sábado, 30 de setembro de 2017





"Por vezes, quando nos falta uma pessoa, o mundo todo parece estar despovoado."

Alphonse de Lamartine


"Onde se situam as pessoas na sua vida? Posicionam-se da forma como você desejaria? Fronteiras emocionais nítidas e fortes permitem-nos apreciar os nossos relacionamentos com os outros de uma forma saudável para todos.

Os limites são importantes porque, de contrário, cometemos erros muito dolorosos: passamos muito tempo a fazer coisas a contragosto para os outros e, como consequência, cria-se um ressentimento; pensamos que alguém é um grande amigo, mas essa pessoa ficaria muito surpreendida se lho dissessem; acordamos uma bela manhã e apercebemo-nos de que não conhecemos a pessoa deitada ao nosso lado na cama.

Para viver uma vida pacífica e equilibrada, temos necessidade de fronteiras saudáveis, limites que nos permitem dizer não, evitar um empenhamento excessivo e dar resposta às necessidades de todos. As fronteiras saudáveis são flexíveis e somos nós que as controlamos. 

Procure os indícios de limites frágeis ou pouco saudáveis:

Fornecer informações íntimas sobre si a pessoas inadequadas ou mesmo a estranhos.

Pressupor uma amizade profunda por parte de alguém que é apenas um conhecido.

Auto-convidar-se para sítios para os quais não foi convidado nem é esperado.

Incapacidade de dizer não, mesmo quando lhe parece errado dizer sim.

Sentir-se responsável por remediar o sofrimento de qualquer pessoa.

Incapacidade de detectar as "regras" que se aplicam aos relacionamentos profissionais e pessoais. 

Um símbolo para fronteiras confusas: entrelaçar as mãos. Um símbolo para fronteiras muito rígidas: as mãos bem abertas. Um símbolo para as fronteiras saudáveis: bater as palmas." - David Kundtz

sexta-feira, 29 de setembro de 2017





"Num mundo ideal, o maior propósito da educação seria leccionar «qualidade humana»: como ser uma pessoa melhor, como entabular relações de amor e colaboração com terceiros. Essa seria, sem dúvida, a principal disciplina, a grande distância de todas as outras.

O segundo objectivo seria ensinar as crianças a apreciar «o saber» como ferramenta para o bem comum, para o divertimento, não para competir. Logo, todo o ensino deveria ser opcional.

Não seria esta uma escola maravilhosa?

As experiênicas com escolas livres foram um êxito rotundo. Na Grã-Bretanha, a famosa Summerhill adoptou este sistema há mais de setenta anos e as crianças que por ali passaram parecem amar mais a sua escola do que os próprios pais. Entre eles contam-se insignes matemáticos, músicos e médicos, assim como artesãos, electricistas e cozinheiros. Mas contam-se, sobretudo, pessoas harmoniosas, seguras de si mesmas e felizes.

Há pouco tempo li a autobiografia de uma das maiores personalidades do século XX, Sir Winston Churchill, primeiro-ministro da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial, um dos países aliados que derrotou Hitler. Churchill, além de político, foi um escritor laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 1953. Foi desta forma que ele descreveu o seu trajecto escolar:

"Finalmente chegou o dia em que pus termo a quase doze anos de escolaridade. Trinta e seis trimestres durante os quais foi rara a ocasião em que aprendi algo de interesse ou utilidade. Em retrospectiva, aqueles anos conformam o período mais estéril da minha vida. Fui feliz enquanto criança com os brinquedos no meu quarto e sinto-me ainda mais feliz desde que me fiz homem. Contudo, essa etapa escolar constitui uma sombria e lúgubre mancha no meu percurso de vida.

Com efeito, uma educação prolongada, essencial para o progresso da sociedade, não constitui um processo natural para o ser humano. Vai contra a sua própria natureza. Um rapaz gosta de ir atrás do seu pai em busca de alimento ou de uma presa. Gosta de fazer coisas práticas até ao limite das suas forças. Gosta de ganhar um ordenado, por diminuto que seja, para contribuir para as finanças do lar. Adora ter tempo para aproveitar ou desperdiçar como bem entender. E, só então, talvez pela tarde, surgirá um verdadeiro desejo de aprender nas crianças mais prometedoras. Mas, porquê inculcá-lo à força nos que por isso não revelam interesse?"

Assim e só assim é possível abrir as «janelas mágicas» da inteligência." - Rafael Santandreu

quinta-feira, 28 de setembro de 2017





"Quão fraco e pobre acaba por ser aquele que precisa constantemente do elogio para se reafirmar e alimentar o seu mesquinho ego! Mesmo que tenha todas as posses do mundo, comporta-se como um miserável e torna-se o pior dos mendigos, já que não pede para comer, mas para dar de comer ao seu ego voraz." - Ramiro Calle

quarta-feira, 27 de setembro de 2017





"Para se elaborar uma relação, é necessário um espaço de compromisso e permanência que garanta uma base de segurança, de confiança no futuro, de crescimento e plenitude. Dito de uma forma mais simplista, uma relação verdadeira implica compromisso ou, o que é o mesmo, que estejamos nela por inteiro. Neste sentido, pode considerar-se que o amor é exigente: não pode ser vivido pela metade, não quer partes, não cresce quando não é integral, não cria projectos parciais. Não merece a pena viver o amor com uma disposição frouxa, porque a entrega a outra pessoa é uma rendição pessoal. 

Muitas relações morrem às mãos dos egos individuais. Para muitas pessoas, a entrega ao outro e o cuidado do outro são aspectos encarados como perdas pessoais, ou uma diluição no par amoroso, mas não é isto que se passa. Pelo contrário, uma pessoa encontra-se a si mesma ao encontrar o outro, e essa convergência promove a sua felicidade, ou seja, ao fazê-lo, essa pessoa acaba por descobrir a sua própria felicidade. O contrário gera medo, e engendra a necessidade de se reforçarem as defesas individuais. Assim, cada pessoa acaba por se identificar com aquilo que é «exclusivamente seu», e por criar, consciente ou inconscientemente, espaços de confronto. Esta é a via mais directa para a perda de respeito mútuo.

O respeito é um dos grandes ingredientes de uma consciência evoluída, entre outras coisas por que significa estar-se presente. Que melhor prenda podemos oferecer a alguém do que a nossa presença? Não se trata de uma presença física, mas de uma vontade de escutar o outro, de permitir que o som das suas palavras, o timbre da sua voz, a sua vibração, a energia que dele emana e que traduz o seu estado de alma, enfim, a sua presença penetrem o nosso ser. Há que estar presente, gerando uma convergência no espaço e no tempo. Não encontro um símbolo de respeito mais eloquente do que a presença de um perante a emergência do outro.

Obviamente que o respeito também pressupõe a elegância na comunicação, a renúncia à urgência das nossas palavras, gestos e intenções. O respeito aprecia a beleza, o tempo, a ocasião, a forma, a sintonia e a empatia, e permite que o outro seja plenamente quem é. O respeito é, pois, condição necessária para sermos respeitados.

