segunda-feira, 28 de dezembro de 2015



"(...) Para o casal, a história é outra. Que há os fiéis, e outros que o não são, é uma verdade de facto, mas que não parece, ou já não parece, atingir o essencial. Pelo menos se entendermos por fidelidade, neste sentido restrito, o uso exclusivo, mutuamente exclusivo, do corpo do outro. Porque haveríamos de amar, de desejar uma só pessoa? Ser fiel às suas ideias não é (felizmente!) ter uma só, nem ser fiel em amizade supõe que tenhamos um único amigo. Fidelidade, neste campo, não é exclusividade. Porque não haveria de ser assim no amor? Em que nome se pretende o gozo exclusivo de outrem? É possível, acredito mesmo que seja mais cómodo, mais seguro, mais fácil e, afinal, talvez mais feliz, enquanto dura o amor. Mas nem a moral nem o amor me parecem ter muito que ver com isto. Cabe a cada qual escolher, segundo a sua força ou as suas fraquezas. A cada qual, ou melhor, a cada casal: a verdade é um valor mais alto do que a exclusividade e o amor parece-me ser menos traído pelo amor (o outro amor) do que pela mentira. Outros pensarão o contrário, e eu mesmo talvez, noutra altura. O essencial não me parece residir nisto. Há casais livres que são fiéis à sua maneira (fiéis ao seu amor, à sua palavra, à sua liberdade comum...). E muitos outros, estritamente fiéis, tristemente fiéis, em que cada um dos dois teria preferido não o ser... O problema aqui é menos a fidelidade do que o ciúme, é menos o amor do que o sofrimento. Mas isso não me interessa. Fidelidade não é compaixão. Trata-se de duas virtudes? Justamente, mas são duas. Não fazer sofrer é uma coisa; não trair é outra, e a isso se chama fidelidade. 
O essencial é saber o que faz de um casal um casal. O simples encontro sexual, ainda que repetido, não pode evidentemente bastar. Nem tão-pouco a simples coabitação, mesmo duradoura. O casal, no sentido em que o considero, supõe o amor e a duração. E, portanto, supõe a fidelidade, porque o amor só dura se prolongar a paixão (demasiado breve para criar e que só serve para o desfazer!) através da memória e da vontade. É, sem dúvida, o que significa o casamento, e que o divórcio vem interromper. E mesmo assim... Uma amiga minha, que se divorciou e voltou a casar, dizia-me que se mantinha de certa forma fiel ao primeiro marido. «Quer dizer», explicava-me ela, «ao que vivemos juntos, à nossa história, ao nosso amor, eu não quero renegar tudo isto...». Nenhum casal, por maioria de razão, poderia perdurar sem esta fidelidade, em cada um, à sua história comum, sem este misto de confiança e de gratidão graças ao qual os casais felizes - e há alguns - são tão comoventes quando envelhecem, mais até do que os apaixonados principiantes que, muitas vezes, mais não fazem do que sonhar o seu amor. Esta fidelidade parece-me preciosa, mais preciosa que a outra, e mais essencial para o casal. Que o amor se acalme ou decline é sempre o mais provável e é inútil afligir-se com isso. Mas quer as pessoas se separem ou continuem a viver juntas, o casal só continuará a sê-lo graças a esta fidelidade ao amor dado e recebido, ao amor partilhado e à recordação voluntária e reconhecida deste amor. Fidelidade é amor fiel, dizia, e também o casal, mesmo «moderno», mesmo «livre». A fidelidade é o amor mantido daquilo que aconteceu, amor do amor, amor presente (e voluntário, e voluntariamente mantido) do amor passado. Fidelidade é o amor fiel, e fiel em primeiro lugar ao amor.
Como te jurar amar-te sempre ou não amar mais ninguém? Quem pode jurar os seus sentimentos? E, quando já não existe amor, de que serve manter a sua ficção, os seus encargos ou as suas exigências? Mas isso não é razão para renegar o que aconteceu. Acaso precisamos de trair o passado para amar o presente? Juro-te, não amar-te sempre, mas ser sempre fiel ao amor que vivemos.
O amor infiel não é amor livre: é amor esquecido, renegado, que esquece ou detesta o que amou e que, portanto, se esquece ou detesta a si mesmo. Mas acaso é ainda amor?
Ama-me enquanto quiseres, meu amor, mas não nos esqueças." - André Comte-Sponville 

sábado, 26 de dezembro de 2015



"A polidez não é uma virtude, mas uma qualidade, uma qualidade 
puramente formal. Considerada em si mesma, ela é secundária, irrisória, quase insignificante: comparada com a virtude ou a inteligência, nada é e, na sua deliciosa reserva, a polidez deve também saber exprimi-lo. Mas é bem claro que as criaturas inteligentes e virtuosas não estão dispensadas disso. O próprio amor não deveria dispensar inteiramente o formal. As crianças devem aprendê-lo com os pais, os pais que as amam tanto - embora demasiado, e mal -, e que contudo estão sempre a chamar-lhes a atenção, não para o fundo (quem ousaria dizer ao seu filho: «Tu não me amas o suficiente»?), mas para a forma. Os filósofos discutirão para saber se a forma primeira não é, na verdade, o todo, e se o que distingue a moral da polidez é outra coisa que não uma ilusão. Pode ser que seja tudo uma questão de costume e respeito pelo costume, uma questão de polidez. Mas não creio. O amor resiste, e a doçura, a compaixão. A polidez não é tudo, não é quase nada. Mas também o homem é quase um animal." - André Comte-Sponville

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015



"Virtude é poder, é excelência, é exigência. As virtudes são os nossos valores morais, mas encarnadas, na medida das nossas possibilidades, e vividas em acto: sempre singulares, como cada um de nós, sempre plurais, como as fraquezas que combatem ou corrigem. O Bem em si não existe: o bem está por fazer e a isso chamamos virtudes." - André Comte-Sponville

terça-feira, 22 de dezembro de 2015



"Quando se perdoa, perdoamos a nós mesmos; quando se é indulgente, também o somos connosco mesmos. Aquele que alberga ressentimento, ódio, ânsia de vingança, magoa-se a si mesmo, perde a paz interior e perturba-se mental e emocionalmente. Se não queremos ser prejudicados, não prejudiquemos; se queremos ser beneficiados, beneficiemos. Devemos aprender a perdoar-nos a nós mesmos e perdoar aos outros; a saldar contas connosco mesmos e com os outros, sem carregar nenhum tipo de ressentimento. Em toda a relação afectiva, o perdão é um bálsamo muito eficaz e, sobretudo, quando completado com a clemência e a ternura." - Ramiro Calle



"Também há prazer, e porque há prazer há dor. Há nascimento e há morte, como a noite se segue ao dia, como a sombra segue o corpo. A vida é uma misteriosa viagem que dura oitenta ou noventa anos, ou talvez menos, e se esgota, mas a diferença consiste em que uns fazem essa viagem com harmonia, amor e compaixão, e outros fazem-na com desequilíbrio, sentimentos negativos e desamor." - Ramiro Calle

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015



"O amor traduz-se em comportamentos mentais, verbais e corporais. Aquele que ama sabe dar o seu tempo à pessoa amada, prestar-lhe atenção, escutá-la, não automaticamente, mas com plena consciência, tornar-se eco das suas aflições e preocupações, ser sensível e, se for necessário, dispor dos meios para cooperar. O amor desencadeia a atenção, como a atenção favorece o amor. Convida a outra pessoa a confiar no que ama e sabe da sua lealdade incondicional. O que a pessoa que ama realmente deseja, é que a pessoa amada seja feliz, inclusive se para isso tiver de a perder." - Ramiro Calle


