pensamentos soaram a qualquer coisa do género: só tenho de esperar que isto e aquilo aconteça, e então poderei... Isso é preparar-se para viver, não é viver. Viver é aquilo que se passa independentemente de si enquanto espera que isto e aquilo aconteçam.

E, em última instância, de forma inevitável e indiscutível - o tempo esgota-se. 

O tempo é sempre escasso. Os jovens ainda não o entendem, os mais velhos sabem-no muito bem.

Por isso, para todos nós, jovens, velhos ou de meia-idade: toquemos a nossa música! Seja qual for o resultado, é nossa! É maravilhosa. Quem sabe quem poderá fazer dançar? E, assim, já não será enterrada connosco!" - David Kundtz

terça-feira, 22 de agosto de 2017





"Certa manhã, um velho mestre hindu, cansado das queixas do seu discípulo, decidiu mandá-lo buscar sal. Quando o discípulo regressou, o mestre ordenou-lhe que pusesse um punhado de sal num copo de água e que o bebesse.

- Como sabe? - perguntou.

- Muito mal! - respondeu o jovem.

O mestre sorriu e, de seguida, disse-lhe que juntasse a mesma quantidade de sal a um lago. Caminharam juntos em silêncio até ao lago e o jovem atirou o sal para a água. O ancião pediu, então:

- Agora bebe a água do lago.

E, depois de um longo gole, perguntou-lhe:

- Como sabe?

- É muito mais saborosa e refrescante.

- E não se nota o sal? - perguntou o mestre.

- Não - respondeu o discípulo.

O ancião sentou-se junto do jovem e, com muita ternura, explicou-lhe:

- Nesta vida, a dor é sal puro: sem tirar nem pôr. A quantidade de dor é a mesma para todos, mas a amargura depende do recipiente em que o deitamos. Quando sentires dor, a única coisa que tens de fazer é expandir a tua compreensão daquilo que te rodeia. Podes deixar de ser um copo para te tornares um lago." - Rafael Santandreu

segunda-feira, 21 de agosto de 2017





"Em certa ocasião, organizou-se um grande banquete. Havia um bom número de comensais e saíram enormes travessas com todo o tipo de peixes. O anfitrião pregou:

- Graças aos céus e às suas sábias leis, podemos degustar este tipo de alimentos criados para o homem!

Os convidados assentiram às palavras do anfitrião e todos comeram com muita vontade e grande apetite. O segundo prato era aves e levaram dezenas delas em várias travessas. O anfitrião disse:

- Benditos sejam os céus por terem criado aves para que os homens se possam alimentar com elas.

Os convidados deram razão ao anfitrião. Mas, nesse preciso instante, o seu pequeno filho endireitou-se na cadeira e disse:
- Não concordo nem com o meu pai, nem com nenhum dos seus convidados. Não é verdade que os peixes e as aves tenham sido criados para nós. Os mosquitos chupam o nosso sangue para se alimentarem. E podemos dizer que fomos criados para os mosquitos?

O menino acabava de lhes dar uma bonita lição.

É tão fácil e tão imaturo procurar justificações falsas e atirar as responsabilidades para cima dos outros. Mas ninguém pode fugir às consequências das suas acções e, por muitas justificações e pretextos que possamos dar, somos responsáveis por cada acção e não há maneira de evitar essa responsabilidade. A capacidade do ser humano para fabricar auto-enganos é verdadeiramente surpreendente." - Ramiro Calle

sábado, 19 de agosto de 2017





"Para Victor Frankl, o que dá sentido à nossa vida, o que nos impele a viver, bem como o que nos sustém na adversidade, é o amor. Vivemos com sede de amar, de exprimir o nosso afecto e também de nos sentirmos amados. Na verdade, todo o ser humano se move em torno deste princípio: crescer, partilhar, cooperar, colaborar, acompanhar, cuidar, comunicar, dar e receber. No entanto, amar é uma arte que pressupõe uma aprendizagem emocional. O amor é uma inteligência, uma linguagem que se constrói a partir da confiança e da autoestima. Sem estes elementos não pode haver comunicação sincera, intimidade, entrega profunda, compromisso, encontro ou uma relação durável e de qualidade. Sem confiança e sem autoestima não pode haver compromisso, e sem compromisso não existe verdadeira qualidade em relação alguma. 