O oposto disto é o menosprezo: quando não temos o outro em conta, separamo-nos dele. A ausência do outro é uma falta de consideração grave. É algo que se nota bem. O menosprezo é menos evidente, e utiliza, amiúde, formas subtis de mascarar o mal-estar que nos causa a presença do outro.

O menosprezo pode entender-se como qualquer afirmação formulada a partir de um plano de superioridade, e que visa posicionar o outro num plano de inferioridade. A maioria das vezes trata-se de um insulto. Receber o menosprezo de alguém que amamos é de tal forma stressante, que pode chegar a afectar o sistema imunitário. Conclusão: a partir do momento em que o menosprezo se torna mensurável, já não merece a pena conhecerem-se outros aspectos da relação." - Xavier Guix

terça-feira, 26 de setembro de 2017





"Todas as coisas boas levam tempo. Relações, carreiras, saúde, finanças, a nossa auto-estima: nada acontece do dia para a noite. Os passos pequenos funcionam melhor. Na sua causa de auto-aperfeiçoamento, ou outra qualquer, você estabelece um padrão de exigência sendo consistente nos seus esforços. Se estabelecer um ritmo simples e realista, ganhar balanço, acumular confiança, reunir uma experiência sadia, então, e só então, é possível que esteja preparado para a responsabilidade de liderar outras pessoas.

Numa palavra, a liderança é uma questão de integridade. A sua integridade. Porque você, e só você, sabe no seu íntimo o que viu, o que experienciou e o que é absoluto. Sem jogos, sem fachadas, sem «representar», apenas o seu verdadeiro eu. Só você conhece os anos que passou nos bastidores, aquele imenso tempo que o fez transpirar enquanto se aplicava e, ao mesmo tempo, mantinha uma atitude proactiva e lidava com tudo o que a vida lhe atirava constantemente para cima. Saber quem você realmente é deve ser suficiente.

E isso sem sentir que tem de fazer sapateado enquanto equilibra uma pirâmide de copos de água no nariz e canta a plenos pulmões, «The hills are a-l-i-v-e with the sound of m-u-s-i-c» para um público que nem sequer lança um olhar na sua direcção. Isso sem precisar de sentir que tem de suportar os insultos, os maus-tratos, ou as difamações.

Comece a aceitar-se por aquilo que é e pelas coisas que defende, incluindo o modo como vive a sua vida.

A sua integridade é uma questão de padrões de exigência pessoais, da forma como se comporta em todos os aspectos da sua vida. Por mais estranho ou idiota que isso possa parecer aos outros, a forma como gere e vive a sua vida, as suas acções e os seus critérios deve ser mais do que suficiente para sossegar esse S. Tomé cheio de dúvidas na sua cabeça. Se não estiver satisfeito, se não tiver confiança, uma confiança forte, naquilo que é e no que tenta alcançar, como é que espera que os outros o aceitem? Como é que espera dar o exemplo e marcar o ritmo se não acredita no seu bem mais importante? Você!

Valha o que valer, o meu conselho para si nesta fase da sua vida é: você conhece-se melhor do que qualquer outra pessoa. E, se não conhece, então veja se cresce, porque devia conhecer-se.

Retire, dispa, deite fora as suas desculpas, as suas fachadas, a sua postura defensiva, o violino a tocar e os rios de lágrimas a correr, e siga mas é em frente e comece a viver a sua vida. Chega de tretas, chega de álibis, chega de tempo perdido! 

E, sem querer faltar ao respeito a ninguém, embora os cônjuges, os amigos próximos e os familiares o possam conhecer intimamente, só você viveu a vida inteira na sua pele. Conhece os seus defeitos e os seus medos, o seu orgulho e todos os seus preconceitos. Talvez se tenha esquecido, talvez tenha recalcado algumas coisas daqueles anos importantes de infância, em que se estava a desenvolver, mas sabe que foram principalmente esses tempos, essas experiências, esses acontecimentos traumáticos, esses dias felizes, que fizeram de si o que é hoje.

O bom, o mau e o feio: é a sua vida." - Dave Pelzer

segunda-feira, 25 de setembro de 2017





"Não acontece mais nada. É só isto."

Gahan Wilson


"Numa caricatura do New Yorker, Gahan Wilson apresenta dois monges sentados lado a lado meditando, em silêncio e imóveis. Um deles é bastante velho e com grande experiência nos processos de meditação. O outro é jovem e apresenta uma expressão de perplexidade. É evidente que acabou de fazer uma pergunta ao seu mestre mais experiente. O monge idoso deu-lhe a seguinte resposta: "Não acontece mais nada. É só isto."

Gosto dessa banda desenhada porque, por diversas vezes, me tenho identificado com o monge mais jovem. "O que se segue agora? Não devia acontecer alguma coisa? Quando não se passa nada, não é uma perda de tempo?"

Também me agrada porque contém uma mensagem clara e importante sobre a forma como vivemos nestes tempos milenares. Tal como o jovem monge, precisamos da sabedoria daqueles que têm passado tempo em recolhimento, a escutar o seu coração, a conhecer questões que apenas o silêncio pode revelar, a absorver o silêncio que dá vida e procurando estar tão despertos quanto possível para o momento presente.

Precisamos da sabedoria dos antigos. Do conhecimento das bruxas, de feiticeiros, da sabedoria de padres e rabis, de espíritos iluminados que tenham passado algum tempo no cume da montanha.

A pergunta do monge mais jovem baseia-se num pressuposto firmemente enraizado nas nossas mentes ocidentais: o importante é aquilo que acontece. Muitas vezes até é verdade, mas "o que acontece" é também a parte que compreendemos melhor. A parte que não entendemos é a resposta do velho monge. "Não acontece mais nada." Não há qualquer acontecimento, mas existe algo. De facto, existe tudo.

A banda desenhada deixa implícito que, quando o velho monge desaparecer, o jovem assumirá o seu lugar, para que a sabedoria possa ter continuidade." - David Kundtz

domingo, 24 de setembro de 2017





"Eu sempre pensei que a escola convencional era um tremendo desperdício de tempo. E, se pensar bem no assunto, a maior parte das coisas que sei aprendi por iniciativa própria, fora do âmbito escolar. À parte das operações matemáticas básicas, da leitura e da escrita, não me lembro de nada do que me foi ensinado na escola. Não me lembro nem do nome de um maldito rio, de como fazer raízes quadradas, das diversas partes que compõem uma flor...

Onze anos consecutivos de escolarização! Seis ou sete horas diárias de estudo! Para chegar a este mísero resultado? Não será este um dos maiores fiascos da história da humanidade?

Estou convicto de que, aplicando devidamente a sua dedicação, a maior parte das crianças se poderiam tornar génios da música, da matemática ou da arte.

Meditemos sobre o assunto: se pudéssemos estudar agora, enquanto adultos, alguma matéria que verdadeiramente nos interessasse durante onze anos consecutivos, não atingiríamos um nível de conhecimento fenomenal? Imagine-se então com as crianças, que têm uma capacidade de aprendizagem incomparavelmente superior à nossa!