"O antídoto do egoísmo, do apego ou da ambição, é o desapego. O desapego é desprendimento, desinteresse, generosidade. A ambição é um veneno e frustra as energias do amor e da compaixão. Da ambição nasce o sentimento de posse, a cobiça, a avareza desmedida, e assim, como pode haver amor ou compaixão? Quanto mais apegada uma pessoa está, mais sofre, mais dependente é dos objectos do apego, mais sentimento de posse desenvolve. No Dhammapada podemos ler: «Encurralados pela cobiça, estão aterrados como lebres cativas. Acorrentadas com grilhetas, só encontrarão sofrimento.»" - Ramiro Calle 

domingo, 20 de dezembro de 2015



"Quando temos a certeza de que um amigo é o melhor tesouro, é porque é verdadeiramente certo. E que tesouro tão valioso! Um amigo é um companheiro da alma, dá amor e inspira amor, é uma fonte de satisfações, partilha preocupações e ânsias, respeita-nos e devemos respeitá-lo, às vezes sabe mais sobre nós do que nós mesmos, presta-nos atenção e está presente, como a praia recebe a onda. Mas é preciso dar tempo ao amigo, saber cuidar dele, apreciar o afecto que nos oferece e corresponder-lhe." - Ramiro Calle


"Há uma deformação que se verifica em pessoas que tenham obtido grandes êxitos exteriores e que tenho vindo a chamar a síndroma do triunfador fracassado. Fracassado tendo poder, posses, fama, cargos...? Totalmente fracassado. Para começar não tem amor, e muitas vezes, pôs tanta energia no ego e no poder, que perdeu o seu ser e atraiçoou a sua natureza mais íntima. Muito poder, mas talvez não tenha nenhum poder sobre si mesmo. Muita capacidade para manipular, mas nem um único amigo. Muita actividade, muita aparência, mas más relações com os familiares, stress e ansiedade, ausência de amor. E sem amor, de que serve tudo isso? Podemos encher a nossa vida de actividades inúteis e conseguir que na nossa lápide haja um epitáfio onde se lê, «o homem mais activo, mais poderoso e rico», mas sem amor é-se um pobre diabo." - Ramiro Calle

sábado, 19 de dezembro de 2015



"Existe nas pessoas uma certa tendência para criticar, censurar, desqualificar e julgar implacavelmente os outros. É um sinal de falta de entendimento correcto, maturidade, flexibilidade anímica e, sobretudo, de incapacidade para se pôr no lugar dos outros e apreciar objectivamente as suas circunstâncias. É o ego que se interpõe nessa visão clara das circunstâncias alheias e nesse empenho em perder-se em críticas, umas vezes por doentia diversão, outras por inconsciência e outras por reflectida malevolência. Deveríamos deter-nos a ver o que existe por detrás de cada pessoa, a sua história pessoal, as suas dificuldades e circunstâncias adversas, e ganhar assim um pouco mais de clemência e humanidade." - Ramiro Calle


"O sol expande os seus raios de luz e não se preocupa com quem os queira ou não receber, nem deixa de o fazer mesmo que não haja ninguém para os captar. A verdadeira atitude amorosa é como um perfume que se expande em todas as direcções e que não está tão condicionada ao ego, nem portanto ao egoísmo ou à selecção caprichosa. É o amor sem condições e que não conhece posse, manipulação, servidão, domínio ou abjecção; é o amor que se abre e flui, isento do feroz egocentrismo que impera em muitas das supostas manifestações amorosas. Esse amor é simplesmente amor, pois como dizia Rumí, quando escrevia a palavra amor partia-se o bico do lápis, simplesmente porque não é possível encerrá-lo numa ideia, num conceito, numa palavra. É tão grande!" - Ramiro Calle 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015



"Construímos uma sociedade muito perigosa e impiedosa. Não há amor, mas sim desamor. Não há cooperação, mas sim competição, e onde há competição sobra pouco espaço para a compaixão. Quem nos dirige mundialmente? Os mais sábios, lúcidos, cordatos e compadecidos? Geralmente, os mais ofuscados e ambiciosos. A sociedade é o resultado da mente; o mundo é o produto da mente. O inferno está em todo o lado, manifesta-se com desigualdade de toda a espécie, exploração, marginalização dos mais fracos, injustiças atrozes e ódio. O amor e a compaixão são bálsamos, mas o ódio e a violência são poções venenosas. Encontramo-nos na viagem da vida para nos ajudarmos e não há coisa mais importante que o amor." - Ramiro Calle


"(...)
Suponho que amores tardios serão sempre temperados com o passado de cada um...
De outra maneira não poderia ser.
Iremos sempre pensar no passado?
Uma comparação constante,
Seja do paraíso perdido,
seja do inferno oferecido?
Sei que corações grandes têm tendência a ser mais facilmente magoados.
Seja por serem mais facilmente atingidos,
Seja por serem mais difíceis de preencherem. 
Cada um da sua maneira e no seu grau.
E sim… Sou estranho…
A única coisa que sei fazer é dizer o que me vai na alma, e,
Pelo menos tentar,
Ser honesto e sincero em relação a isso.
Quanto ao futuro… não sei.
Não sou vidente.
Se te vou magoar? Não sei…
Não faço promessas.
Se te amo? Não sei…
Ainda não trilhámos o caminho juntos...
Ainda não remámos o barco juntos…
Ainda não cuidámos da flor juntos…
Por isso não sei.
E, como já disse…
Sim… Sou estranho…
Sei que sinto algo.
Por vezes parece luz,
Por vezes parece calor,
Por vezes parece música.
Mas sei que essa canção é tocada a dois…
E é aí que mora a grande questão.
Eu sei.
E tu?
Sabes…?
Não queres saber…?
Não queres dizer…?
Enfim… 
Seja lá o que for…
Lá fora, é noite cerrada, a chuva caí tocada a vento, e
curiosamente faz um ritmo na janela,
Também ele estranho…
Adoro o cheiro a terra molhada.
Sempre me sinto algo mais limpo quando ando à chuva.
Está frio,
e está vento…
Se nada queres,
Liberta-me…
Não receio nem a escuridão,
Nem o frio,
Nem o vento,
Nem a chuva." - @umcromoqualquer

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015



"Até que ponto a atracção física pode desajustar a nossa personalidade, roubar-nos o juízo, aturdir-nos e fazer-nos estar muito abaixo da nossa própria estrutura psíquica! Não há nada que consiga aprisionar-nos mais do que a paixão exacerbada e descontrolada, não vivida conscientemente e que pode converter-nos nuns cabeças-no-ar e roubar-nos todo o autocontrolo e dignidade. Quando alguém põe toda a sua alma e o seu centro noutra pessoa, e esta não lhe corresponde ou o «abandona», então o não-correspondido sente-se como uma alma penada, incapaz de encontrar consolo em lado algum, de maneira alguma, para sua grande perturbação... a menos que encontre estados de paz interior e reconfortante sossego. Se a pessoa que tanto atrai, que magnetiza ou fascina de tal maneira, se afasta, o indefeso enamorado sente-se como que sem alma, sem identidade própria, vítima de um sofrimento atroz e incapaz de se dar conta de que é inútil querer que outra pessoa queira estar com alguém, se não o deseja, e que é preciso vergar o ego e recuperar-se a si mesmo." - Ramiro Calle



"Quantos anos tenho?

Tenho a idade em que as coisas são vistas com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a acariciar com os dedos e as ilusões se convertem em esperança.

Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma chama intensa, ansiosa por consumir-se no fogo de uma paixão desejada.
E outras vezes é uma ressaca de paz, como o entardecer numa praia.

Quantos anos tenho?

Não preciso de um número para marcar, pois os meus anseios alcançados, as lágrimas que derramei pelo caminho ao ver as minhas ilusões despedaçadas…
Valem muito mais que isso

O que importa se faço vinte, quarenta ou sessenta?!
O que importa é a idade que sinto.
Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pelo caminho, pois levo comigo a experiência adquirida e a força dos meus anseios.