Por outro lado, o amor é, um acto, uma acção, uma expressão activa, uma vontade encarnada num gesto, um movimento, um fazer. É na dialéctica que é gerada pelo amor, e através dele, que crescemos. A relação amorosa pode levar-nos ao que de mais belo somos, e a dar o melhor de nós, mas também pode trazer-nos um enorme sofrimento. Possivelmente, o amor maduro e consciente combina o amor-próprio com o amor pelo outro. Todo o ser humano tem o direito de ser amado com dignidade. É aí que reside o limite, e também a origem de toda a relação que mereça ser qualificada como amorosa. O amor não é canibalismo físico, afectivo ou intelectual, nem dependência obsessiva, nem, pelo contrário, falta de compromisso. O amor é partilhar e construir tendo em conta as fronteiras que nos separam e as diferenças que nos definem, mas que também nos aproximam e complementam. O amor é aproximação livre e voluntária, cujo propósito é o de dar vida aos projectos desejados a partir do respeito pelas diferenças que geram sinergias. Mais do que quando fazemos amor com os nossos corpos, o amor acontece quando fazemos amor com os nossos desejos, pensamentos e projectos para, em conjunto, trazermos o amor à vida.

O amor é dar asas, respeitando o compromisso estabelecido e as expectativas forjadas a dois. Amar não é escravizar, submeter ou depender. Pelo contrário, o verdadeiro amor não é mais do que o desejo inevitável de que o outro seja quem verdadeiramente é ou possa chegar a ser, precisamente porque nos propomos a encorajá-lo a superar os seus próprios limites, e agradecemos que o ser amado faça o mesmo connosco, se esse for o desejo de ambos." - Álex Rovira

sexta-feira, 18 de agosto de 2017





"Aquilo que me causa uma aflição sem fim é quando um elemento do seu passado, alguma coisa que aconteceu talvez há cinco, dez, vinte, trinta ou mesmo há mais de quarenta anos, continua a dominar todas as facetas da sua vida, provocando-lhe vergonha e infelicidade, destituindo a sua vida de qualquer auto-estima e ambição! Repito, a sua vida.

Diga-me agora, ou, mais importante ainda, pergunte honestamente a si próprio: Isso não é simplesmente estúpido?

Eu compreendo e admito perfeitamente que lidar com estas situações e saná-las demora tempo. Mas de quanto tempo, energia e sofrimento precisamos nós para preencher o vazio, para seguir em frente ou, mais importante ainda, para melhorar as coisas de alguma forma? Se tiver quarenta anos e continuar absorto em algo que aconteceu a meio da sua adolescência, não terá, na verdade, desperdiçado mais anos da sua vida do que aqueles que ocupou o acontecimento em si?

Se há alguma coisa que você pode fazer, faça! Se tem alguma coisa para dizer, diga. Pense com a sua própria cabeça. Fale com o coração. Nove em cada dez vezes, mesmo aqueles que não concordam com a sua posição, com os seus métodos, acções ou palavras deverão pelo menos respeitá-lo por ter a coragem de tentar melhorar as coisas. E, se não respeitarem, bem, então que se lixem - de qualquer modo, não teria feito nenhuma diferença.

O que interessa é que utilize as suas capacidades o melhor possível, e só o poderá fazer se se livrar de estúpidos e inúteis coágulos de porcaria que lhe prejudicam a auto-estima e se impedir que eles se continuem a acumular durante o resto da sua vida.

E é isso que caracteriza a verdadeira liderança. Fazer o seu melhor correndo um determinado risco. Tomar uma posição enquanto se tenta desviar das bostas de vaca espalhadas pelo caminho da vida! E, quando pisar uma - algo que, na vida, é completamente normal e absolutamente inevitável - tudo o que poderá fazer é raspá-la do seu sapato e continuar viagem sem pensar mais nisso." - Dave Pelzer

quinta-feira, 17 de agosto de 2017





"Quando deixamos de ter tempo para os prazeres simples da vida... desperdiçamos o objectivo da própria vida."

Ed Hays


"Uma das imagens mais fortes e persistentes que me ocorrem em relação à minha vida é aquela em que me vejo como um homem idoso, que se levanta bem cedo numa manhã e chega à conclusão - nessa alvorada cinzenta e fria - de que "desperdiçou" a sua vida. Nessa visão, tenho perfeita consciência de não ter estado desperto, de não me ter apercebido dos prazeres que desejava realmente e de ter tido receio de arriscar. Seria um momento de enorme tristeza.