O problema das nossas escolas é a obrigatoriedade de estudar, que mata a curiosidade, a verdadeira fonte de aprendizagem. Pais e professores não confiam nas crianças, na sua vontade de fazer as coisas bem, de aprender, de construir coisas belas, e têm um medo irracional de que os meninos cresçam sem os conhecimentos necessários para competir no mundo adulto.

Afinal de contas, as escolas são lugares onde se ensina a temer a vida e os demais. Não é de estranhar que os jovens mais atrevidos se rebelem e se posicionem contra esta sociedade de medo. Os meninos que passam no crivo aprendem a mentir, a «competir» em vez de partilhar e a temer os demais e a vida. E tudo isto a troco de aprender as quatro regras da escrita e a matemática mais elementar! Que rico negócio!" - Rafael Santandreu

sábado, 23 de setembro de 2017





"A paciência é uma qualidade muito rara e mais estranha ainda quando alguma coisa nos interessa ou nos perturba. Perante a avidez e a aversão, é ainda mais difícil ser paciente. A paciência é saber esperar mas, mais ainda: é manter o ânimo estável perante as dificuldades e não acrescentar as tensões desnecessárias da urgência ou da compulsão." - Ramiro Calle

sexta-feira, 22 de setembro de 2017





"Quando nos sentimos incapacitados para resolver os nossos conflitos e problemas quotidianos, quando nos parece que não conseguiremos atingir os nossos objectivos, quando temos medo de não estar à altura das circunstâncias, a ideia que fazemos das nossas capacidades vacila.

Quando sentimos que não somos merecedores daquilo que recebemos dos demais, quando nos parece que nunca damos o suficiente, quando deixamos de ser o que somos para obter a aceitação dos demais, quando permitimos que sejam os outros a suprir as nossas necessidades, então tornamo-nos dependentes. Por outro lado, quando renunciamos a aceitarmo-nos tal como somos, então o que enfraquece é o amor e o respeito que temos por nós mesmos. 

É destes barros da nossa infância que surgem os lodos que arrastamos até tomarmos consciência de tudo isso e decidirmos que chegou o momento de conquistarmos, por nós próprios, essas bases primordiais para a nossa segurança. Esta é a boa notícia a posteriori, pois os aspectos que não conseguimos integrar nos primeiros tempos de vida podem tornar-se, em definitivo, um ponto de partida para a aprendizagem da autoestima.

Em adultos, podemos dispor de um nível de consciência inacessível a um bebé. Possivelmente, a maior vitória do ser humano nem sequer é a conquista de si próprio, ou seja, da sua liberdade. Nem todos fomos amados e desejados na infância, e nem todos crescemos protegidos. São muitos os seres humanos que têm de aprender através da autoconfiança e da valorização das relações com os outros, pois sozinhos não vamos a parte alguma.

A consciência dos nossos vínculos afectivos, bem como o testemunhar de outros vínculos e da sua expressão sincera são, sem dúvida, as experiências mais profundas que podemos ter nesta vida, tanto em termos humanos como na esfera espiritual. Perante a força do vínculo, apenas nos resta a humilde retirada do ego.

Curiosamente, quanto mais vulneráveis nos mostramos perante os demais, mais abrimos o coração, mais fortalecemos a confiança em nós mesmos, e mais enfraquecemos os frios olhares alheios.

Sentirmo-nos seguros não equivale a acumularmos níveis elevados de inteligência e autocontrolo, mas em fortalecermo-nos interiormente, em confiarmos no que verdadeiramente somos e em permitirmo-nos sê-lo perante os outros. Esse «sermos nós próprios» não deve ser um catálogo de virtudes, mas uma aceitação tanto dos nossos talentos e capacidades como dos pontos fracos e imperfeições que nos são inerentes. Sermos nós próprios é amarmos o que somos. Era justamente isso que se esperava que nos acontecesse desde o início da vida." - Xavier Guix

quinta-feira, 21 de setembro de 2017





"Se pensar seriamente no assunto - e falo de uma reflexão profunda, uma exploração da alma - talvez parte da sua dificuldade em acreditar em si mesmo - bem, por mais simples que pareça, talvez se deva ao facto de o ter simplesmente esquecido. Não se ria, não encolha os ombros nem rebole os olhos de desânimo. Talvez tenha perdido, muito lentamente, pouco a pouco, ao longo de um período de tempo, esse impulso, essa crença, que em tempos foi uma arma poderosa no seu arsenal. Talvez, como milhões de outras pessoas, se tenha deixado aprisionar pelo jogo da vida. Talvez tenha dividido a sua atenção por diferentes aspectos: os miúdos, o trabalho doméstico, as contas, a partilha do carro, o emprego, a ginástica, a dieta que nunca acaba, a pessoa mais importante para nós, ainda mais contas, as preocupações, o stress, as batalhas intermináveis - tudo!

Ufa!

Se dermos um passo atrás, às vezes a própria vida parece - bem, maior que a vida!

Ora, existem muitos especialistas em muitas áreas, principalmente no domínio da psicologia, que são inflexíveis quanto ao dizer Quem não a usa, perde-a, em particular a respeito de pessoas que podem ter perdido a sua auto-estima algures por essa estrada acidentada da vida.

Quem não a usa, perde-a. Vamos pensar nisto. Apesar de algumas pessoas poderem corar de vergonha como um aluno da escola secundária pensando que se trata de uma insinuação de balneário, este lema é, na verdade, bastante sério.

A menos que se empenhe com uma frequência constante, as coisas têm tendência a desvanecer-se com o tempo, especialmente a sua auto-estima.

Sendo assim, o que fazemos para encontrar a sua auto-estima perdida? Em primeiro lugar, descontraia-se. Isso ajuda o cérebro a pensar melhor, de uma forma mais clara. Em seguida, tente recordar aquela altura da sua vida em que as coisas talvez não estivessem a correr bem. Quando, na verdade, a vida era um pouco mais do que apenas dura, era cruel, injusta ou muito simplesmente difícil. Reflicta bem e pergunte a si mesmo, «Qual foi a sequência de pensamentos que me levou a acreditar que eu podia ultrapassar tudo aquilo?»

Houve alguma situação em que esteve em um pouco como um peixe fora de água, em que se sentiu ligeiramente intimidado por ter de aprender um novo programa de computador ou outra competência técnica, sair da sua zona de conforto para dar início a uma nova relação, ou voltar a trabalhar depois de algum tempo de pausa? Mais uma vez, isto pode ser ameaçador e demorar algum tempo. É possível que precise de alguma prática mas, se se descontrair, acabará por reencontrar essa capacidade.

E, em quase todos nós, há algo no nosso passado que podemos resgatar. Basicamente, é uma questão de o encontrar e voltar a aplicar. Nada mais e nada menos. Mais uma vez, não há nenhuma embalagem. Não há um comprimido mágico. Nada de estender as mãos para o céu enquanto dançamos ao ritmo da maré vazante envolvidos por várias camadas de algas já com algumas semanas de uso. Não, não, não, não! É senso comum. Vasculhe o seu passado e volte a aplicar essa capacidade." - Dave Pelzer

quarta-feira, 20 de setembro de 2017





"Na dor, enfrentamos um momento sagrado, repleto de medo, transbordante de sofrimento, saturado de dificuldades."