Quantos anos tenho? Isso a quem importa?
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e o que sinto." - José Saramago

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015



"Eram dois jovens que sentiam um profundo e imenso amor. Tinham decidido viver juntos, mas tinham medo que a convivência pudesse malograr ou diminuir o seu amor apaixonado. Por isso, decidiram ir visitar um homem muito velho e que tinha fama de sábio. Vivia num bosque, e os jovens, de mão dada, apresentaram-se diante dele e disseram:
- Venerável sábio, tomámos a liberdade de te incomodar porque o nosso coração está confuso. Necessitamos dos teus conselhos. 
O ancião olhou-os demoradamente. No seu rosto enrugado ressaltavam uns olhos belos e compreensivos. Um leve sorriso brilhou-lhe nos lábios e concordou com a cabeça, pausadamente, como se convidasse os jovens a exprimirem-se.
- Amamo-nos tanto - disse a jovem -, que queremos viver juntos, mas temos medo. Gostaríamos de passar toda a vida na companhia um do outro, mas sabemos que nem sempre é fácil e por isso procurámos o teu conselho.
O ancião apercebeu-se de que estavam profundamente ligados um ao outro. Comoveu-o essa paixão que parecia impregnar aqueles corpos tão jovens e tão esbeltos.
- Eu não faço outra coisa a não ser dedicar-me à meditação - disse o sábio -, mas quero ajudar-vos, claro que sim. Farão o que vos disser?
- Naturalmente - disseram os jovens em uníssono.
O ancião, dirigindo-se ao jovem, disse:
- Vai às terras do norte, e ali encontrarás um pico que se destaca sobre os outros, e é a morada de formidáveis falcões. Apanha o mais poderoso, sem o magoares, e traz-mo.
Depois disse à jovem:
- Tu, minha boa amiga, deves dirigir-te às terras do sul e ali verás um pico que sobressai dos outros, e é a morada das mais belas e intrépidas águias. Apanha o maior exemplar e, sem o magoares, traz-mo.
Os jovens entrelaçaram-se num sentido e amoroso abraço, e depois cada um partiu na sua direcção. Foram semanas difíceis de separação, mas cada um deles conseguiu o melhor exemplar de cada espécie. Voltaram para o bosque onde vivia o velho sábio e mostraram-lhe o falcão e a águia.
- Agora - disse o ancião -, quero que atem o falcão e a águia pelas patas. Surpreendidos os jovens assim fizeram, sem entender as intenções do sábio. 
- Agora peço-vos que observem com muita atenção e que nunca esqueçam o que virem.
O falcão e a águia, com as patas atadas, tentaram voar, mas falharam a tentativa repetidamente. Depois de várias e inúteis tentativas, começaram a picar-se violentamente entre si. 
O ancião perguntou:
- Estão a perceber?
Fez-se um perfeito silêncio durante uns instantes e o sábio acrescentou:
- Nunca se esqueçam do que viram. Vocês são como um falcão e uma águia, mas se se atarem, em vez de darem um ao outro as asas da liberdade e se respeitarem, serão como estes magníficos exemplares, que não só não conseguem retomar o voo, como se querem destruir mutuamente. Para que o amor prevaleça terão de se amar muito, sim, mas sem nenhuma espécie de exigências e entraves.
Os dois jovens olharam para o ancião imensamente gratos, e depois olharam-se entre si, para a seguir se fundirem num intenso abraço, mas sabendo que se queriam que o seu amor perdurasse para toda a vida, era necessário «voarem» juntos, mas não presos um ao outro.

Não se trata de estar apenas apaixonado, mas sim de amar, e não só de amar, mas de saber exercer esse amor e cuidá-lo como o mais valioso dos tesouros, como a mais esplêndida das orquídeas. O verdadeiro amor não é para criar correntes, mas sim asas de liberdade; não é para limitar, mas sim para expandir. Quando se estabelecem limites e se liberta o sentimento de posse, então esse amor acaba por diminuir e gerar o desamor." - Ramiro Calle
  


"Compromete-te contigo antes de te comprometeres com mais alguém. Pára de fugir por medo daquilo que te atrai e agrada. Dá sentido à falta de sentido que sentes por algumas coisas antes que seja tarde de mais para poderes sequer vê-las. Faz de tudo para remover esse aperto no peito, porque um dia vais erradamente acabar por acreditar que faz parte de ti. Abre o coração e deixa entrar a alegria. Lembra-te que a tua missão começa com a atitude de te sentires merecedor de procurá-la. Olha para quem te tornaste e percebe se queres continuar a sê-lo. Pensa em quem gostarias de ser e começa a tomar decisões nessa direcção. Compreende o que tens vindo a perder e faz-te ao caminho, porque a verdade é que não tens nada para além daquilo que atrais com as tuas escolhas." - José Micard Teixeira

terça-feira, 15 de dezembro de 2015



"Devemos manter-nos fora do alcance dos que nos magoam, porque se o permitirmos uma e outra vez, deveríamos trocar o «magoam-me» por «magoo-me». Devemos saber proteger-nos e zelar por nós mesmos, mas os sentimentos de ódio, rancor e ira, não fazem outra coisa a não ser manter-nos ao alcance do que esses sentimentos nos despertam e causar-nos mais dor. Temos de ser mais caridosos connosco mesmos e aprender a amarmo-nos sem egocentrismo e consolidar uma óptima autovalorização. Todas as relações livremente escolhidas devem ter como objectivo a cooperação, a ajuda mútua e serem deleitosas. Odiar é um péssimo negócio, precisamente porque continuamos a sofrer pela pessoa que odiamos. Para superar o rancor, o correcto entendimento e o controlo do pensamento são uma grande ajuda. É mais forte, equilibrado e consistente aquele que não se deixa manchar por emoções negativas, porque assim mantém uma mente mais clara e a acção torna-se mais certeira." - Ramiro Calle


"Tudo aquilo que abraças com paixão fica para sempre como parte de ti mesmo. Quanto mais acreditas na felicidade, mais destinado estás a encontrá-la. Sempre que te sentires só, procura ir ter contigo antes de ires ter com qualquer outra pessoa. Em tudo na vida tens sempre uma alternativa, nem que seja apenas provisória. Ama-te sem parar, porque se parares vais morrer por falta de amor. Quando te tornares cruel com os outros, percebe que é porque te cansaste de sê-lo apenas contigo. Quando pensares que sabes muito, vira tudo do avesso para perceberes como ainda sabes tão pouco. Escolhe fazer tudo com paixão, senão nunca irás mostrar quem és, mas unicamente quem te tornaste. Quando quiseres conhecer o verdadeiro carácter de alguém, fala-lhe das tuas fragilidades e, independentemente de tudo, estejas aonde e com quem estiveres, tem sempre em conta que a felicidade é a verdadeira e única condição da tua vida." - José Micard Teixeira

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015



"Mesmo que se repare naquilo que não nos possa ser especialmente agradável na pessoa amada, isso não se torna motivo de conflito, se se assume conscientemente e com amor e se é tolerante. Nem tudo nos pode agradar na pessoa querida, como nem tudo lhe pode agradar a ela, nem é possível agradarmos a toda a gente, e pretendê-lo seria uma atitude narcisista exacerbada. A aceitação consciente de nós mesmos e dos que amamos, é sinal de maturidade e, inclusive, se vemos os seus «defeitos», integramo-los sem criar tensão nem aversão e assim, ao não gerar conflito, acabamos por não os ver." - Ramiro Calle


"Somos aquilo que sentimos e percebemos. 

Se estamos zangados, somos a raiva.

Se estamos apaixonados, somos o amor.

Enquanto sonhamos, somos o sonho. 