A visão é assustadora mas o meu receio vai gradualmente diminuindo à medida que vou aproveitando o tempo, ao longo dos dias e anos, para restabelecer a ligação comigo mesmo. Por isso, procuro penetrar nessa imagem e passar algum tempo com ela, inquirir o que pretende de mim e aquilo que tem para me dar.

Não sou o único que manifesta este receio de perder alguma coisa importante. Jack Kornfield faz uma declaração similar: "Sempre que caminhar, comer ou viajar, procure estar presente no momento. Em caso contrário, desperdiçará grande parte da sua vida."

Ronald Dahl é médico e pai. Num artigo publicado recentemente na Newsweek sobre o ritmo de vida e sua inquietação com implicações que pode ter no nosso bem-estar, escreveu o seguinte: "Apercebi-me de que tenho receio de estar a perder alguns capítulos da sua infância [dos filhos] no decurso da minha vida frenética e super-atarefada."

Dá ideia de que ele também deve ter tido uma visão assustadora: acordar uma bela manhã e aperceber-se de que os filhos partiram, ou pior ainda, de que nem sequer os conhece.

Considere o que significa para si a expressão "desperdiçar a vida". Quais são as coisas que mais lamentará não ter podido assistir ou não ter feito? Como pode começar a viver de forma a estar presente naquilo que é mais importante para si?" - David Kundtz

quarta-feira, 16 de agosto de 2017





"Só podemos desfrutar daquilo de que podemos renunciar. Hoje estamos vivos, amanhã mortos. O objectivo é remover toda a pressão inerente ao trabalho traçando o pior dos cenários possíveis: podemos perder tudo e estar igualmente satisfeitos porque desfrutámos do processo. 

Evitar «ser tonto» consome preciosa energia. É melhor aceitar essa possibilidade sabendo que existem outros aspectos da vida muito mais importantes do que a inteligência.

Viver sem apegos permite sentir um enorme apreço pela vida. O que é melhor? Isto ou dinheiro?" - Rafael Santandreu

terça-feira, 15 de agosto de 2017




"Os ensinamentos de todos os caminhos místicos do mundo mostram claramente que existe dentro de nós uma reserva imensa de poder, o poder da sabedoria e compaixão, o poder daquilo que Cristo designou por Reino dos Céus. Se aprendermos a usá-lo - e é esta a finalidade da procura da iluminação -, ele pode transformar-nos não só a nós próprios mas também ao mundo que nos rodeia. Houve alguma época em que o uso deste poder sagrado fosse mais essencial ou mais urgente? Houve alguma época em que fosse mais vital compreender a natureza deste poder puro e como o canalizar e usar para o benefício do mundo? Reconhecer a natureza da mente implica gerar no âmago do seu ser uma compreensão que transformará toda a sua visão do mundo e o ajudará a descobrir e a desenvolver, de um modo natural e espontâneo, o desejo compassivo de servir todos os seres, bem como um conhecimento directo da melhor maneira de o fazer, recorrendo a qualquer talento ou capacidade que tenha e mediante as circunstâncias em que se encontra." - Sogyal Rinpoche

segunda-feira, 14 de agosto de 2017





"O pensamento de ódio liga-nos à pessoa odiada. Essa atitude é muito pouco inteligente, porque além de detestá-la, sofremos por ela, enquanto ela é alheia ao nosso exagerado ressentimento. É muito difícil transformar o ódio em compaixão, embora haja exercícios de meditação muito bons para isso. Pelo menos é preciso libertar a mente do ódio para pôr um fim ao sofrimento e poder encontrar a liberdade interior. O ódio é uma força negativa muito poderosa que tem tendência a transformar-se na pior das prisões." - Ramiro Calle

domingo, 13 de agosto de 2017





"Acredito que as vidas que vivemos são as vidas que fazemos. Chamem-lhe autodestino, a vontade de Deus, karma, sorte, azar, o que quer que seja. Mas quando nos sentamos em casa ao fim do dia e nos olhamos ao espelho - depois de termos esfregado toda a sujidade e maquilhagem e de vermos quem realmente somos e o local que ocupamos nesta fase da vida, sem qualquer pretensão e sem os nossos ornamentos exteriores - a realidade da vida acerta-nos mesmo entre os olhos.