Molly Fumia


"Muitas vezes, o que nos impede de criar momentos serenos nas nossas vidas, o que nos afasta da alegria de não fazer nada, é a presença da dor. Trata-se de uma presença avassaladora e, compreensivelmente, a nossa primeira reacção é evitá-la. 

A dor refere-se sempre à perda, à angústia e ao sofrimento que sentimos quando perdemos alguém ou alguma coisa preciosa para nós. E acontece-nos com regularidade a todos. Trata-se da nossa característica mais familiar e comum. Ninguém está imune.

Acredito que um dos primeiros sinais de que estamos prontos a enfrentar a dor é a nossa disponibilidade de Parar, de estarmos quietos e a sós connosco.

A dor é sagrada porque consegue, talvez mais do que outra coisa qualquer, pôr-nos em contacto connosco próprios. 

Por isso, pense: Por que razão estou triste hoje? Deixe então que o sentimento de perda, de pesar, se instale durante alguns momentos.

Apesar de a dor envolver medo e sofrimento, muito embora à partida procuremos fugir dessas coisas, "a característica mais sagrada reside no som dos nossos passos de regresso". Depois de termos atravessado o pesar, regressamos à vida, a nós próprios, com uma nova compaixão, um novo entendimento e até mesmo uma nova alegria." - David Kundtz

terça-feira, 19 de setembro de 2017





"Efectivamente, tudo o que precisamos de saber sobre o sentido da vida é que somos parte integrante dela. Somos filhos da natureza. Sempre que estivermos em harmonia com ela, estaremos bem. Quando vamos dar um passeio pela montanha, estar atentos aos bosques e aos seus sons harmoniosos enche-nos de paz. A água que cai numa cascata ou uma extensa pradaria verde proporcionam-nos uma tremenda sensação de plenitude. E isto sucede porque o nosso cérebro está intimamente ligado a tudo o que nos rodeia. As coisas belas do mundo activam as nossas hormonas e fazem-nos sentir formidáveis.

Não sabemos de onde vimos nem para onde vamos, mas isso não importa: sabemos que procedemos de lugares benéficos e que a eles iremos parar. Além disso, é muito melhor desconhecer o sentido da vida porque isso significa que pertencemos a algo tão imenso, tão insondável, que escapa à nossa compreensão.

Os cientistas ainda não conseguiram fazer mais do que raspar a superfície do conhecimento do universo, sabem muito pouco, mas vão desde já adiantando que se trata de algo alucinantemente complexo e imenso. Eu prefiro fazer parte de tal entidade - ainda que não a compreenda - do que me confinar a algo pequeno e desinteressante.

Há algum tempo li que é provável que existam centenas de dimensões da realidade, dimensões que não somos capazes de captar. Segundo os físicos, isto tornaria possível a existência de universos paralelos, de realidades simultâneas... Uau, isto é algo inimaginável até para os mais sisudos investigadores! As suas fórmulas matemáticas demonstram-no, mas ninguém é capaz de conceber algo desta natureza. Eis a imensidão daquilo a que pertencemos! E isto, por inferência, faz de todos nós algo imenso também." - Rafael Santandreu

segunda-feira, 18 de setembro de 2017





"Quantas vezes, por uma falsa interpretação ou por ausência de discernimento, fomos injustos e até mesmo desapiedados com os outros! É preciso sermos bem mais cuidadosos, não tirar conclusões precipitadas e ser mais razoáveis no que pensamos, dizemos e fazemos." - Ramiro Calle

domingo, 17 de setembro de 2017





"O mundo que hoje conhecemos está a mudar velozmente, pelo que são vários os cenários possíveis. É altamente provável que, ao longo da vida, tenhamos mais do que um par amoroso, ou que equacionemos, até, uma relação com alguém do mesmo sexo, ou com alguém de idade diferente da nossa. Numa sociedade mais livre em que cada ser humano possa optar sem quaisquer constrangimentos, medos ou culpas e viver como realmente quer, o género e o tempo passarão a ter outros significados, pelo que o critério a prevalecer será, sobretudo, o do amor autêntico, e cada vez menos o do amor condicionado.

Tudo isto poderá acontecer independentemente dos filhos que venham a nascer ou do modelo familiar escolhido. Este será o grande tema dos próximos anos, tendo em conta as previsíveis mudanças tecnológicas relacionadas com a maternidade e o encaixe da vida profissional, social e familiar com a realização pessoal, que desencadearão tomadas de decisão em torno da forma como queremos viver. Apesar de parecer uma utopia, isso já está a acontecer. Platão ficaria contente pelo facto de estarmos a sair da caverna. 

Estamos, com efeito, a mudar a forma como nos relacionamos e as expectativas em torno do par amoroso. Os papéis clássicos do homem e da mulher estão a mudar, dando lugar a uma preponderância da integração das dimensões masculina e feminina. Cada vez se amará mais a pessoa em si, e o género passará a ser um aspecto relativo. Os arquétipos do homem machista e da mulher submissa tendem a extinguir-se.

A título de exemplo humorístico, segue-se um fragmento de um texto de Héctor Faciolince intitulado «La mujer Brava», que fez furor na Internet:

Aos machistas de todas as idades a quem aparecem, agora, de chofre, estas novas mulheres, mulheres de verdade que não se submetem e que protestam, e por isso continuamos a sonhar a bom sonhar com jovens perfeitas, de carácter dócil, que não nos tragam problemas. Porque estas novas mulheres exigem, pedem, dão, tomam a iniciativa, repreendem, contradizem, falam e só se despem se lhes apetecer. Estas novas mulheres não acatam ordens, não podemos deixá-las penduradas ou encafuadas em silêncio. Não aceitam papéis subordinados e postos subalternos. As mulheres novas estudam mais, sabem mais, têm mais disciplina, mais iniciativa, e por isso mesmo torna-se mais difícil encontrarem um homem, pois não há machista que não as tema.

Contudo, se os homens conseguissem dominar o burro machista que os habita, essas novas mulheres seriam as melhores das companheiras. Se chegássemos a conhecê-las, se lográssemos permitir que nos corrigissem, que refutassem as nossas ideias, que nos assinalassem os erros que teimamos não ver, que nos subtraíssem impiedosamente a vaidade, dar-nos-íamos conta de que essa nova paridade até seria agradável, pois tornaria possível uma relação entre seres humanos iguais, em que ninguém mandaria e ninguém seria mandado." - Xavier Guix

sábado, 16 de setembro de 2017





"(...) Demorou algum tempo, mas foi-me muito útil aprender a dar um passo atrás, em termos psicológicos. Observava em silêncio coisas como movimentos corporais - desde a forma como alguém passava a mão pelo cabelo, até ao modo como outra pessoa andava ou se pavoneava, passando pela maneira de alguém expirar. Procurei o verdadeiro significado do movimento pretendido. Decifrei pequenos pormenores, muito ligeiramente reveladores. Escutava não só o que era dito ou a forma como isso era dito, mas também a paixão, a determinação crua, por detrás da expressão.