Podemos ser qualquer coisa que quisermos, mesmo sem uma 

varinha mágica." - Thich Nhat Hanh

domingo, 13 de dezembro de 2015



"As emoções positivas, construtivas e cooperantes devem prevalecer sobre as negativas, destrutivas e não solidárias. A emoção é uma força muito poderosa que é preciso saber administrar e processar; o sentimento deve limitar-se à compaixão e à benevolência. Exigi-se uma atitude de equanimidade, quer dizer, de ânimo estável, firmeza mental, visão lúcida e procurar evitar reacções desmedidas de apego e aversão e juízo parcial e demasiado subjectivo. No verdadeiro amor, não amamos somente uma criatura pelo prazer que nos dá, mas por ela mesma; não nos é grata só quando encaixa nos modelos, mas porque a apreciamos por ela mesma. O amor é uma actividade muito mais solvente e permanente do que a paixão, que frequentemente fixa-se na forma e rege-se por prazeres sensoriais e energias de atracção. Na paixão, às vezes aprecia-se mais o que parece ser do que o que é e não se chega a prestar atenção, às vezes nem sequer a descobrir, as verdadeiras necessidades da outra pessoa. Se não se descobrem, como se pode prestar-lhes atenção?" - Ramiro Calle 


"O amor não é um consolo, é luz.
Segredos de um sábio desconhecido para que os seus sonhos se cumpram:
- Evite todas as fontes de energia negativa, quer sejam pessoas, lugares ou hábitos.
- Considere as coisas sob todas as perspectivas.
- Goze a vida hoje: o ontem já se foi, o amanhã talvez nunca chegue.
- A família e os amigos são tesouros ocultos: desfrutes destas riquezas.
- Siga os seus sonhos.
- Ignore aqueles que tentam desanimá-lo.
- Deite mãos à obra.
- Continue a tentar, por mais difícil que pareça, tornar-se-á fácil.
- A prática é o caminho para a perfeição.
- Os que desistem nunca ganham, os que ganham nunca desistem. 
- Leia, estude e aprenda sobre todas as coisas importantes da vida.
- Deixe de tentar prever o futuro.
- Deseje atingir os seus objectivos mais do que tudo no mundo.
- Procure a excelência em tudo o que fizer.
- Não perca de vista os seus objectivos e lute por eles!" - Allan Percy

sábado, 12 de dezembro de 2015



"É necessário aprofundar a matéria, naquilo que nos faz sentir e, ao mesmo tempo, é a nossa fronteira material em relação ao mundo: os nossos sentidos e, em especial, o manto com o qual sentimos fisicamente a vida: a pele. 
Sabemos da importância da ternura para a nossa saúde mental, emocional e física. Aproximando-nos ainda mais ao nosso corpo, a nossa Boa Vida constrói-se também a partir da atitude de cuidado e amor em relação ao outro que se manifesta no simples gesto da carícia. Porque acariciar e ser acariciado não é só um prazer, é também uma necessidade para o nosso bem-estar, equilíbrio e desenvolvimento. As carícias são uma linguagem rica e sofisticada. Um extraordinário código de comunicação, tão eloquente ou mais que as palavras, já que nos permitem aproximar-nos do outro e crescer como seres humanos na expressão do amor.
Há carícias que consolam e há as que dão alento. Outras aliviam, algumas reconhecem, há ainda as que provocam o desejo. Há carícias vestidas de paixão e há aquelas com sabor de amizade e ternura. As carícias expressam um vasto universo de significados: gratidão, compaixão, esperança, reconciliação, cumplicidade, perdão. Porque surgem tanto do instinto mais arcaico que procura o contacto com o outro para se saber protegido, como da expressão da consciência mais elevada e de entrega ao outro.
Precisamente porque na carícia convive o animal e o humano, recorda-nos que somos pele, matéria, mas também nos abre a porta para momentos de transcendência. Talvez por isso Paul Valéry dizia que o mais profundo que temos é a pele: a recordação dos mimos e das cantilenas da mãe; dos abraços do pai; dos beijos e carícias do ser amado; o tacto da pele dos nossos filhos fazem parte das memórias mais valiosas que nos acompanham. Também a carícia que a natureza nos oferece: o tacto da terra, a casca da árvore, os pés sobre a erva, a água, o pelo do cão, os passos na areia... Qualquer um deles relaxa-nos, desperta a nossa paz interior e alegria porque nos remete para o essencial." - Alex Rovira  


"Eram dois magníficos amigos que se conheciam desde crianças e eram inseparáveis. Viviam numa remota localidade da Índia e, certo dia, passou por ali uma caravana onde viajava uma lindíssima bailarina. Sentiu-se muito atraída pelos dois jovens e decidiu ficar uma temporada na localidade. Além de ser muito bela, era muito amável e solícita. Para os jovens, era altamente sugestiva e acabou por lhes roubar o coração. Achavam-na uma criatura adorável e ficavam enfeitiçados quando a mulher dançava diante deles. Durante duas semanas, os dois amigos sentiram-se encantados por desfrutarem da companhia daquela mulher fascinante. Começavam a amá-la profundamente e ela também era muito amorosa com eles. Foram semanas de paixão e alvoroço, mas um dia a bailarina disse-lhes que tinha de seguir viagem e ir a outros lugares para continuar a bailar. Já antes disso, um dos amigos tinha dito ao outro:
- Vivo atormentado pela ideia de um dia podermos ficar sem ela.
- Antes ou depois - retorquiu o amigo com calma - todos nós ficamos sem nada do que temos.
E o momento tão temido por um deles, inevitavelmente chegou. A amada bailarina partiu. Um dos amigos estava realmente desfeito, mas o outro sentia-se muito bem, pelo menos aparentemente. O amigo angustiado disse-lhe:
- Estás a ver? Vivia atormentado enquanto ela estava porque temia que um dia nos deixasse. Agora sinto-me verdadeiramente desolado, mergulhado na amargura. E tu? Como te sentes tu?
O amigo respondeu:
- Eu? Muito bem.
- Mas, como é possível? Perdeste, como eu, uma mulher maravilhosa, incomparável, de grande beleza por fora e por dentro. Que criatura inigualável!
O amigo disse:
- Reflecte um pouco comigo. Antes dela aparecer na minha vida, eu sentia-me muito bem. Ela foi como uma prenda maravilhosa quando apareceu na minha existência, e eu continuava a sentir-me muito bem. Depois ela partiu e eu continuei a ficar como antes da sua chegada, senti-me bem enquanto esteve connosco e sinto-me bem agora que partiu. O destino trouxe-ma e o destino a levou. Sinto-me, certamente, muito bem." - Ramiro Calle  

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015



"O remorso é o mesmo que um cão morder uma pedra: uma parvoíce.
O valor do que fazemos e sentimos está em função da sua utilidade. Se algo pode ser mudado no presente, vale a pena investirmos todo o nosso esforço. O problema é quando somos consumidos por algo que fizemos no passado e que já não tem retorno.
Na opinião do mestre vietnamita Thich Nhat Hanh:
«Ao pensarmos no passado podemos ter sentimentos de arrependimento ou de vergonha, e ao pensar no futuro sentimentos de desejo ou de medo. Mas todos esses sentimentos surgem no momento presente e afectam-no. Na maior parte das vezes, o efeito que causam não nos ajuda nem a ser felizes, nem a sentirmo-nos satisfeitos. Temos de aprender a enfrentar esses sentimentos. O que é mais importante de reter é que o passado e eo futuro encontram-se no presente e, se nos ocuparmos do momento presente, também poderemos transformar o passado e o futuro.»
Por conseguinte, em vez de morder uma pedra, é melhor que nos perguntemos o que podemos fazer aqui e agora, com o que temos e o que nos resta, para melhorar a nossa vida." - Allan Percy


"Há gente que ao dizer uma só palavra ilumina a ilusão e os roseirais: que apenas ao sorrir entre os olhos nos convida a viajar por outras zonas, nos faz percorrer toda a magia. Há gente que apenas ao dar a sua mão quebra a solidão, põe a mesa, serve o jarro, coloca as grinaldas, que ao pegar numa guitarra faz uma sinfonia interior. Há gente que apenas ao abrir a boca chega a todos os limites da alma, alimenta uma flor, inventa sonhos, faz cantar o vinho nos copos e por aí fica como se nada fosse. E vai~se pela vida como noivo desterrando uma morte solitária pois sabe que ao dobrar a esquina há gente que é assim, tão necessária." - Hamlet Lima Quintana