Acredito que, por mais erros que tenhamos cometido; por mais que tenhamos mesmo, mesmo, feito asneira; por mais velhos, gastos ou desalentados que tenhamos ficado; desde que haja uma ambição verdadeira e decidida, todos nós temos uma oportunidade de alcançar a excelência. Todos podemos invocar a coragem para lidar com problemas, por mais avassaladores, dolorosos ou degradantes, que nos tenham assolado ou mesmo paralisado no passado - de uma vez por todas. Com determinação, podemos ir mais além das barreiras quotidianas, na tentativa de nos aperfeiçoarmos. Aprendendo com as nossas experiências passadas, podemos, e devemos, aspirar à realização dos nossos sonhos, tornando a vida melhor não só para nós próprios como para outras pessoas que nos rodeiam ao longo da viagem da nossa vida.

Acredito que não é necessário ter vivido uma infância perfeita (se é que existe tal coisa) para ter uma vida satisfatória e produtiva. Não é preciso termos sido criados num bairro majestoso e cheio de cerejeiras em flor; ficarmos obcecados por ter um corpo firme como uma rocha e sem uma grama de gordura, cabelo forte e brilhante, partes do corpo aperfeiçoadas cirurgicamente e dentes brancos como pérolas com um brilho ofuscante; ou morar em mansões por detrás de portões de ferro, com uma segunda propriedade na praia, para obter e preservar esse tipo de nirvana.

(Diga-me, que tipo de fantasia auto-ilusória é essa?)

Acredito que não precisamos de ter uma carreira multibilionária de colarinho branco e engomado, de ficarmos presos aos estilos de vida social dos ricos e ridículos, ou de termos toda a fama do mundo para que toda a gente nos conheça e nos possamos sentir reconhecidos, desejados, apreciados e, acima de tudo, amados.

Eu sei como nos sentimos quando, independentemente daquilo que fazemos, do quanto trabalhamos e nos sacrificamos, dia após dia, começamos a acreditar que nunca vamos avançar, que todo o nosso tempo e esforço foram em vão. Sei que, por vezes, a responsabilidade, todo aquele peso que carregamos aos ombros, se torna impossível de suportar, e tudo o que queremos é fugir do mundo e simplesmente desaparecer.

Eu sei como nos sentimos quando certas pessoas nos vêem como algo que não somos. Sei como é doloroso ser inadaptado - manter a cabeça baixa, a boca fechada e os olhos fechados perante situações quotidianas, vivendo uma vida oca, enquanto, durante todo esse tempo, existe outra pessoa, o nosso eu verdadeiro, bem lá no fundo, morto por dizer o que tem a dizer e explodir para a vida nas suas próprias condições.

Sei o que é ser usado, sei o que é a humilhação tornar-se uma ocorrência normal e quotidiana; sofrer de baixa auto-estima e desempenhar tarefas com uma educação formal limitada; viver todos os dias com um enorme sentimento de culpa avassaladora vindo de um passado negro muito, muito, distante. Também sei o que é sentir-me extremamente abençoado quando outras pessoas que nos rodeiam e que passaram por coisas muito piores, trabalharam mais arduamente, e sacrificaram muito mais não são tão afortunadas.

E sei ao certo, pessoalmente, o que é fazer a nossa parte para ajudar a salvar o mundo e, ao mesmo tempo, sentirmo-nos menosprezados, carentes de amor e de alguém que nos ame. 

Ainda assim, com tudo o que experienciei - coisas más, feias e revoltantes, bem como coisas boas, grandes aventuras e sucessos fenomenais que tive a sorte de alcançar - o único elemento que levei comigo e do qual retirei a minha força em todos os aspectos da minha vida resume-se a uma palavra: determinação. Acalentar a crença de que as coisas vão melhorar. Que, por mais pobre, mais dura e mais injusta que a vida tenha sido, todos nós temos o direito e a oportunidade inquestionável de alcançar a excelência. A determinação de que, se conseguimos aguentar os piores tempos, então devemos acreditar que podemos e devemos muito bem alcançar qualquer coisa. Que, por mais miserável e dolorosa que tenha sido uma experiência, temos de reunir a força necessária para a confrontar, assumir o comando e pô-la para trás das costas para seguir em frente e viver uma vida rica e plena. Acreditar que não só podemos alcançar os nossos sonhos, como também invocar a coragem de ir regularmente mais além do nosso conforto habitual, tentar melhorar as nossas vidas e as vidas dos que nos rodeiam. A vida é mais do que o que podemos adquirir num impulso momentâneo para levar o cartão de crédito ao limite sem nos preocuparmos nem assumirmos a responsabilidade pela forma como vamos pagar aquele lustroso monovolume que consome imenso mas que temos de ter antes de qualquer outra pessoa, ou roupas que não usaremos daqui a três meses porque já «saíram de moda», ou um armário cheio de sapatos de design tão ultrajantemente caros que um par deles podia alimentar uma família de cinco pessoas durante um ano.