Permaneci nas sombras, fora do alcance do radar, mas absorvi tudo. Algum tempo depois, podia passar por alguém com a minha cabeça inclinada numa postura aparentemente submissa e saber, sentir, quem a tinha e quem a não tinha. Quem só tinha bazófia e acabaria por ceder, e quem tinha coragem, a verdadeira persistência pura, para fazer uma tentativa e dar tudo por tudo.

Na adolescência, tinha plena consciência de que, exteriormente, eu parecia um trapalhão desajeitado. Porém, lá por dentro, a minha crença fazia-me estremecer com a força e o mérito que sabia possuir. E essa era a minha arma." - Dave Pelzer

Continua a ser a minha arma...

sexta-feira, 15 de setembro de 2017





"A única coisa que nos impede de flutuar ao sabor do vento é o conjunto das nossa histórias. São elas que nos dão um nome, que nos colocam num determinado lugar, e nos permitem manter o contacto."

Tom Spanbauer


"As nossas histórias evitam que flutuemos ao sabor do vento: é impensável não possuir um passado, a história de tudo o que se passou consigo, não recordar o que já viveu ou as pessoas que fizeram parte da sua vida. Como pode enfrentar o amanhã, até mesmo o momento seguinte, sem as suas histórias? Nem sequer saberia como ser ou estar. Levantaria voo simplesmente, mais leve do que o ar, e seria levado por qualquer vento que soprasse, uma mancha cada vez menor no horizonte, tal como um balão perdido por uma criança, condenado a desaparecer. Nada o reteria aqui.

As suas histórias dão-lhe um nome: Como lhe chamam os outros? Como se referem a si? Se eu conhecer as suas histórias, conhecê-lo-ei na totalidade, porque elas são apenas suas e o seu nome é o único que consta nelas.

Se as contar correctamente, elas far-me-ão recordar a minha própria história.

As suas histórias colocam-no num determinado lugar: você está aqui agora. Tem estado aqui toda a vida ou apenas há uns dias. Já passou por muitos lugares ou por poucos. Poderá também, em breve, partir para outro lugar. Mas agora, encontra-se apenas aqui. Quando me conta a sua história, diz-me onde aconteceu e a razão por que se encontrava aí. E esse lugar transformou-se pelo facto de você lá ter estado. Ao escutar os nomes de alguns lugares sentirá vontade de chorar. 

As histórias permitem manter um contacto: você toca sempre em qualquer coisa. Por vezes toca noutra pessoa. Em quem é que toca? Por que razão toca nesta zona específica da Terra, neste ser humano? Que histórias o trazem, de corpo e alma, para este momento? Conseguiria suportar a sua perda? 

Passe algum tempo em silêncio, recordando as histórias da sua vida. Anote-as. Escreva-as. Faça uma lista. Adicione outras." - David Kundtz

quinta-feira, 14 de setembro de 2017





"Muitas neuroses fazem parte da família do «temor da debilidade». Quando estamos neuróticos, tendemos a temer «estar mal», «ser menos», «estar doente», «padecer de ansiedade», «estar deprimido», «sentir dores crónicas» e, o próprio temor dá origem a esses sintomas: amplifica-os até extremos inusitados.

Pensamos erroneamente que a doença nos vai dar cabo da vida, lutamos contra ela desde o primeiro momento e é precisamente aí que nasce o equívoco. Essa luta conduz a um aumento exponencial da ansiedade, da dor ou do que quer que esteja no centro das nossas preocupações.

Porém, as pessoas que não temem a debilidade não exacerbam o mal-estar e este vai e vem como uma brisa que passa. 

Afinal de contas, na nossa sociedade, a debilidade é extremamente temida.

Uns temem a debilidade e outros injectam-na na sua vida por forma a alcançar a sabedoria e a felicidade: estranho, não é? A justificação para este aparente paradoxo está no facto da debilidade poder ser um tremendo mestre; não há que a temer, bem pelo contrário.

Afinal de contas, nenhuma debilidade - enfermidade corporal ou psicológica - nos deve impedir de sermos felizes. Encontramos demonstrações disto em toda a parte. Se o compreendermos a fundo, deixaremos de nos lamentar e começaremos a aproveitar a nossa vida.

É por isso que a debilidade poder ser um grande mestre, porque nos pode levar a descobrir uma vida muito mais intensa e harmoniosa. Para isso, contudo, precisamos de a aceitar com alegria, de nos recatar com humildade e de dar o melhor dentro das nossas possibilidades.

Quando estamos fortes, tendemos a procurar gratificação em metas externas. Quando estamos débeis - e fazemos da debilidade o nosso mestre -, tendemos a concentrar-nos no amor e no prazer das pequenas coisas." - Rafael Santandreu

quarta-feira, 13 de setembro de 2017






"Metemos tantas coisas na mala quando vamos empreender uma viagem que, no final, apercebemo-nos de que não nos cabem as verdadeiramente essenciais. Então, não resta outro remédio senão fazer uma limpeza e deixar de fora tudo o que é acessório. A mente tem muitas coisas que devemos atirar borda fora, para recuperar o brilho e a prístina pureza. Não é fácil desfazermo-nos de muitas coisas às quais nos aferramos e que, porém, só servem para distorcer a mente e demarcar a sua capacidade." - Ramiro Calle

terça-feira, 12 de setembro de 2017





"O tema da intimidade é de suprema importância na configuração dos estilos afectivos. A intimidade toca os nossos acontecimentos interiores, as nossas vivências, o exercício da nossa vontade, as nossas intenções e o movimento das nossas necessidades e anseios, por muito ocultos que possam ser. Por outro lado, prende-se com a capacidade de exprimirmos os afectos, de tocarmos e sermos tocados, de abraçarmos, de chorarmos com alguém, de verbalizarmos os sentimentos que se desencadeiam em nós a cada instante.

Erik Erikson, psicólogo americano de origem alemã, ficou conhecido como o pai da teoria do desenvolvimento da personalidade, também designada como teoria psicossocial. Esta teoria descreve oito etapas do ciclo vital a que chamou «pequenos estágios de conflito», provavelmente vividos por muitos de nós ao longo da existência. Um destes pequenos estágios - o quinto - diz respeito à intimidade. Entre os vinte e os quarenta anos cumpre-nos resolver a polaridade entre intimidade e distanciamento, isto é, torna-se desejável que aprendamos a perder-nos e encontrar-nos no outro, e a escolher entre amar e fecharmo-nos num egocentrismo puro.

O interessante da proposta de Erikson é o facto de pôr em evidência a necessidade de estruturar uma identidade, um eu seguro. A capacidade de estabelecer intimidade depende, em grande parte, do desenvolvimento de um eu diferenciado, íntegro e sólido, resultante da superação do estágio complexo e questionador que é a adolescência.