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015



"Quando há bons sentimentos, inocência e carinho espontâneo, surge uma atmosfera descontraída e de alvoroço, ausente de artifícios, solenidade ou atitudes rígidas. O amor e o contentamento caminham ombro a ombro, daí que o amor seja uma fonte de alvoroço e, ao mesmo tempo, o que está contente e satisfeito consigo mesmo, esteja mais predisposto a amar e a dar o melhor de si mesmo. O amor não nasce da mente calculista, dos padrões ou modelos, das doutrinas fossilizadas ou pontos de vista estreitos, mas de um coração terno e sensível." - Ramiro Calle


"A melhor maneira de começar o dia é pensar, ao levantarmo-nos, em fazer pelo menos uma pessoa feliz antes do anoitecer.
Seguindo ainda o tema dos livros que abordam a felicidade, A Viagem de Heitor ou a Procura da Felicidade, de François Lelord, conta a história de um jovem psicoterapeuta françês cujo consultório era frequentado por uma clientela fiel e selecta.
À primeira vista, a posição de Heitor parecia invejável; porém, ele não era feliz. Ao compreender que a sua infelicidade se devia, precisamente, ao facto de não conseguir fazer felizes os seus pacientes, apercebeu-se de que, por mais riquezas que possuíssem e mais prazeres que desfrutassem, nunca ninguém estava satisfeito consigo próprio. Isto levou Heitor a colocar-se várias questões:
Porque não somos capazes de apreciar a vida que temos e passamos o tempo todo a sonhar com uma vida melhor?
Será que a chave da felicidade está no sucesso material? Não estará antes nas relações com os outros?
A felicidade depende realmente das circunstâncias ou do modo de vermos as coisas?
Para averiguar o que fazia as pessoas felizes, partiu então numa longa viagem pelo mundo fora tentando encontrar o verdadeiro segredo da felicidade.
Entre as muitas conclusões a que chega, uma é especialmente simples e iluminada: «A felicidade consiste em fazer os outros felizes.»" - Allan Percy 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015



«Não há mais morte que a ausência de amor.» - Rene Barjavel

"A ternura encontra também um espaço para desenvolver o seu extraordinário valor nos momentos de sofrimento, tristeza, abatimento, dor, desespero, infelicidade ou adversidade. A mão que o acaricia acompanha-o, a presença firme e solidária perante a injustiça, o telefonema ou a mensagem que em poucas palavras se transforma num apoio são actos eloquentes de ternura. Expressar afecto, saber ouvir, atender às preocupações e problemas do outro, compreender, acarinhar, saber cultivar o detalhe, acompanhar, estar física e animicamente no momento adequado são actos de entrega generosa e espontânea, plenos de valor e significado, criadores de momentos de Boa Vida. No amor não há nada que seja pequeno. Esperar as grandes ocasiões para expressar a ternura leva-nos a perder as melhores oportunidades que o quotidianos nos oferece para dar a saber ao ser amado o quão importante é para nós a sua existência, a sua presença, a sua companhia. É no pequeno gesto pleno de sentido que se manifesta a ternura. Já o dissera há mais de dois mil anos o poeta latino Publio Virgílio Marão: «O amor tudo vence.» É verdade, e se é possível, ainda mais, é-o através da ternura." - Alex Rovira


"Um discípulo dirigiu-se ao mentor para lhe perguntar:
- Que compreensão aflora na consciência clara?
O mestre olhou-o fixamente e disse-lhe:
- Meu querido, aflora a compreensão de que se te magoo, magoo-me; se te ajudo, ajudo-me; se te amo, amo-me.

Era o Buda quem dizia: «Quando cuidas dos outros, cuidas de ti mesmo; quando te proteges a ti mesmo, proteges os outros.» Não há a menor dúvida. Assim como nos sentimos, assim nos relacionamos. Quanto mais achamos resolvidas as nossas ambivalências emocionais e os nossos conflitos internos e melhor nos sentirmos connosco mesmos, mais preparados estaremos para estabelecer laços afectivos saudáveis e não de dependência, ânsia de domínio ou simbiose, mas de saudável e fecunda interdependência. Se nos fosse possível diminuir o ego e desenvolver uma genuína compaixão, tomaríamos consciência lúcida de que assim como cada um de nós deseja a felicidade e não o sofrimento, o mesmo se passa com os seres sensíveis, e que por isso temos de procurar a felicidade e evitar ferir qualquer criatura; mais ainda, interiorizaríamos que, ao ferir os outros, nos ferimos a nós mesmos, porque formamos todos parte de uma sinergia. Da compreensão clara surge a compaixão; do entendimento correcto, brota a benevolência; da inteligência primordial sobrevém o amor." - Ramiro Calle  

terça-feira, 8 de dezembro de 2015



"Tu tens o teu caminho. Eu tenho o meu caminho. Quanto ao caminho correcto e único, é algo que não existe.
Um conhecido poema de Robert Frost diz:
«Dois caminhos divergiam num bosque, e eu, 
eu segui o menos percorrido, e isso mudou tudo.»
Na mesma linha de pensamento, M. Scott Peck dizia, em O Caminho Menos Percorrido, que nada é fácil quando se sai da rota traçada: «É humano - e sábio - recear o desconhecido, ficar pelo menos um pouco apreensivo ao embarcar numa aventura; mas só com as aventuras aprendemos coisas importantes.»
O seu livro explica que o crescimento pessoal é uma árdua e complexa tarefa que dura toda a vida, um caminho no qual não existem demasiados atalhos porque basicamente é traçado, passo a passo, pelas próprias pegadas do caminhante. No entanto, nesta forma de nos dirigirmos rumo ao desconhecido existe sabedoria e realização: «É muito provável que os nossos momentos mais sublimes aconteçam quando nos sentimos profundamente abatidos, infelizes ou insatisfeitos. Isto porque é somente nestes momentos que, empurrados pela insatisfação, somos capazes de sair do trilho conhecido e começar a procurar respostas mais verdadeiras em outros caminhos.»" - Allan Percy


«Nada é pequeno amor. Aqueles que esperam as grandes ocasiões para provar a sua ternura não sabem amar.» - Laure Conan

"Se há algum elemento de beleza que dê sentido à vida e faça com que esta seja agradável é, sem dúvida, a ternura, já que é a expressão mais serena, bela e firme do amor. É o respeito, o reconhecimento e o carinho expressado no gesto, no detalhe subtil, no presente inesperado, no olhar cúmplice ou no abraço sentido e sincero. Graças à ternura, as relações afectivas criam as raízes do vínculo, do respeito, da consideração e do verdadeiro amor. Sem ternura é difícil que o amor do casal prospere. Além disso, é graças à ternura que os nossos filhos recebem também um apoio emocional fundamental para o seu desenvolvimento como futuras pessoas. 
Ao que tudo indica, as recordações que mais nos acompanham nos últimos instantes da nossa vida não têm a ver com momentos de sucesso, de pompa e circunstância, mas, antes, com experiências onde o que acontece é um encontro profundo com um ser amado, um momento de intimidade serena pleno de significado: palavras de gratidão, carícias, olhares, um adeus, um reencontro, um obrigado, um perdão, um amo-te. Compaixão, sentimento partilhado, intimidade vivida de uma serenidade despida. São estes instantes os que ficam gravados na memória graças à luz da ternura que revela a excelência do ser humano através do cuidado, do respeito e do afecto." - Alex Rovira