Pode tomar a iniciativa, estabelecer padrões para si próprio, lidar com o seu passado, e compreender que quase todas as coisas, sejam elas boas, magnificentes ou repugnantes, têm um propósito. Mas, durante todo esse processo, tem de tomar uma posição. Tem de manter a cabeça erguida. Acreditar que o futuro lhe reserva dias melhores. 

Independentemente do que pense, do que faça ou simplesmente da sua maneira de viver, quando olha para o seu reflexo no final do dia, a realidade da sua vida resume-se a seguir em frente." - Dave Pelzer

sábado, 12 de agosto de 2017





"Paul Pearsall, terapeuta e popular orador, identificou um problema espiritual bastante grave e insidioso: o Distúrbio da Ausência de Prazer, sobre o qual afirma: "Somos prisioneiros do terrorismo da saúde, julgando-nos mais frágeis e vulneráveis do que na realidade demonstra a investigação. Esquecemos que o prazer é também um sentido adaptativo." Os sintomas do Distúrbio da Ausência de Prazer "incluem o 'conjunto cínico' de sensações crónicas de ira, irritabilidade, agressão e impaciência (...). Quando não conseguimos obter prazer no nosso regime diário, o nosso corpo começa a manifestar a falta dos seus nutrientes espirituais".

Pearsall não se dirige apenas a terapeutas, mas também a pais, professores e a todos nós. Podemos tornar-nos demasiado sérios e controladores.

Os antídotos? Animem-se! Apreciem a vida o máximo possível! Riam muito diariamente! Não levem tudo demasiado a sério e tenham em conta que, na maioria das vezes, não temos qualquer controlo sobre o que se passa. Afirma Pearsall: "Se não conseguir alcançar um equilíbrio entre pressão e prazer, o seu epitáfio rezará assim: 'Conseguiu fazer tudo, mas mesmo assim morreu.'"

Veio-me à ideia uma refeição que fiz com uns amigos há alguns dias atrás. Quando terminámos, constatei que se tratava de um casal que apreciava realmente a vida: adoraram a comida, gostavam nitidamente da companhia um do outro e pareciam estar encantados por estar com todos nós. As suas vidas não têm nada de extraordinário, com excepção, talvez, de não sofrerem de DAP.

São um exemplo para mim. Personificam as palavras de Pearsall atrás referidas, o que implica que, se você viver a vida com prazer, me estimulará a mim a fazer o mesmo." - David Kundtz

sexta-feira, 11 de agosto de 2017





"Existe uma medida quase infalível da serenidade do homem: a sua capacidade para apreciar o que é belo. Quando estamos tensos perdemos essa capacidade: não reparamos na harmoniosa conjugação de cores que dá vida a um parque, no azul intenso que marca o meio-dia ou na beleza do rosto de um jovem. 

No filme O Silêncio dos Inocentes, o psicopata antropófago Hannibal Lecter mostra-se capaz de matar enquanto desfruta de notas de sublime música clássica. Trata-se de um exercício de pura ficção. Os psicopatas não fruem da música. Pelo contrário, os sádicos experimentam notáveis dificuldades para apreciar a beleza. E até se pode dizer que um dos caminhos para a felicidade consiste em potenciar a nossa capacidade de desfrutar da beleza. E, melhor ainda, de a produzir." - Rafael  Santandreu

quinta-feira, 10 de agosto de 2017





"Podemos afirmar - e acreditar até certo ponto - que a compaixão é maravilhosa, mas na prática as nossas acções são profundamente incompassivas, o que nos traz, a nós e aos outros, sobretudo frustração e ansiedade, e não a felicidade que todos procuramos.

Não é então absurdo que, embora todos nós desejemos a felicidade, quase todas as nossas acções e sentimentos nos conduzem na direcção diametralmente oposta? Poderá haver maior indicação de que toda a nossa perspectiva sobre o que é a verdadeira felicidade, e a forma de a alcançar, é radicalmente falsa?

O que imaginamos que nos fará felizes? Um egoísmo astuto, oportunista e engenhoso, a protecção egoísta do ego, que, como todos nós sabemos, pode tornar-nos extremamente cruéis em determinados momentos. Mas, de facto, a verdade é completamente o oposto: o apego ao eu e zelar pelos nossos próprios interesses, quando analisados verdadeiramente, é que são a raiz de todo o mal que se faz aos outros e também a nós mesmos.