Agora que está em voga recuperar o mito de Peter Pan, ou seja, o eterno rapaz que se recusa a crescer e que serve de modelo para referenciar os seres humanos que temem o compromisso, podemos socorrer-nos dele para nos ajudar a compreender a razão pela qual tanta gente foge do vínculo profundo com o outro. Na verdade, a abertura à intimidade requer uma «identidade realizada».

No processo de consolidação da nossa identidade, nas sociedades ocidentais, há um paradigma que toca, sobretudo, os homens - a ideia de que a realização é obtida através do prestígio profissional. «Ser alguém na vida» passa, para muita gente, pela capacidade de obter rendimentos elevados, ou de atingir posições socialmente prestigiantes. Assim, a realização pessoal e o autoconhecimento não são contemplados na concepção vigente de consolidação da identidade.

Não é, pois, de estranhar que as identidades seguras, ou seja, as intrinsecamente fortalecidas, brilhem pela sua ausência ou sejam raras. Como se lamentam muitas mulheres, o mercado está péssimo.

A experiência da intimidade requer autonomia e independência, mas também o reconhecimento da necessidade de partilhar um espaço interior comum com outra pessoa. Quando falamos de intimidade, falamos da presença de outra pessoa. Sem alguém que nos escute e nos acolhe, não existe intimidade.

Aderimos, com frequência, à falsa ideia de que apenas podemos ser inteiramente genuínos quando estamos sós, e que é nessa condição que reside a verdadeira intimidade. «Se apenas a sós conseguíssemos ser o que verdadeiramente somos, a relação com os outros seria pautada por um grau mais ou menos apreciável de falsidade... e a intimidade consistiria, então, no que está proibido de revelar aos demais.»

Pelo contrário, a intimidade mais profunda é aquela que é partilhada. É justamente isso que a torna autêntica, e não o facto de revelar o que é verdadeiro em cada um dos intervenientes. Na realidade, só podemos ser alguma coisa, ou alguém, quando nos inclinamos para alguma coisa, ou para alguém. Arendt diria que nenhuma condição da existência humana - nem mesmo a dos eremitas da brava natureza - é viável sem um mundo que, directa ou indirectamente, testemunhe a presença de outros seres humanos. 

Deve haver uma descoberta da profundidade e uma resposta sensível por parte do receptor dessa procura, e é esse o motivo por que a igualdade, a reciprocidade e o compromisso são essenciais na vida íntima. É uma vivência que não se pode ter com qualquer pessoa, daí a força da relação - uma das suas características essenciais - e a razão pela qual se concerte no sustentáculo da nossa realidade mais profunda.

No entanto, a intimidade assusta muitas pessoas: incomoda-as, pois sentem que se tornam vulneráveis pelo facto de partilharem as suas intimidades. É então que surge o medo, aliás, os medos que Elaine Hartfield, grande especialista em comunicação e relações interpessoais, descreveu de forma muito precisa:

1. Medo de revelar fragilidades e vergonhas a outra pessoa, devido, ao elevado grau de exposição que isso implica;

2. Medo do abandono, por se ser considerado indesejável;

3. Medo de perder o controlo;

4. Medo dos próprios impulsos destrutivos - a sensação de que podemos fazer muito mal ao outro;

5. Medo de que o outro nos «devore», no sentido em que nos roube a individualidade.

Luciano L'Abate, professor jubilado de Psicologia na Universidade da Geórgia, apresenta uma sequência evolutiva que visa aprofundar a intimidade:

1. Comunicação de valores pessoais;

2. Respeito pelos sentimentos pessoais;

3. Aceitação de limitações pessoais;

4. Afirmação;

5. Partilha da dor e do medo de senti-la;

6. Disposição para perdoar os erros.

Perante estes dados, torna-se mais fácil compreender por que razão é fundamental ter-se uma identidade bem estruturada. Se uma pessoa não tem confiança em si própria ou nos demais, e se não existe capacidade de autonomia, qualquer encontro íntimo pode converter-se numa experiência de dolorosa vulnerabilidade. 

Quando nos expomos sinceramente, vivemos uma experiência de superação pessoal, ou seja, corre-se o risco de falhar uma prova, o que é uma e a mesma coisa. Por outras palavras, corre-se o risco de suspensão, rejeição ou abandono, daí que tantas pessoas prefiram preservar a sua bolha individual, ou mesmo alimentá-la como um mistério, em vez de arriscarem explodir perante o outro, levando-o a descobrir que não existe nada, afinal, no interior. Ou melhor, talvez existam, sim, sentimentos embaraçosos, traduzíveis numa sensação íntima e profunda de medo e desamparo.

É na intimidade que está a chave para se compreender de que forma se consolida a confiança, como se exercita e fortalece o vínculo. Nas relações de casal, acresce ainda a intimidade sexual, o gozo de participar, com o outro, no encontro profundo entre corpo e alma. Criar essa atmosfera é como entrar no universo da jardinagem do amor." - Xavier Guix

segunda-feira, 11 de setembro de 2017





"Eu sei, é tentador seguir a multidão. Ser absorvido por ela. Querer saltar lá para dentro depois de assistir, nas horas tardias da noite, a todos aqueles testemunhos sentidos, inspiradores e extremamente emocionais, ou ficar de olhos abertos e esbugalhados perante o último tablóide que, ao pé da caixa do supermercado, afirma que este produto é «novo e melhorado». O que quer isso dizer, ao certo? Como é que uma coisa pode ser nova e, no entanto, já ser melhorada? Não tinha de já existir antes para ser «melhorada»? Isso não a tornaria, bem, não «nova»? O que me obriga a pôr a hipótese de - essa agora! - o produto, afinal, não ser assim tão comprovado. Pelo menos por enquanto. Mais uma vez, um pouco de senso comum leva-nos longe. Acha mesmo que a dieta do «engula toda a pasta, gelado e molho de chocolate que quiser dez vezes por dia sem fazer exercício» vai deixá-lo magro e em boa forma? Por favor! E no início desses programas está a pensar consigo próprio, Nem pensar! Isto é absurdo. É de loucos. É demasiado bom para ser... Mas, à medida que vai vendo mais, que vai lendo mais, talvez comece a pensar algo como, Ei, se estas pessoas estão tão felizes, se estão tão entusiasmadas com isto, se eu o consigo ver com os meus próprios olhos - eh pá, talvez seja mesmo a sério! Tem de ser genuíno. Tem de funcionar para mim!

Mas a fria realidade é que a maior parte das pessoas naquelas reportagens publicitárias são actores. Aquelas fotografias que revelam imagens de «antes e depois» são geralmente manipuladas. Se esta «coisa revolucionária» fosse uma descoberta assim tão inovadora, não estaria nas primeiras páginas de todos os jornais ou na abertura dos noticiários dos canais de televisão de distribuição nacional? E apesar de algumas - e repito, algumas - dessas alegações poderem ser verdadeiras, o produto superpoderoso pode funcionar apenas para um pequeno número de pessoas que receberam uma ajuda especial, se é que me está a entender. Nesta fase da sua vida, acha que é seguro deitar tantas cautelas pela janela fora? Não prefere defender a sua própria posição, sabendo perfeitamente o que é, de facto, capaz de alcançar?