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015



"Se há algo de que este mundo precisa urgentemente, é de amor. Será o único antídoto eficiente para conseguir vencer a cobiça cada vez mais desmedida, o ódio, a raiva e o ressentimento. O amor é a única força capaz de transformar uma sociedade de violência e desigualdades, numa sociedade onde reine o sossego e a fraternidade. O amor é a energia que aproxima as pessoas, as comunica e harmoniza, as anima e conforta, as torna receptivas às necessidades alheias. É uma actividade emocional muito intensa, uma tendência afectiva que surge do mais íntimo e profundo de cada um. Segue as suas leis muito especiais e, às vezes, bem diferentes das do pensamento conceptual e binário; tem as suas regras e, simultaneamente, não tem nenhuma. Perguntei a um mestre indiano o que era o amor e ele disse: «O amor é o amor.» Mas há amor cego e que, inclusive, se pode tornar destrutivo, porque deixa de ser o verdadeiro amor, e há amor com sabedoria, consciência e lucidez. Não se deve confundir paixão com amor, mas é possível a paixão com amor, e então alcança uma dimensão infinitamente mais rica, fiável e reveladora. Frequentemente, a paixão sem amor perturba, pode impedir o entendimento e perturbar a consciência, e quando se desvanece, restam apenas cinzas na relação afectiva. Como é diferente a paixão com amor! Também se deve diferenciar entre a sexualidade sem amor e a sexualidade amorosa ou com amor, esta última muito mais enriquecedora e plena.
Qualquer um é capaz de dizer que ama, mas contam-se pelos dedos os que amam verdadeiramente. É possível aprender a amar mais e melhor? Naturalmente que sim, mas não se trata apenas de uma firme determinação ou acto de vontade, sendo necessário exercitar-se para seguir esse caminho do amor mais genuíno, desinteressado, incondicional e à luz da consciência. Muitas vezes, sob o pretexto do amor, o ser humano encobre as suas tendências mais obscuras, inclusive as mais egoístas e destruidoras. Para que o amor possa eclodir com todo o seu vigor e autenticidade, muitas vezes é preciso modificar muitas atitudes e, sobretudo, amadurecer emocionalmente e tornar-se menos egocêntrico, possessivo e egoísta." - Ramiro Calle  


"Aquele que vê mal, vê sempre demasiado pouco; aquele que ouve mal, ouve sempre demasiado.
No poema «Novos Motivos pelos Quais os Poetas Mentem», Hans Magnus Enzesberger critica o uso que os seres humanos fazem da linguagem, que nem sempre é usada para dizer a verdade. Diz, por exemplo, que «o instante em que a palavra "feliz" é pronunciada nunca é o instante da felicidade». Talvez porque a felicidade exija que entreguemos todos os nossos sentidos para experienciá-la, no momento em que queremos capturá-la, rotulá-la, analisá-la, estamos a perdê-la.
Sobre este tema, declara Eric Hoffer: «A busca da felicidade é uma das principais fontes de infelicidade», e o ditado popular aconselha: «Se quiseres ser feliz, como dizes, não analises.»
Quando intelectualizamos as vivências e procurarmos ver nelas uma intenção, estamos a perder a essência das mesmas. É por isso que Nietzsche nos recorda que às vezes ouvimos apenas aquilo que queremos ouvir, porque o burburinho das nossas ideias pré-concebidas sobrepõe-se à realidade, que é sempre mais simples do que a opinião que formamos sobre ela. 
O exercício do filósofo - e de todas as pessoas que queiram pensar com clareza - é corrigir a sua visão para ter a máxima amplitude de perspectivas e não ceder às opiniões fáceis." - Allan Percy 

domingo, 6 de dezembro de 2015



"Sem dúvida que haverá pessoas e entidades que continuam a defender que não é importante aprender a «comunicar», a «relacionar-se com os outros»; que até agora não existiu essa aprendizagem  e cada um foi fazendo o seu caminho como pôde. Inclusivamente é possível que parte dessas pessoas seja a mesma que depois telefona aos psicólogos para que leccionem cursos de Comunicação e Motivação nas empresas. Mas dirão que isso é diferente, que no trabalho se tudo mede e avalia, e aí sim, está comprovada a incidência que a comunicação tem nos resultados empresariais. 
Se a comunicação se considera tão imprescindível, por que razão não está incluída nos currículos escolares? Tratámos de pôr ao alcance de «todas as pessoas» os segredos das emoções, os caminhos da comunicação e os sentimentos que subjazem nas relações humanas. 
Há pessoas que aprenderam a comunicar, a relacionar-se e hoje desfrutam de uma realidade muito diferente, na qual elas dirigem as suas vidas. Em conclusão, se aprendermos a comunicar, aprendemos a ser felizes. E isso dependerá apenas de nós. Por outro lado, como dizia Martin Luther King: «Ninguém pode montar em cima de nós se não encurvarmos as costas.»
Cada um constrói o seu próprio rumo. Os recursos expostos emcheram-nos a mochila com os melhores «mapas». O caminho está cheio de curvas, encostas, pedras e até um ou outro precipício; mas temos forças de sobra, aptidões e inteligência emocional para os superarmos. Como diz um provérbio chinês: «Não há que ser forte, há que ser flexível.»" - Maria Jesus Alava Reyes


«Os nossos momentos de maior lucidez costumam ter lugar quando nos sentimos profundamente incómodos, infelizes ou insatisfeitos. É nestes momentos, levados pela nossa insatisfação, que saímos do caminho trilhado e começamos a explorar maneiras diferentes de fazer algo ou respostas mais certeiras.» - M. Scott Peck

"Um velho professor que conheci questionava sempre os seus alunos quando estes se queixavam de que uma situação difícil lhes havia surgido na vida: «Se dessa situação pudesses aprender algo útil, positivo, que te fizesse crescer como pessoa, o que seria?» Esta é a pergunta. E cada um pode encontrar múltiplas respostas a cada desafio que a vida nos lança. Já que do mesmo modo que não há dia sem noite, nem vida sem morte, nem luz sem escuridão, também não há crise sem possível aprendizagem, dor sem possível aprendizagem, revés sem oportunidade.
Porque há momentos em que a vida se desnuda de repente, os acessórios desaparecem, a sala da qual somos espectadores fica completamente vazia. Num instante, os planos realizados apagam-se e uma montanha de falsas preocupações fica esquecida. Isto acontece naquelas situações limites que nos recordam a fragilidade da vida, a pequenez da nossa existência, a nossa radical impotência perante o grave acidente que acaba de ocorrer, a morte ou o suicídio inesperado que acaba de levar alguém fora de tempo (ou quando ninguém o esperava), ou perante a doença que subitamente coloca contra a parede, e com poucas opções de sobrevivência, o ser amado. 
Toca o telefone e, de repente - mesmo antes de pronunciar «estou» -, antes de receber a resposta, sentimos que qualquer coisa não está bem. Pode até chegar a sentir-se o nó na garganta de quem está do outro lado do fio. Vive-se esse silêncio frio, inquietante, carregado de tristeza e de angústia, de quem tem a missão de dar uma notícia e não sabe como nem por onde começar. O telefonema anuncia a morte de um ente querido, de um amigo, de um conhecido ou de alguém que se conheceu há pouco, que estava ao nosso lado. Seja qual for a mensagem, se for uma má notícia, e tem como denominador comum que a vida acaba de sofrer um profundo abalo ou está a ponto de acontecer em algum lugar, é uma ruptura que não estava prevista no guião que uma pessoa tem.
O silêncio, então, apodera-se de tudo. Ao espanto abismal, a uma perplexidade que parecia vir de um terrível pesadelo do qual se desperta, segue-se a negação da realidade e dizemos: «Isso não pode ter acontecido, não pode ser verdade.» Estas bofetadas podem afundar-nos ou despertar-nos. Nesse momento, caem pelo seu próprio peso muitas preocupações estúpidas, falsas, quimeras absurdas; e, então, descobrimos o quão importante é aproveitar cada instante que se tem para cuidar daqueles que se amam, cuidar da sua saúde, mostrar o afecto, cultivar a ternura, apoiá-los construtivamente. E de uma maneira muito especial, é aí que descobrimos a importância de deitar fora o lixo ou o acessório, andar leve de bagagem, para viver definitivamente em paz. Muitas escravidões se desvanecem perante a nudez a que nos submete a morte próxima, inesperada ou a sua ameaça.
Não é resignação; também não é abandono. O pontapé que recebemos pode despertar-nos, de repente. Talvez seja uma sobredose de senso comum pelo contacto com o real, com o que há de mais cru, com o primário. Então, a existência ganha um valor extraordinário, radical, luminoso, total. A realidade desnuda-se e uma pessoa tem uma excelente oportunidade para valorizar o lado sagrado da vida. Refiro-me ao que lhe dá sentido: os bons amigos, as pessoas que amamos e por quem nos sentimos amados, os projectos que valem a pena. As boas pessoas e as boas causas, sem dúvida." - Alex Rovira 