Cada coisa negativa que alguma vez pensámos ou fizemos surgiu fundamentalmente do nosso apego a um falso eu e da nossa complacência perante este falso eu, tornando-o no elemento mais estimado e importante da nossa vida. Todos os pensamentos, emoções, desejos e acções negativas, que são a causa do nosso carma negativo, são gerados pelo apego a nós próprios e pelo desejo de satisfazer a nossa vontade. Eles são o íman sombrio e poderoso que atrai sobre nós, vida após vida, cada obstáculo, infortúnio, angústia e desgraça, sendo assim a causa fundamental de todo o sofrimento do samsara." - Sogyal Rinpoche

quarta-feira, 9 de agosto de 2017





"Até com o Absoluto tentamos negociar, e tornamo-nos jogadores oportunistas e batoteiros, guiados pela avareza. Assim se perde o governo da própria mente, dirigindo toda a energia para o apego e a avidez. Perde-se até a própria humanidade e o coração torna-se tão avarento que nada o pode comover. Então, tornamo-nos duendes vorazes encarnados num corpo humano, mas sem humanidade. Enquanto a avareza desmesurada que nasce da mente e impregna o mundo não parar, não haverá senão agitação e conflitos, que produzem aflição permanente, nunca tranquilidade nem compaixão." - Ramiro Calle

terça-feira, 8 de agosto de 2017





"Aquilo que deveríamos procurar obter é experienciar o prazer sem apego.

Devíamos desfrutar da nossa felicidade ao mesmo tempo que entendemos a natureza do sujeito, da nossa mente, do objecto e dos nossos sentimentos. 

Os Lamas tibetanos costumam dizer: «Não ver é a forma perfeita de ver.» Talvez sejam palavras estranhas, mas têm um significado muito grande: explicam a experiência avançada de alguém que medita no que diz respeito à realidade vasta e universal, a experiência para lá do dualismo.

Ficamos obcecados com isto, ficamos obcecados com aquilo, mas a vida muda constantemente - nada permanece, nada dura.

Sentimos uma perda infindável quando estamos apegados à ideia de que o impermanente deveria ser permanente.

Tudo o que diz respeito ao seu corpo e à sua mente é impermanente: sempre a mudar, a mudar, a mudar.

Mesmo quando lhe dói o joelho, nem é uma dor assim tão má quanto pensa - o seu ego exagera a dor, solidifica a sensação, faz com que pareça imutável, que nem ferro. Esta noção está completamente errada, é uma interpretação absolutamente irrealista. Se você conseguir perceber isto, a dor será digerida pela sua sabedoria e desaparecerá. Porquê? Porque a dor que sente no seu joelho não surge por si só mas em conjunto com a actividade do seu ego. Quando um destes elementos desaparece, esta combinação também desaparece.

Se alguém estiver a deitá-lo para baixo e o seu ego começar a ressentir-se, em vez de reagir limite-se a dar uma vista de olhos ao que está a acontecer. Pense em como o som está simplesmente a sair da boca de outra pessoa, a entrar nos seus ouvidos e a provocar-lhe dor no seu coração. Rir-se-á se pensar sobre isto correctamente; verá o quão ridículo é ficar transtornado com algo tão insubstancial.

Esperamos que as coisas que são mutáveis por natureza não se alterem; esperamos que as coisas impermanentes durem para sempre. Depois, quando elas sofrem alterações, ficamos perturbados. Ficar aborrecido quando algo na sua casa se estraga demonstra que você não entendia verdadeiramente a natureza impermanente disso." - Lama Thubten Yeshe

segunda-feira, 7 de agosto de 2017





"O único momento que um homem pode verdadeiramente chamar seu é aquele que dedica apenas a si próprio; o resto... é o tempo das outras pessoas."

Charles Lamb


Digamos que tem uma semana particularmente dura à sua frente, uma semana repleta de situações difíceis e exigentes. Fica cansado só de pensar nisso. Está na altura de planear antecipadamente um momento maravilhoso de solidão.

Para conseguir equilibrar a sua vida, quando já não tiver de viver o tempo das outras pessoas, precisa de planear um tempo só para si, alguns momentos de solidão e paz.

O planeamento antecipado traduz-se num benefício único: enquanto faz planos e imagina o seu tempo a sós, passa uma parte dessa energia para o momento actual, sentindo-se de imediato mais relaxado.