Novo e melhorado - que treta!

Enquanto adulto, solte-se um pouco e reaprenda a confiar em si próprio - pouco a pouco, dia após dia, tijolo a tijolo. Sem os exageros das trafulhices «novas e melhoradas». Sem aperfeiçoamentos artificiais, só com a vida real. A sua vida. Conte consigo próprio. Pavimente essa estrada. Construa a ponte sobre essas águas revoltas. Neste momento, o melhor que pode fazer por si é continuar a fazer o que funciona no seu caso! Por mais exigente que isso possa ser, pelo menos funciona. Pelo menos tem o conhecimento, a confiança dentro de si próprio, para escolher, para viver os seus próprios resultados.

E, numa palavra, é isso a auto-estima." - Dave Pelzer

domingo, 10 de setembro de 2017





"A vida é a companheira da morte;

a morte é o início da vida,

quem consegue compreender

como se relacionam as duas?

Mas se vida e morte são companheiras,

por que haverias de te preocupar?

Todas as coisas estão ligadas na raiz.

Chegamos aqui provindo do desconhecido

e regressamos ao lugar de onde viemos.

O que as pessoas amam acerca da vida

é a sua beleza miraculosa;

o que elas odeiam acerca da morte

é a perda e decadência que a envolvem.

E no entanto perder não é perder, e a decadência

torna-se beleza, tal como a beleza

se torna novamente decadência.

Somos inspirados, expirados.

E portanto tudo o que precisas

é compreender a respiração

de que é composto o mundo.

O Mestre está sempre consciente

do mistério no coração de todas as coisas." - Stephen Mitchell

sábado, 9 de setembro de 2017





"as minhas horas não têm sido as tuas horas.

as minhas pernas têm andado longe das tuas. 

o meu pé, à noite, demora a encontrar-se com o teu.

as minhas mãos trabalham em coisas tão díspares das tuas.

a minha cabeça trabalha a tantos quilómetros de distância da tua.

mas há uma coisa, sabes, que está sempre.

sempre perto. 

como a folha de um caderno. como um dos fios da mesma embalagem de esparguete.

como "aquela" nota única de uma sonata. como o atacador de uma sapatilha.

e essa coisa - o amor - tem a mesma boca e a mesma língua.

tem a mesma cadência e a mesma orientação.

posso estar longe, ocupado, absorvido, mergulhado.

posso andar desvairado de coisas para fazer

posso passar-me de nervosos miúdos

posso comportar-me às vezes como uma miúdo.

mas o meu amor e a minha boca - ai esses dois -

vão andar sempre no teu encalço.

esses sim, serão a tua sombra e a minha luz.

sempre." - Laura Avelar Ferreira

sexta-feira, 8 de setembro de 2017





..."Mas eu não sei quem sou. 
Ignoro o que significa ser eu mesmo."

"Quando nos conseguimos sentir à vontade em não saber quem somos, então o que sobra é quem somos - o Ser por trás do humano, um campo de pura potencialidade em vez de alguma coisa que já está definida.

Portanto, desista de se definir - para si mesmo e para os outros. 

Você não morrerá. Você nascerá. 

E não se preocupe com a definição que os outros lhe dão. 

Quando uma pessoa o define, ela está-se a limitar, então o problema é dela.

Sempre que estiver a interagir com alguém, não se porte como se você fosse basicamente uma função ou um papel, mas um campo de presença consciente.

Porque é que o ego interpreta papéis?

Por causa de um pressuposto não questionado, um erro fundamental, um pensamento inconsciente, que é: "Não sou o bastante". 

E a esse pensamento seguem-se outros, como: "Tenho que interpretar um papel para conseguir o que é necessário para me completar", "Preciso de obter mais para ser mais".

No entanto, não podemos ser mais do que somos porque, por baixo da superfície da nossa forma física e psicológica, somos um só com a Vida em si mesma, com o Ser.

Na forma, somos e seremos sempre inferiores a algumas pessoas e superiores a outras. 

Na essência, não somos superiores nem inferiores a ninguém. 

A verdadeira auto-estima e a autêntica humildade surgem dessa compreensão.

Aos olhos do ego, a auto-estima e a humildade são contraditórias. 

Na verdade, elas são uma só coisa e a mesma." - Eckhart Tolle

quinta-feira, 7 de setembro de 2017





"Sou a ave que esvoaça junto da tua janela pela manhã, o teu melhor amigo, aquele que nunca poderás conhecer..."

Rolf Jacobsen


"Vivemos numa cultura fascinada pelos anjos; a sua imagem surge por toda a parte. Acredito que, na maioria dos casos, vemo-los como são na realidade: manifestações da presença divina. Distinguem-se e fazem parte integrante de diversas religiões. E parecem ser muito populares na televisão, nos tempos que correm. 

Por natureza esquivos e predispostos a metamorfoses, os anjos só nos proporcionam um encontro se estivermos parados.

Sou o pensamento que te ocorre vindo do nada, a ideia que surge súbita e espontaneamente. Envolvo-te numa sensação de felicidade, e então dizes: "Mas de onde é que isto veio?" Sou o desconhecido que te ajuda ao longo do caminho, o amigo que aparece sempre que precisas. Sou um mensageiro de outros mundos. Sou a tua sombra. Sou o teu melhor amigo, "aquele que nunca poderás conhecer". Olho para ti com saudade. 

Nunca te posso esquecer. Sei tudo o que está destinado.

Sou o milagre que te salva do desastre, a mão que te impede de dar o salto fatal.

E, quando precisares, deixar-te-ei partir sozinho." - David Kundtz

quarta-feira, 6 de setembro de 2017





"A simplificação é uma forma de prazer. É por isso que os mosteiros zen são autênticas odes à simplicidade. Jardins austeros, salas silenciosas, uma beleza simples. A simplificação obriga a que nos concentremos em discretos pormenores, a refinar a atenção. 

Quando restringimos os nossos objectivos, quando os simplificamos com humildade, muitos neurónios novos são activados, os neurónios encarregados de captar os prazeres mais subtis.

Ao fazer um retiro num mosteiro, confino a minha vida em determinado sentido, mas expando-a noutro, e esse novo sentido pode revelar-se mais belo. Mais simples, talvez, mas mais belo e profundo.

Sempre que sofremos de alguma dor, de um incómodo de qualquer natureza, temos a possibilidade de aceitar o mal-estar, de simplificar a nossa vida e de nos dedicarmos a algo simples mas belo. Se o fizermos seremos realmente virtuosos." - Rafael Santandreu

terça-feira, 5 de setembro de 2017





"Numa sociedade que valoriza o ser humano pelo que tem e não pelo que é, e que se orienta para o poder e não para o ser, as pessoas ricas tornaram-se extremamente perigosas. Numa sociedade tão cruel como esta que construímos abre-se um caminho de esperança, onde algumas dessas pessoas abastadas canalizam sabiamente a sua «energia» para colaborar e beneficiar, e não para exercer poder, gabar-se, envaidecer e transformar-se em, como diria Sri Aurobindo: duendes perversos incarnados numa forma humana." - Ramiro Calle

segunda-feira, 4 de setembro de 2017





"Todo o abraço contém um apaziguamento, uma busca de nós mesmos em que nos abrimos, mas, ao mesmo tempo, nos contemos, nos recolhemos e reconhecemos os nossos limites. Pedir um abraço é mais do que um simples pedido: é, também, um acto de entrega.