sábado, 5 de dezembro de 2015



"Quantos homens há que saibam observar? e entre o pequeno número dos que sabem, quantos há que se observem a si próprios? «Cada um é o mais distante para si mesmo.»
A viagem que nos leva ao interior de nós próprios é sempre a mais longa e difícil, pois implica dar muitas voltas para encontrar algo que estava tão próximo que éramos incapazes de ver.
Não é por acaso que entre as três perguntas existenciais clássicas - quem és, de onde vens, para onde vais - venha em primeiro lugar a identidade, pois quem não sabe quem é dificilmente terá consciência do que deixou para trás ou do destino que tem à sua frente.
Procuramos responder à pergunta «quem somos» explicando qual a nossa profissão e o cargo que desempenhamos, mostrando o carro que conduzimos ou até mesmo declarando que religião praticamos, mas estes são elementos tangenciais da verdadeira essência de uma pessoa. 
Tal como os nossos sonhos nos definem, a identidade de uma pessoa é a sensibilidade que a distingue dos restantes companheiros humanos, a sua marca única no mundo, a sua missão pessoal. 
Descobrir esta missão pode ser o trabalho de uma vida inteira e uma missão em si, mas o simples facto de a procurarmos já nos permite saber para onde vamos." - Allan Percy


"Quando uma pessoa perde a esperança, perde a vontade de viver. Tudo se transforma num esforço, numa pesada carga que nos arrasta até ao desalento e, às vezes, ao desespero.
As coisas não estão a ser fáceis neste começo de século. Muitos pais se sentem profundamente preocupados com o futuro dos seus filhos. O progresso, com frequência, parece ir de mão dada com a destruição. Cada vez se respeita menos a natureza, os animais e, o que é pior, as pessoas. 
Os acordos internacionais não se cumprem, as promessas ficam no ar, as boas intenções não se reflectem na realidade.
Com frequência nos sentimos seres diminutos, quase insignificantes, a quem só resta padecer as consequências de tanta irracionalidade.
Na era das comunicações, curiosamente, a livre informação parece cada vez menos livre e, com frequência, só podemos contemplar o que os outros decidiram que convém que vejamos.
O que devemos fazer então? Afundamo-nos no desespero? Caímos todos na praga do desânimo? Deixamo-nos arrastar pela doença da civilização e do progresso: a depressão?...
Pessoalmente não me inscrevo nessas opções. Mas preocupa-me essa falta de esperança que muitas pessoas sentem; essa espécie de resignação perante o que parece inevitável; essa sensação de pequenez perante o mundo.
Não obstante, espero que estejamos de acordo em que nem tudo está perdido! No meio de tanta destruição também coexiste o melhor da civilização: há crianças com o olhar limpo que encarnarão o futuro, povos que se esforçam por sair da miséria, grupos que tentam ajudar os menos favorecidos, profissionais que oferecem os seus conhecimentos e o seu trabalho de forma altruísta... Concluindo, há pessoas; pessoas cheias de generosidade que encarnam o melhor do ser humano.
Mas, e nós? Voltamos a repetir, que papel nos cabe desempenhar? O que podemos fazer? Não nos afundarmos, não deixar que a desilusão ou o desespero nos arrebatem a alegria e a vontade de viver.
Há coisas sobre as quais temos pouca ou nula capacidade de influência, mas aqui tratamos aqueles aspectos que definitivamente dependem de nós e que nos podem encher de satisfação ou de infelicidade.
O ser humano é um ser sociável. Por muito que alguns se empenhem, por muito bem que nos sintamos connosco, ficaremos ainda mais satisfeitos quando nos sentirmos em «harmonia» com as pessoas de quem gostamos. 
Quando contemplamos alguma coisa que nos maravilha, às vezes parece que não podemos desfrutar dela na plenitude. Nesses momentos sentimos falta das pessoas de quem gostamos mais, e isso diz muito a favor dos nossos sentimentos, mas apesar de tudo, convém que nos acostumemos a desfrutar da maravilha que estamos a contemplar porque, graças ao mais genuíno do ser humano, depois poderemos comunicar essa sensação, podemos transmiti-la a essas pessoas de quem temos saudades, concluindo, podemos partilhá-la.  
A comunicação permite-nos viver o que não presenciámos. Todos os sentidos jogam a nosso favor: os ouvidos que escutam atentamente, os olhos que imaginam o que nos narram, o paladar que se recreia e deleita, os nossos sentidos que sentem no presente, de uma forma intensa, o que ocorreu no passado ou que nos pode esperar no futuro.
As pessoas são diferentes - felizmente. Às vezes podemos ter à nossa volta pessoas com um carácter difícil, ou mesmo pessoas amarguradas ou ressentidas; da mesma forma podemos encontrar colegas invejosos, chefes tiranos, amigos rancorosos, companheiros sentimentais desleais..., mas se dominarmos os segredos da comunicação, seremos capazes de sair airosos de qualquer situação e, o que é mais importante, não nos sentiremos em baixo, porque nos teremos preparado para nos protegermos quando a ocasião o requeira, e teremos aprendido a desfrutar à mínima oportunidade.
A comunicação, para ser boa, começará por nós mesmos. Se nos conhecermos profundamente, se conhecermos os que nos rodeiam, se dominarmos os segredos da comunicação, apesar das circunstâncias sentir-nos-emos bem, e sentir-nos-emos bem porque ficaremos sempre com a sensação de termos agido correctamente. 
A comunicação permite-nos sentir o mais profundo do ser humano. Desfrutar até ao êxtase. Encher-nos de beleza, de cores, de suavidade, de ternura e de humanidade.
Podemos estar decepcionados pelas injustiças que contemplamos pela humanidade que gostaríamos de ver e não vemos, mas jamais perderemos a esperança em nós mesmos. 
Essa esperança é a que nos ajudará a viver, a desfrutar, a lutar quando for necessário, a superar os momentos dolorosos, a não nos resignarmos perante a adversidade.
Essa esperança é a que sempre nos trará a fé de que necessitamos para continuarmos a animar-nos a cada dia, para continuar a gostar e a amar." - Maria Jesus Alava Reyes