Enquanto procura ultrapassar os desafios da semana - durante uma reunião tensa, numa consulta médica, enquanto negoceia um contrato difícil, quando se dirige para um encontro potencialmente conflituoso - pode ter em mente que, em breve, deixará tudo isso para trás de si.

Mais tarde, quando tiver desfrutado do seu tempo de solidão, estará mais capacitado para voltar a estar com os outros e enfrentar uma semana exigente de uma forma mais satisfatória.

Após esse tempo a sós, a sua participação na sociedade será mais autêntica." - David Kundtz

domingo, 6 de agosto de 2017





"Hoje em dia fazemos tudo demasiado depressa. Sem disso nos apercebermos, andamos a correr na rua. Parecemos praticantes de marcha em atletismo. E, em muitos casos, nem sequer temos pressa de chegar ao nosso destino. Andamos, simplesmente, acelerados.

Nas lojas, queremos que nos atendam com celeridade para não perdermos tempo. Vá lá, toca a andar!

No supermercado: porque está a fila tão comprida? Era só que faltava! Abram outra caixa!

Consideremos, por oposição, aquele que é o ritmo natural do ser humano. Encontramo-lo em qualquer pequena povoação. As pessoas andam a metade da velocidade, conversam tranquilamente nas lojas, todos os seus gestos parecem abrandados. Quando passamos algumas horas em contextos destes, o ritmo torna-se contagiante e isso, por si só, já se pode revelar muito apaziguador  para a nossa torturada mente.

A velocidade frenética a que vivemos cobra o devido preço ao nosso sistema nervoso.

A minha recomendação para pessoas com ansiedade generalizada é que interrompam a sua actividade, ao longo do dia, aproximadamente a cada hora, para dar um passeio curto, ouvir música, comer ou beber algo e contemplar a beleza que as rodeia.

Esta interrupção é essencial para a restituição da calma. Portanto, não se trata apenas de uma recomendação. Para as pessoas com ansiedade generalizada é quase um mandado. Se o cumprirem, verão a agitação diminuir paulatinamente nas suas vidas." - Rafael Santandreu

sábado, 5 de agosto de 2017





"Nunca nos devemos esquecer de que é através das nossas acções, palavras e pensamentos que temos livre-arbítrio. E se for essa a nossa escolha, podemos pôr fim ao sofrimento e às causas do sofrimento, e ajudar a despertar em nós o nosso verdadeiro potencial, a nossa natureza de buda. Até que esta natureza de buda esteja completamente desperta, e sejamos livres da nossa ignorância, em união com a mente imortal e iluminada, o ciclo de vida e morte não pode cessar. Assim sendo, dizem-nos os ensinamentos, se não assumirmos toda a responsabilidade possível por nós próprios agora nesta vida, o nosso sofrimento será perpetuado não apenas durante algumas vidas mas ao longo de milhares de vidas.

É este conhecimento lúcido que leva os budistas a considerarem as vidas futuras ainda mais importantes do que esta, porque há muitas mais que nos aguardam no futuro. Esta visão a longo prazo determina a maneira como eles vivem. Eles sabem que, se sacrificássemos toda a eternidade por esta vida, seria como se gastássemos todas as poupanças de uma vida inteira numa única bebida, ignorando irracionalmente as consequências.

Contudo, se respeitarmos a lei do carma e despertarmos em nós próprios o bom coração do amor e da compaixão, se purificarmos a nossa mente e formos despertando gradualmente a sabedoria da natureza da nossa mente, então poderemos tornar-nos num verdadeiro ser humano e acabar por alcançar a iluminação.

Albert Einstein afirmou:

"Um ser humano é parte de um todo a que chamamos «universo», uma parte limitada no tempo e no espaço. Ele considera-se a si próprio, aos seus pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto - uma espécie de ilusão de óptica da sua consciência. Essa ilusão é um tipo de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e ao afecto por apenas algumas pessoas que nos são próximas. A nossa tarefa deve ser libertarmo-nos desta prisão ao alargar os nossos círculos de compaixão, de modo a abraçar todas as criaturas vivas e toda a natureza em toda a sua beleza." - Sogyal Rinpoche 