O amor autêntico não é lamechas, ou seja, não é apenas um sentimento bonito e romântico, e exige entrega, desapego e dádiva. Por tudo isto, o amor é mais do que um mero sentimento passageiro. O amor é, antes de mais, um estado do ser. Assim sendo, as nossas condutas amorosas podem ser geradas pelo sentimento espontâneo, o que significa que serão altamente condicionadas e aleatórias, ou então podem emanar da decisão de amar, da atitude escolhida de querer ser e agir a partir do amor.

Tudo aponta para a conclusão de que o afecto nos conduz aos extremos das experiências mais radicais da vida, tanto em termos de felicidade como de fragilidade, sendo que ambas carecem de expressão e recepção afectiva. A sua ausência determina um sentimento de privação, como se a experiência não se completasse. Talvez seja por isso que o afecto subjaz a praticamente tudo o que fazemos. Procuramos continuamente transacções afectivas que nos façam sentir vivos, queridos e reconhecidos. O ser humano busca o amor porque o amor é a sua fonte primordial. A sua sede é apaziguada apenas quando bebe, uma e outra vez, do manancial de vida que é o afecto." - Xavier Guix

domingo, 3 de setembro de 2017





"A sua auto-estima é tudo!

Eu sei que sabe disso. Mas a forma como se sente em relação a si próprio afecta literalmente todos - e quero mesmo dizer todos - os aspectos da sua vida. Desde aquilo que diz a si próprio assim que rebola para fora da cama antes de se olhar ao espelho, até à roupa que leva para o trabalho, passando pelo modo como lida com os melhores e piores momentos ao longo do dia, como se comporta perante os seus colegas, amigos, família e as pessoas que lhe são mais íntimas, a consideração que tem por si próprio acompanha cada fôlego e cada passo que dá. 

A sua auto-estima, que para algumas pessoas pode mudar a cada pulsação, manifesta-se na sua postura: queixo erguido e optimista, olhos sorridentes, ou evitando todo e qualquer contacto enquanto arrasta os seus pés pesados como se levasse todo o peso do mundo sobre os ombros caídos e sobrecarregados.

Aquilo que sente em relação a si próprio transmite-se não só através de cada palavra que deixa a sua boca mas também, e de uma forma muito essencial, com o tom e inflexão da sua voz, por mais insignificantes que possam parecer na altura aquelas observações derrotistas ou depreciativas. Não só o que diz em voz alta é ouvido e julgado pelos outros, como também os comentários frios e ofensivos que nadam nessa sua cabeça podem, eventualmente, corroer o seu coração.

A sua auto-estima reflecte quaisquer preconceitos que tenha contra os outros, e também contra si próprio. Determina o modo e a razão pela qual se limita no que toca a tentar alcançar o que deseja, ou até apenas a sonhar com isso - das tarefas comuns da vida quotidiana à concretização de algo extraordinário. A sua auto-estima é a sua ferramenta, a sua arma, e determina a forma como confronta os desafios da sua vida, ou a forma como foge deles.

As pessoas com pouca ou nenhuma auto-estima não têm paixão. E quem não tem paixão leva uma vida vazia. Porque, na vida, a paixão é tudo." - Dave Pelzer

sábado, 2 de setembro de 2017





"Tire o máximo partido de cada sentido; enalteça qualquer prazer e cada beleza que o mundo lhe revelar..."

Helen Keller


"Enalteça qualquer prazer" do mundo. Esta é uma mensagem que não temos ocasião de ouvir com muita frequência, ou, para ser mais rigoroso, que não se ouve muitas vezes num contexto verdadeiro, íntegro e isento de sentimentos de culpa. Helen Keller, escritora e conferencista americana, surda-muda de nascença, apresenta-a neste contexto. "Tire o máximo partido de cada sentido." Cada dia pode transformar-se numa festa:

Observe as formas e cores. As árvores. O céu em qualquer ocasião do dia ou da noite. A forma de um edifício. A cor dos olhos de uma criança. O quadro pendurado na parede. O seu reflexo no espelho. Os seus olhos, tal como os músculos de um atleta, vão-se desenvolvendo com o treino. 

Escute os sons que o rodeiam. Um comboio rápido. O chilrear dos pássaros. O tap-tap-tap do teclado do seu computador. Música. As palavras dos seus entes queridos: "Mãe, cheguei!" ou "Olá, querido, como foi o teu dia?" ou "Tive tantas saudades tuas!". Para dar maior realce ao que escuta, feche os olhos durante alguns instantes.

Sinta as texturas do mundo. O toque do tecido da sua roupa. O corrimão onde apoia a mão para subir as escadas de um edifício. A energia erótica do toque do seu amante. A pele é o órgão mais extenso do corpo. Procure observar o que sente em toda a sua superfície em distintos momentos. 

Experimente os sabores do mundo. Quando mastiga um bolinho. O sabor de um selo do correio. Quando bebe um gole de sumo de laranja fresco, logo pela manhã. Saborear também tem a vantagem de fazer com que você não coma tão depressa.

Sinta o aroma da vida. Ao passar junto a girassóis ou jasmins. O seu perfume ou after-shave. O de outras pessoas. Ao entrar numa casa antiga. Uma fragrância que lhe recorda algo que se passou há muito tempo e num lugar distante. Especialmente quando recordar alguma coisa, preste atenção ao cheiro." - David Kundtz

sexta-feira, 1 de setembro de 2017





"Costumamos cair facilmente no erro de pensar que a comodidade é tudo na nossa vida. Relaxar, descansar, satisfazer necessidades, satisfazer ainda mais necessidades, massagens, spas, evitar o cansaço, o calor, o frio...! Mas isso conduz-nos à desilusão quando nos apercebemos de que, apesar de tanta comodidade, não nos sentimos plenos.

Um pouco de incómodo, até mesmo um pouco de dor - desde que aceite com alegria -, pode ajudar a que nos concentremos nos valores importantes da vida.

A dor afugenta a preguiça que todos sentimos e obriga-nos a trabalhar em prol de objectivos grandiosos e belos que, posteriormente, acabam por nos trazer mais satisfação do que a que sentíamos antes.

As pessoas que, por uma questão de saúde, têm de suportar a dor todos os dias e reagem bem, aprofundam a sua busca da felicidade em valores como a amizade, o amor, a paixão por um trabalho importante, a paixão pela vida. Digamos que aquilo que perdem por um lado, ganham por outro e, por vezes, o balanço revela-se extremamente positivo." - Rafael Santandreu