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015



«Quando beberes água, lembra-te da fonte.» - Provérbio Chinês

"A gratidão é uma valiosa dádiva que vem da humildade e que ambas nos abrem caminho para uma Boa Vida. Porque a gratidão é agradável, ou seja, convida a amar. Tanto para aquele que a expressa como para aquele que a recebe, a gratidão abre a porta à partilha, ao reconhecimento, à celebração do valor do que se viveu e à presença do outro. Agradecer é reconhecer e integrar. Na gratidão gera-se um duplo movimento. Por um lado, reconhecemos o outro, aproximamo-nos dele num gesto sempre interior e por vezes exterior, manifesto; como a própria palavra indica, ao reconhecê-lo amavelmente, voltamos a conhecê-lo e acedemos a uma nova dimensão da relação que nos une. Por outro lado, quando a nossa gratidão é espontânea e sincera, recebemos aquilo que nos é dado e guardamo-lo dentro de nós. O objecto da gratidão, a partir desse instante, passa a fazer parte de nós. 
A gratidão nasce da consciência e nela a memória desempenha um papel essencial. Por esse motivo, o néscio não é agradecido, uma vez que é incapaz de reconhecer o valor que procede do outro. porque a vaidade não quer saber nada da gratidão. O vaidoso, o narcisista e o egoísta são ingratos. A sua gratidão é, no máximo, interesseira: expressam-na quando esperam favores maiores. Porque aquele que está fechado na sua própria autossuficiência, e nas couraças inconscientes dos seus complexos, não tem memória, não quer tê-la: logo, não quer reconhecer. Não porque não goste de receber, mas porque a gratidão implica manifestar a graça do outro, o que não encaixa na sua equação existencial.
No extremo oposto, o ser humano lúcido pode sentir-se espantado, comovido, por tudo quanto recebe. É assim que se experimenta a gratidão pela vida, pela saúde, pela existência do ser amado, pelo livro que revela, pela paisagem que o comove ou pela recordação que lhe dá sentido. Mas também sente gratidão pelas pequenas coisas que são grandes prazeres: uma conversa amena, um gesto simpático, um olhar cúmplice, uma carícia quase imperceptível mas desejada..." - Alex Rovira


"Uma alma delicada sente-se incomodada ao saber que lhe são devidos agradecimentos; uma alma grosseira, ao saber que tem de os dar.
Quando praticamos a gratidão, reconhecemos interior e exteriormente os benefícios recebidos e procuramos retribuir à vida um pouco do que ela nos deu.
Uma forma de o fazermos é através das palavras. No poema Prazeres, Bertolt Brecht fazia a sua própria lista de agradecimentos, baseando-se em prazeres muito quotidianos:
«O primeiro olhar pela janela ao acordarmos, o livro antigo que voltámos a encontrar, rostos entusiasmados, neve, a mudança das estações do ano, o jornal, o cão, a dialéctica, tomar banho, nadar, música nova, escrever, plantar, viajar, cantar, ser amável.» " - Allan Percy

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015



"Às vezes parece que a chamada sociedade desenvolvida dá claras demonstrações de desorientação e decadência.
De uma forma alarmante, está cada vez mais propagada a crença que considera o trabalho como o eixo principal da nossa existência, como a única coisa que justifica a nossa atenção e os nosso esforços.
Com todo o meu respeito: Que barbaridade! Que maneira de nos confundir! Que forma de desperdiçar a vida!
Há formas de escravidão tão sofisticadas que passam despercebidas. Há poucas coisas piores que a escravidão das nossas mentes, o sequestro da nossa inteligência, o torpor dos nossos sentimentos e a morte da nossa sensibilidade.
Não nos deixemos enganar, somos a espécie mais inteligente mas também a mais frágil. O trabalho engrandece-nos ou torna-nos mais pequenos, segundo os casos, mas nunca pode ou deve substituir aquilo que é mais importante: o nosso desenvolvimento como pessoas.
À margem de crenças religiosas ou costumes culturais, acreditar que a nossa missão é basicamente trabalhar, que devemos dirigir os nossos esforços principais e energias para alcançar objectivos que outros estipularam para nós, que devemos dedicar ao trabalho o tempo que roubamos às nossas famílias, aos nossos amigos, a nós mesmos... constitui um tremendo equívoco. Isto não é progresso, é regressão.
E di-lo alguém que trabalha muitíssimas horas, que desde muito jovem adora o seu trabalho e a sua profissão, mas que não perde a perspectiva de que o tempo mais bem empregue é o tempo que dedicamos às relações humanas, às pessoas que nos rodeiam, à nossa descoberta e crescimento permanentes. A partir de agora, um bom indicador para medir o avanço das diferentes sociedades seria avaliar a capacidade que alcançaram para devolver aos cidadãos aquilo que mais lhes pertence: o seu tempo e, com ele, a sua vida. 
Fazer do trabalho o seu principal baluarte é um erro que cometem supostos triunfadores, muitos aprendizes de executivos agressivos, que acreditam que a sua missão é ganhar o mundo, pois assim poderão chegar ao topo, a essa meta que é uma ilusão, porque nunca lhes proporcionará a autêntica felicidade, nem lhes devolverá a vida que não viveram, nem o tempo que não partilharam.
Felizmente muitas pessoas vêem-no claramente; muitos jovens estabelecem que esse não é o tipo de vida que querem viver.
A chamada sociedade do bem-estar faria muito bem em marcar como objectivo prioritário a devolução desse tempo roubado. O contrário não deixará de ser demagogia ou desculpas que tentam justificar o injustificável.
Em Portugal, neste sentido, estamos muito atrasados. Chegou a hora de tentarmos adiantar-nos e conseguir pelo menos o tempo que a maior parte dos cidadãos europeus tem livre, em que os dias de trabalho, no pior dos casos, não terminam depois das seis da tarde. 
Essa equiparação será uma boa meta para qualquer nação que se preze. O resto, saber preencher esse tempo, empregá-lo naquilo que é mais importante, será a missão e o privilégio de cada um." - Maria Jesus Alava Reyes


«A liberdade supõe responsabilidade. Por isso a maior parte dos homens a temem tanto.» - George Bernard Shaw

"Mais do que o resultado do nosso passado, podemos ser a consequência das nossas decisões no presente, instante a instante. A via, a nossa vida, cria-se através das respostas que damos ao conjunto de circunstâncias que nos cabe viver. Tanto se o fizermos conscientes como inconscientemente, a vida é uma escolha permanente. No entanto, quanto maior for o nível da nossa consciência, maior será a nossa destreza na resposta e, consequentemente, maior qualidade na resposta, no processo e no resultado final. A consciência para escolher, a habilidade em dar as respostas que a vida nos solicita em cada momento, é a «responsa-habilidade». Esta destreza para responder determina em boa medida não só o desenlace dos episódios quotidianos, como também o devir, o nosso futuro, o nosso destino.
Além disso, a responsabilidade dá-nos um grande dom: o de não nos resignarmos, de não cairmos na vitimização e pensarmos que nada podemos fazer. O exercício da responsabilidade como hábito implica pensar e sentir, momento a momento, qual é a resposta que a vida nos está a pedir, em especial quando as circunstâncias são complexas, quando são obscuras ou quando a crise se manifesta. Talvez não haja atitude mais necessária para construir uma Boa Vida que a responsabilidade. Que poderemos fazer, então, para mudar o mundo, o nosso mundo, aqui e agora, e torná-lo mais habitável, mais belo, mais solidário, mais ecológico, mais próspero em todos os sentidos? Simplesmente, sermos responsáveis." - Alex Rovira 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015



"Não é difícil encontrar imitações de homens importantes e, tal como acontece com os quadros, a maioria das pessoas interessa-se mais pelas cópias do que pelos originais.
Às vezes, na vida, ser autêntico significa dizer aquilo que ninguém esperava ouvir. 
T. Senn conta um episódio muito ilustrativo disso mesmo. Foi pedido a um grupo de estudantes que fizessem uma lista daquelas que consideravam ser as Sete Maravilhas do Mundo na actualidade. Apesar da divergência de opiniões, as mais votadas foram as grandes pirâmides do Egipto, o Taj Mahal, o Grand Canyon, etc.
Enquanto os votos eram somados, a professora reparou que uma estudante permanecia calada e não mostrava o que tinha escrito na sua folha de papel, pelo que lhe perguntou se havia algum problema com a sua lista.
- Sim, estou com um pequeno problema - respondeu ela. - Não consigo decidir-me, são tantas!
- Tudo bem, mostra-nos o que escreveste e talvez possamos ajudar-te - insistiu a professora.
A rapariga hesitou antes de começar a ler:
- Penso que as Sete Maravilhas do Mundo são: Ver, Ouvir, Tocar, Saborear, Sentir, Rir e Amar.
Fez-se um grande silêncio na sala de aula, pois estas coisas são tão simples e comuns que normalmente não apreciamos o quão maravilhosas são." - Allan Percy