sexta-feira, 4 de agosto de 2017





"O pior medo é o medo do medo. O medo imaginário condiciona-nos e limita-nos, mas ninguém está livre dele. Porque a mente é uma ilusionista muito hábil e, muitas vezes, faz-nos ver e interpretar o que não é. Há medos que se desvanecem assim que somos capazes de os enfrentar, mas nem sempre podemos exigir-nos a nós mesmos ser tão intrépidos. O medo tem uma raiz muito profunda em toda a criatura viva, que será preciso ir desenraizando com muita paciência. Os mestres dizem: «Se fores capaz de enfrentar o medo e atravessá-lo, dissolvendo-o, fá-lo; mas se não for possível para já, não geres conflito e aprende a conviver com esse medo enquanto o vais transformando.» Ao mesmo tempo que nos vamos integrando interiormente, muitos medos vão-nos abandonando de uma maneira tão natural como a criança, ao crescer, vai deixando os seus brinquedos." - Ramiro Calle

quinta-feira, 3 de agosto de 2017





"As naturezas do apego e do amor sincero são completamente diferentes.

Pode começar a desenvolver um amor extraordinário ao reconhecer que toda a felicidade e todos os benefícios que já experenciou provieram de outras pessoas. Quando nasceu, saiu do ventre da sua mãe possuindo absolutamente nada. Os seus pais deram-lhe roupa, leite, cuidados e atenção. Agora que já é crescido, possui roupas e muitas outras coisas. De onde é que essas coisas vieram? São fruto do esforço de outros seres sencientes. Talvez pense que se deve ao facto de ter dinheiro. Você não pode vestir dinheiro. Se o tecido não tivesse sido produzido por outras pessoas, não teria roupas nenhumas. O bolo e o chocolate que lhe dão tanto prazer são produto do esforço de outras pessoas. Se elas não se tivessem esforçado a fazer o bolo, você não teria nenhum. O mesmo se aplica a todos os outros prazeres do Samsara que você tem; tudo vem de outros seres sencientes, são outras pessoas que lhos proporcionam." - Lama Thubten Yeshe

quarta-feira, 2 de agosto de 2017





"O tempo pode parar, estou convencido disso; alguma coisa estala e pára, girando interminavelmente, tal como uma folha num ribeiro."

John Banville

Sim, eu também estou convencido que o tempo pode ficar em suspenso. Acredito mesmo que essa paragem é o tempo mais real de todos. O escritor irlandês John Banville, no seu romance Os Intocáveis, descreve o desejo de uma das personagens de falar ao seu interlocutor sobre as "coisas verdadeiras":

"Queria descrever-lhe o raio de Sol irrompendo pelas nuvens de veludo (...) a incongruente alegria da chuvada que se abateu sobre nós no dia do funeral do meu pai, dessa noite (...) quando vi o navio vermelho sob a ponte de Blackfriars e compreendi o trágico significado da minha vida: por outras palavras, as coisas verdadeiras; as coisas importantes."

Estes são os momentos em que o tempo pára. Um raio de Sol, a chuva, um navio vermelho, todos símbolos carregados de significado. Mas o coração da personagem de Banville contém "as coisas verdadeiras". A sua vida interior revestia-se de um significado mais urgente do que os factores externos que mencionava: por que razão se encontrava à luz do Sol nesse momento, com quem caminhava quando viu o navio vermelho, e até mesmo o enterro do pai.

Quando o tempo fica suspenso, pode estar certo de que contém algo de muito importante.

Para permitir que essa calma fértil se instale, deveremos estar quietos, tal como uma folha que gira interminavelmente nas águas de um ribeiro, presa num remoinho, enquanto o ribeiro prossegue o seu caminho em direcção ao mar.

Procure os momentos em que o tempo fica suspenso durante os seus dias agitados. A que se assemelham? Consegue recordar-se de alguns do seu passado?

E especialmente procure a verdade. Preste muita atenção à verdade que se revela nesses momentos, porque ela irá certamente enriquecer a sua vida." - David Kundtz

terça-feira, 1 de agosto de 2017





"Era uma vez um caminhante que se encontrava no meio de uma montanha. Ao fundo, o caminhante divisou um grande rebanho de ovelhas, guiado por um pastor camponês. Como não tinha nada que fazer, aproximou-se do homem e perguntou-lhe:

- Que tempo vamos ter hoje?

O pastor tirou a boina e respondeu:

- Será, sem dúvida, o tipo de tempo que mais me agrada.

Surpreendido pela resposta, o forasteiro disse:

- Que diabo! Como sabe que o tempo estará a seu gosto?

E o pastor, exibindo a sabedoria própria das pessoas simples, rematou:

- Meu amigo: como há muito me apercebi de que nem sempre consigo aquilo que quero, aprendi a apreciar o que tenho. Por isso, sei que hoje o tempo vai estar fantástico." - Rafael Santandreu